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Carvalhos deram o nome ao Carvalhão |
Na nossa aldeia a
maioria das pessoas dedicava-se à agricultura e era dos chãos que tiravam o
sustento para a família. Como acontecia em todas as aldeias, havia famílias que
eram donos de muitas terras e encontravam-se espalhadas por toda a área da
freguesia. Possuíam uma ou duas juntas de vacas, um carro de transporte, uma
casa de habitação grande e com um bom curral, com lugar e espaço para nele
caber tudo e mais não sei quê, desde o carro de vacas, a lenha e o tronco para
a cortar, a estrumeira, a cortelha dos porcos, a capoeira das galinhas, flores
e até uma cerejeira ou figueira, quando não era uma videira encostada à frente
da casa.
Nesses tempos em que ainda não havia
máquinas e todo o trabalho se fazia manualmente ou recorrendo à força dos
animais que puxavam a charrua, o arado, a grade e se fosse preciso, até se
utilizavam para fazer a nora do poço rodar e encher os copos de água que depois
eram esvaziados para a caldeira e depois ia rego abaixo até onde fosse necessária.
As famílias procuravam formas de combater a falta de máquinas. E a mais
comum de todas era aumentar o número de filhos e colocá-los a trabalhar na
agricultura. Os mais novos eram mandados a guardar os animais, podiam ser
cabras, vacas e o burro, que sem grande esforço físico qualquer criança
conseguia levar até aos lameiros e trazê-los de regresso a casa ao fim de umas
horas.

- “Ó João, está na hora de ir guardar
a vaca e as cabras!” – dizia-me a Ti Benvinda, minha mãe, lá do cimo da varanda
de casa.
Olhei para ela e vi que estava a
depenar uns feijões que tinha posto ao sol a secar, como estava calor tinha-os
espalhado pelo chão da varanda e ali ia ficar sentada na cadeira a depenar
feijões. Eu deixei as brincadeiras e lá fui à loja soltar o gado para o levar
até ao Ozival, para o lameiro.
Até que gostava de guardar a vaca e as
cabras! A vaca nestas alturas levava uma vida de sonho, saíam para comer e
depois de barriga cheia, regressava à loja. Havia alguns dias assim, leves,
frescos, comer e beber e deitar a ruminar feno. Talvez a vaca soubesse que
enquanto estivesse prenha, não seria junguida para nada, nem sequer para agradear
o chão!
Aquilo sim, era uma vida de trabalho e
muito suor, mas as pessoas viviam contentes com a sua vida.
Aqueles tempos fazem-me pensar na
sorte que às vezes precisamos de ter na vida. Por exemplo, morar junto a um bom
grupo de vizinhos, normalmente famílias de respeito e bom coração. Essa foi a
sorte da minha família: viver ao lado da Ti Cilda e Ti Joaquim António, da Ti
Ana e do Ti Domingos, da Ti Ana e do Ti João, do Ti Zé Triste e da mulher da
qual não me lembro do nome, da Ti Rosa e do Ti Quim Nita, da Ti Ana e do Ti
Horácio, da Ti Dorinda e do Ti João, da Ti Graça e do Ti Manel,
da Ti Lucinda, vivia sozinha, da Ti Delaide e
Ti Quim…da Ti Irundina…do meuTi Zé Gravanço…a juntar a estes nomes um rol bem
grande de rapazes e raparigas, davam vida ao Carvalhão. Há ainda dois casais
vizinhos que não mencionei, nesse tempo que me estou a querer lembrar, estavam
as duas habitações vazias durante todo o ano, pois só vinham à aldeia quando
tinham “vacanças” e então sim, vinham aumentar o número de vizinhos. E estou a
referir-me aos meus tios: Ti Dulce e Ti Zé Pires e ao Ti Felisberto e Ti Cilda
Coxa e Carlos e Natália. Todas as famílias se davam bem umas com as outras, ajudavam-se cada vez que
fosse preciso.
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Barreira no Carvalhão |
Eram os anos 60, 70 e 80, tempos
memoráveis e que hoje é património imaterial das nossas vidas, da aldeia e do
lugar do Carvalhão. Os vizinhos do Carvalhão eram mais do que estes, ainda
agora me lembrei doutro casal, o homem chamavam-lhe Ti Navalhinhas, perdoem,
mas de momento esqueci-me do nome da sua mulher, da Lena, do Ti Firmino e da
sua vizinhança, os pais da Marizé casada com o Amadeu. Se agora me lembrasse
dos seus nomes…ai a minha memória, às vezes não ajuda. Não levem a mal, são
muitos anos a viver longe da aldeia e das pessoas daí.
Fico à espera da vossa ajuda para identificar
esta gente amiga.
Já agora, expressem a vossa opinião
sobre o que leram.
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Beco da Corela (Carlos e Natália)
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Vizinhos a conversa (Isilda e Ascensão) |