O Mundo anda mesmo
virado do avesso. E não há como parar esta reviravolta, todos os anos por esta
altura só se fala no Pai Natal que vai chegar de helicóptero, de trenó, de mota,
eu sei lá mais o quê e toda a gente se esquece do Menino Jesus! Vamos ser
realistas, não podemos comparar o que não se pode comparar, eram outros tempos e não havia tanta fartura como a de agora. Na minha infância o Menino Jesus é que estava encarregue de distribuir as prendas às crianças. Eu acreditava que chegava à aldeia, subia aos telhados das casas e descia pela chaminé para deixar as prendinhas dentro dos sapatos ou das botas, porque nelas cabia uma prenda maior! Nesses tempos,
não se ouvia falar do Pai Natal, o Menino Jesus é que era verdadeiro. O Pai
Natal apareceu uns anos mais tarde, perto de 1970, com um nome afrancesado,
diziam ser o Papa Noel, vestido de vermelho e branco, transportando um saco
grande às costas, cheio de prendas. E aos poucos e poucos, quando dei por ela,
o Menino Jesus deixou de aparecer na noite da consoada. Todos falavam do
velhinho de barbas brancas e garruço na cabeça, casaco e calças à Benfica,
luvas brancas e fazia-se transportar num trenó puxado por várias renas. Pois,
com o Menino Jesus as estradas e o meio de transporte ninguém falava, talvez
viesse nas asas dos anjos celestes, isso não me lembro de como os pais diziam
às crianças…falavam que vinha o Menino Jesus e deixava prendas aos que se
tinham comportado bem.
A melhor prenda que o Menino Jesus
alguma vez me deixou na lareira da cozinha, foi uma bicicleta. Só mais tarde
percebi que tinha sido o meu pai que trouxe a bicicleta quando veio de França
passar connosco o Natal. Isso sim, foi uma prenda grande! O engraçado disto é
que há uns meses, estando eu na aldeia e a propósito dessa bicicleta, o que nos
rimos quando me recordaram das aventuras vividas por causa da bicicleta de pneus
bem grossos. Outra prenda que me lembro, mas essa era para a minha mana, foi uma
boneca bem grande, ficava de pé, parecia mesmo uma menina de verdade!
E durante a minha infância, ficava
sempre à espera que no Natal, o Menino Jesus arranjasse tempo e maneiras de vir
à aldeia e à nossa casa.



