Sede da Junta de Freguesia de Malcata
José Nunes Martins
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Cartazes de várias festas em Malcata |
Estamos cada dia mais perto das festas de Malcata. Algum dia quando alguém quiser escrever sobre as festas da nossa terra, quando chegar ao capítulo dedicado ao ano de 2023, para além de ficar a saber que as proibições do governo em relação à epidemia covid 19 tinham finalmente sido levantadas, fica também com a pulga atrás da orelha e vai tentar descobrir o estranho desaparecimento de parte das receitas da festa, notícia que correu depressa pela região, deixando os habitantes da freguesia incrédulos e tristes. Tudo tem uma primeira vez…e desta vez, os mordomos não estiveram à altura das e o serviço que voluntariamente prometeram fazer saiu manchado pelo caso das contas da festa. Pessoas, programa, luzes e arcos parece não ter faltado nos dias da festa. A alegria e a boa disposição, os bailes, a garraiada, o bar e as sandes foram servidas e tudo acompanhado de bom tempo.
Foi mesmo no fim que os mordomos sentiram o peso da responsabilidade de organizar bem as festas. E o assunto era mesmo sério, de solução difícil e com forte probabilidade de ficar na história das festas como o grupo de mordomos que não souberam estar à altura das expectativas do povo e das responsabilidades que todos neles depositaram. Parece que, durante a caminhada, alguns mordomos, descontentes com o caminho já percorrido, mostraram o seu desacordo e abandonaram de vez o caminho e os caminhantes. Diz o povo que só erra quem faz alguma coisa; também diz que quem anda acompanhado por um coxo, se não tiver cuidados redobrados e atentos, aprende a coxear como se fosse também coxo. Por isso, não é espanto que chegados ao fim da caminhada (festa), todos se queixaram das pedras e das pequenas falhas nas pernas e na vista. Passados que são estes meses e a nova mordomia andar atarefada na preparação da festa de 2024, ainda não se sabe a verdade e o que realmente aconteceu nas contas da festa de 2023. Também estranho a atitude do povo, nada foi feito para esclarecer o assunto. Nem sequer ouvi ou assisti a uma “defesa da honra” e “transparência” aos responsáveis disto tudo. Dá a ideia que nada de grave aconteceu e que a freguesia gosta das coisas assim, tanto se lhes dá como se lhes deu, querem lá saber o que sucedeu e as consequências que daí possam vir para o futuro. Em Malcata, tudo vai bem, fica tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. Ninguém ousa perguntar no sentido de esclarecer e até ajudar os mordomos da festa deste ano?
A mim já nada me espanta. Um dia em Malcata alguém me disse na cara:
“tu já não és daqui, vai mas é para a tua terra!”
Um sorriso, meia volta e andar à minha vidinha cuidar dos cães que me respeitam e compreendem melhor… mas sou muito teimoso, continuei e continuo a tentar fazer algo que consiga mudar
alguma coisa. É o que estou agora a fazer! Quando a voz me doer, calo a boca.
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Benvinda Nunes |
Cada um de nós é único, é como é e pronto. Eu infelizmente já vivo sem a minha mãe desde 2008. Não me lembro do rosto dos primeiros anos de casada com José Martins, o meu estimado e querido pai. Sei que teve uma infância e uma adolescência bem diferente da minha. Eu fui para a escola e aprendi a ler e a escrever. A minha mãe não deixaram fazer o mesmo, cresceu demasiado depressa e ficou responsável pelos outros seus irmãos e irmãs. E depois de casar, não tinha tempo nem cabeça para não continuar a cuidar da casa, do marido e depois dos filhos e da casa, dos campos, porque o marido sentiu necessidade de fazer o que tantos como os homens da sua idade ousaram fazer, emigrou para terras de França. Quando vinha à aldeia, a minha mãe suspirava de alívio e a alegria, a felicidade reinava na nossa casa.
Como cada mãe é a melhor do mundo, a minha mãe foi mesmo de verdade a minha melhor mãe do mundo. O resto é foguetório, é tentar agradar e no dia seguinte já ninguém se abraça à mãe. Muita fotografia nas páginas do Facebook e muitos bonecos a rir e a festejar um dia que dizem ser especial. Sim, haverá amor e carinho, mas não sei se interiormente o coração de muitos filhos e filhas sentem e vivem um verdadeiro amor pela mãe. Fazer é mais importante e se não der nas vistas, melhor para o verdadeiro amor.
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Cuidar das pessoas é tratar bem os seres vivos |
Já alguém reparou o estado em que deixaram as três árvores junto à
entrada do cemitério?
Para mim é gritante a falta de respeito
pelas árvores e até diria que estamos perante um crime ambiental. Não há um
único ramo digno desse nome e não há sombra que refresque nos dias de calor. É
uma tristeza e um mau exemplo para uma freguesia que se quer afirmar Malcata,
Naturalmente!
Qualquer pessoa sabe que as árvores
são seres com vida, dão sombra, abrigo e ajudam a purificar o ar. Tratar das
árvores é cuidar delas. Não se cortam ramos das árvores de forma tão drástica.
Onde está a copa e porque insistem nestas podas assassinas? Há erros que
acontecem e compreendemos que todos erramos. Mas no que diz respeito a estes
erros de podar árvores nos espaços públicos da nossa aldeia, repetem-se e
ninguém se manifesta. Esta prática e esta tão “carinhosa” forma de cuidar do
património comum, tem de acabar! Será que pensam que lhes estão a dar força e
saúde ao tratá-las assim? Estes procedimentos só podem ser mandados executar
por gente fraca, egoísta, sem coração e irresponsável. Podem até pensar que as
árvores não deviam estar naquele local, ou que não embelezavam a entrada do
cemitério, que tinham interferência no bom funcionamento dos portões de ferro.
São três árvores públicas e fazem parte do património público, logo posso
chamar-lhe um crime contra o património da freguesia e um crime ambiental.
Acabaram por destruir um bem que tinha a função de colorir aquele local onde
estão muitas saudades escondidas. Já aconteceu a mesma tragédia com o chorão
verde do jardim da ponte. Lá continuam os cotos secos e com os cabos eléctricos
a abraçá-los. Será por uma questão de ódio às árvores e os malcatenhos não
temos direito a usufruir das árvores no espaço público?
Deitar árvores abaixo é o que se tem
feito. É um trabalho fácil e rápido e está à vista de todos e passando aquela
ideia de se estar a fazer obra que se veja!
Malditos homens das motoserras!
Foi assim que encontrei as três árvores:
Esta semana tive de
vir à aldeia e tenho aproveitado para arrumar a casa onde viveram os meus pais.
Como tenho uma carrinha tenho mais facilidade de tratar dos assuntos pessoais
fora da freguesia. E é natural passar por vários caminhos e às vezes mais do
que uma vez durante o dia.
Desta vez encontro demasiadas coisas
que me estão a perturbar a mente e não tenho memória de tanta desgraça!
Atribuir responsabilidades das situações à oposição
política está descartada logo à partida, porque
não há oposição. Muito território e muitas estruturas para manter minimamente
em bom estado de conservação e utilização e sem força humana capaz de responder às necessidades .
Mas caros conterrâneos, que viveis durante o ano na aldeia, as situações
anormais encontram-se à vista de toda a gente e não as devem avaliar como normais,
naturalmente são tudo menos isso.
Ora, perante as situações que já vi e
algumas sendo em vias públicas e que pode causar perigo a pessoas e bens, tirei
fotografias para ilustrar o que acabei de afirmar e deixar um aviso às pessoas para pressionar a autarquia a tomar medidas urgentes que resolvam estas perturbações.
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Merece uma visita. |
Este mês comemoramos 50 anos da
Revolução de Abril que tem marcado a História dos portugueses quer vivam no
país ou fora. É uma celebração da libertação do nosso país de um regime
ditatorial para uma democracia participativa. Estes anos que passaram muitos de
nós ainda têm dificuldade em compreender o que aconteceu e alguns ainda têm
saudades dos tempos da “outra senhora”, principalmente do professor Marcelo
Cetano.
Quem se lembra como era a nossa freguesia de Malcata antes do 25 de Abril de 1974?
Imaginem que são realizadores de
cinema e a Junta de Freguesia escolheu-vos para escreverem uma redacção com o
título:
“Como era a minha aldeia até 25 de Abril de 1974?”
Algum de vós aceita o desafio de
relatar a vida nas aldeias portuguesas, como viviam, como eram as casas, as
ruas, o medo das autoridades, o que podiam fazer e o que o Estado proibia…a
alimentação, o vestuário, a educação, a escola primária…a emigração,
as guerras nas Províncias Ultramarinas, etc…e terminar a redação com as
mudanças que o 25 de Abril trouxe à nossa terra nestes 50 anos.
O que aconteceu
também acontece connosco quando passamos por momentos de sofrimento e de perda.
Vemos e não queremos ver, as pessoas andam demasiado agitadas e a realidade de
tudo o que está a acontecer parece um sonho, é como se não estivéssemos a
participar. Sabemos que o levaram para um lugar escuro e descansados porque a
chuva nem os cabelos pode molhar, continua o seu sono profundo. Muitas mulheres
ficam com os lenços de pano completamente encharcados, menos molhados os lenços
dos homens, convencidos que para ser homem não podem chorar. Depois da cerimónia fúnebre todos regressam às
suas casas, aos seus afazeres do costume.
O dia e a noite deste sábado custa a
passar. E a impaciência vai ser tanta que as amigas de Maria combinam ir ao
cemitério verificar se nada foi mexido ou derrubado.
Viram a pedra da sepultura desviada
para o lado, sinal que alguém entrou e apoderou-se de alguma coisa que no dia
anterior lá foi deixada. A certeza é que a pedra foi retirada do seu sítio e
qualquer pessoa entrava e saía. As mulheres entraram e viram que o morto
desaparecera durante a noite. Mas que mistério…fugiram e correram como nunca
tinham conseguido correr até à casa da mãe de Jesus.
- Maria, ó Maria anda cá depressa!
- Ó Maria, despacha-te e vem depressa!
A Maria levantou o testo da panela e
voltou a deixá-lo de maneira a sair os vapores da água do caldo que já estava
quase prontinho. O que quererão aquelas mulheres de mim? O que terá pensado
Maria enquanto desapertava o avental e abria a porta de casa?
- Levaram o teu filho!
- Ai mulher, só tu para nos acalmar,
estamos todas aqui num nervosinho e tão aflitas,
e tu está aí tão tranquila! Vem com nós, levaram Jesus, não o encontrámos no
túmulo!
- Minhas queridas, onde estais com a
cabeça? Porque estais assim tão aflitas e surpreendidas? Lembrai-vos das
conversas destes últimos dias e ficareis tranquilas como eu estou. Olhai para
mim, a comida está ao lume e espero por Jesus para nos sentarmos à mesa do
costume para comer. Ide mas é à vossa vida, ide amanhar as vossas casas e
tratar dos vossos homens e filhos. Se eu não acreditasse no meu filho,
quem vai acreditar? Sempre achei que era especial e ide porque eu ainda tenho
mais coisas a preparar para a ceia. De qualquer forma, obrigadas pela vossa
preocupação.
- Madalena, deixa-a em paz e na
companhia das panelas e alguidares, vamos cada qual para sua casa e logo
pensamos o que fazer.
Maria acenou com a mão direita e
sorriu, voltou para a cozinha e as mulheres cada uma para sua casa.
Nota: esta história é ficção, mas
ajudou-me a esclarecer a importância de acreditar, de viver a fé. Esta é a
explicação que tenho para justificar a decisão de Maria e não acompanhar as
outras mulheres a verificar o sepulcro. Ela sabia e acreditava que Jesus
regressaria a casa, não sabia como ou quando.
A vida é mesmo uma surpresa!
O entardecer volta
a cobrir a minha vida e recordo-me das trevas e do silêncio ensurdecedor, um
vazio dentro de mim que não me deixava olhar sequer para o céu e isso ninguém
viu porque estavam todos fechados nas suas casas porque a tempestade
era demasiado forte, inesperada e furibunda. Desorientei-me, as lágrimas não me
deixavam ver o caminho e à porta do cemitério eramos cinco à espera de uma
pessoa que não aguentou mais tempo confinado ao seu quarto, sem visitas, só
entrava quem cuidava do seu corpo, porque a alma já a tinha oferecido aos que o
amavam.
Sempre respeitei a sua autonomia e a
sua liberdade. Não lhe impus aquilo que eu pensava que seria o mais adequado
para ele. Mas os decretos do Governo definiram que quem tivesse atendimento
hospitalar e lá passasse a noite, regressava e tinha que ficar isolado dos
outros utentes do lar. Nesse mês de Março de 2020, as missas eram proibidas e
os funerais obedeciam a regras nunca antes decretadas. Os senhores da política
até decretaram o número máximo de pessoas que podiam acompanhar os cortejos
fúnebres e entrar nos cemitérios. Tudo porque não se podia fazer ajuntamentos
de muitas pessoas. Como as missas estavam proibidas, os velórios deixaram de se
realizar. As empresas funerárias encarregavam-se de todos os procedimentos
necessários, cumprindo as determinações da Direcção Geral de Saúde.
Tinham o trabalho de ir aos hospitais e transportavam as urnas bem seladas
directamente para o cemitério, onde os familiares mais chegados (máximo de 10)
aguardavam a chegada, mantendo entre eles a distância que as autoridades
aconselhavam. Sem grandes cerimónias, o Pe. Eduardo depois das orações e de
umas breves palavras de aconchego, foi apressado para outro cemitério.
Vivíamos todos em estado de emergência.
Todos corriam o risco de ser apanhados de surpresa pelo vírus. A vida e a
sociedade não estava preparada para tanto, ninguém estava habituado a sentir
medo do presente e dos dias a seguir.
Cada um penso que cumpriu o seu dever,
mesmo aqueles que lhes foi imposto. E assim ajudámos o nosso país a levantar a
cabeça. O mundo que quase parou, voltou ao seu habitual.
Hoje, 29 de Março de 2024, estamos
novamente a reflectir na morte de Jesus Cristo.
Estamos todos no mesmo barco e a nossa
fragilidade mostra-nos a falta das palavras do Mestre da embarcação “Não
tenhais medo”. Somos chamados a remar juntos e confiar no nosso mestre para chegar
a porto seguro.
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José Augusto Martins |
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Uma árvore mimosa em Malcata |
O povo, diz a canção, é quem mais
ordena. Em Malcata o povo vive cada vez mais resignado, adormecido e
desconfiado. Se cheirar a mudança, o povo deixa-se estar no mesmo lugar e não
se importa por continuar como está. Cada um preocupa-se consigo mesmo e quem
está ao leme da Freguesia é que tem a incumbência para mudar as coisas públicas
e o senhor prior as coisas que dizem respeito à igreja, ao religioso.
O povo já não quer saber dos baldios, nem sequer
perguntar como vai a vida na comunidade. Basta ir à aldeia num dia de sessão da
Assembleia de Compartes ou da Assembleia de Freguesia e sentar-me nos lugares destinados ao público. Posso
escolher sentar mais longe ou mais perto da porta do edifício onde está a
decorrer a reunião. As vezes que o fiz, o público era só eu e mais ninguém.
Onde estão as outras pessoas que habitam e vivem na aldeia? Devia comparecer e
preencher todos os lugares destinados ao público, para ouvir o que de mais
importante anda a acontecer na aldeia e ainda têm a
oportunidade de intervir e interpelar a mesa da
assembleia.
O falar nas ruas e na mesa dos cafés
não é o mesmo que levantar do assento e depois da autorização do senhor
presidente da Assembleia dar consentimento já pode falar claramente o
que tem a dizer. Depois de falar, é esperar pelas respostas, mesmo que alguém
tenha ficado incomodado com o assunto. E meus caros conterrâneos, ali não
existem pessoas más e violentas, são gente adulta, civilizada, sabem que estão
ao serviço do povo, não têm porque se sentir incomodados, ou maniatados por
quem quer que seja. Querem ficar a saber quanto renderam os pinhos nos baldios? Ou querem saber o que se está a passar com as cabras que não se veem nos baldios? Precisam de saber se podem acender o lume em casa com lenha dos baldios? Vão à reunião e perguntem que vão responder. E o mesmo digo a respeito da situação em que está a freguesia, apareçam nas reuniões da Freguesia e ouçam, perguntem e digam o que vos está a atrofiar a vista!
Penso que eu não serei o único refilão
na nossa aldeia! Vivo longe, bem longe daí e ainda tenho interesse por andar
minimamente informado acerca da vida comunitária
na nossa aldeia. E lembrem-se disto:
“Eu até não sou mau rapaz
Com maneiras até sou bem mandado
Mas para que lado é que me viro, pra
que lado.”
Envio esta mensagem e espero que enviem novidades. Vou aí em Abril para a EDP mudar o contador
da luz lá da casa número seis.
Já não tenho mais para escrever. Cumprimentos e abraços.
José Nunes Martins
Próxima Assembleia de Compartes da Freguesia de Malcata: