E que tal voltar a lavrar e a semear ?
José Nunes Martins
José Nunes Martins
Recentemente estive três dias na nossa aldeia. A dado momento abeirou-se de mim um cidadão com cara de que me queria falar. Aguardei que se aproximasse e confirmei os meus pressentimentos, pois disse-me que estava preocupado com um monte de terra junto ao cemitério da aldeia, formado com entulho de pedras, restos de mármore vindo do interior, talvez terras retiradas quando abriram uma sepultura.
Cemitério em Outubro de 2022 apresenta este estado. |
Foto 2
Monte de entulho vindo do cemitério Out.2022 |
Ora esta situação não é nova e já o
ano passado, precisamente em Outubro, eu divulguei duas imagens que mostravam
um monte de terra proveniente do interior do cemitério e que foi por alguém
depositado precisamente no mesmo local.
Durante este espaço de tempo que passou parece que o entulho foi
removido. E agora, em Outubro de 2022 voltámos ao mesmo, novo monte de terra. Quando
é que se acaba com esta situação? Será que quem ali despeja essa terra não tem
conhecimento que ali não é o local mais lógico para se amontoar terra proveniente
do trabalho no cemitério? Qual é o dever da autarquia? Não será zelar pela
saúde e limpeza da freguesia? Não sabemos se aquela terra contém ou não
bactérias contaminantes, desconhecemos se as pessoas entrarem em contacto com
aquele entulho se expõem a alguma contaminação! Sabemos todos que veio de
dentro do cemitério, que ali existem restos de pedras e até lápides velhas.
Encontrem uma solução para depositar a terra extraída no cemitério e avisem os
senhores coveiros da importância de manter a entrada do cemitério limpa e
asseada, tal como está o espaço ajardinado.
Foto de Outubro de 2021:
Outubro de 2021-junto ao cemitério esteve assim! |
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Professor Rui Chamusco e o seu talento musical em actuação no Largo da Fonte, Sabugal |
Recentemente desloquei-me à nossa aldeia.
Fui com a ideia de aí permanecer alguns dias e aproveitava para efectuar alguns
trabalhos de limpezas e cuidar do legado que recebi dos meus pais. Não
aconteceu assim e por razões familiares regressei a Matosinhos, onde tenho
residência.
Como é meu costume, aproveito a
oportunidade de estar na aldeia e inteirar-me do estado das pessoas e das
coisas.
E desta vez venho de alma cheia de alegria. É que na sexta-feira, 30 de Setembro, a Assembleia Municipal do Sabugal reunida em reunião ordinária, apreciou e votou as atribuições honoríficas que, por indicação da Câmara Municipal, serão entregues aos respectivos cidadãos/entidades no dia 10 de Novembro, Dia do Concelho, em cerimónia pública. O meu regozijo é que o nosso conterrâneo Rui Chamusco, por unanimidade, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cívico.
Rui Chamusco já se pronunciou dizendo: "Eu não sou digno de tantos elogios e merecimentos. O que fizemos ou fazemos é o nosso dever, a nossa obrigação: fazer com que a nossa passagem por este mundo seja um pouquinho melhor".
Parabéns professor Rui.
José Nunes Martins
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Queridos fregueses, abram a caixa do correio... |
Uma “página
franciscana” de tão pobre !
S. Francisco de Assis, filho de comerciantes italianos, viveu
humildemente e desprendido dos bens materiais, dos lugares de poder e viveu a
servir o seu irmão, o seu povo. Bem longe de muitos homens que gostavam de
mandar e muitas vezes recorriam à prepotência e à arrogância e por ser humilde
e tão bom, acabou perseguido e viveu pobre.
Ora, a página da nossa Freguesia tem
sido tão pobre, vazia de informação relevante e importante para os fregueses,
sem funcionalidades de consultas, de resolução de situações à distância, a
expressão que me ocorreu para definir o estado da página é mesmo esta da “pobreza
franciscana ”.
Passo a explicar: a junta de freguesia já teve
três link’s (páginas) e sucumbiram, estão em estado ofline, desconhecidas...
Perguntei pelo
endereço oficial (página) da Junta de Freguesia e até hoje não recebi resposta.
Entretanto, nas minhas pesquisas encontrei o único link que abre uma página da
Freguesia de Malcata: https://malcata.sabugal.pt/
Já perguntei à JFM se era esta a nova página.
Receberam os malcatenhos alguma informação? Talvez não, porque também a mim de
nada me adiantou perguntar.
Onde está a promessa da promoção de
maior aproximação e envolvimento entre a autarquia e as pessoas? Para que
servem as duas páginas que a Junta de Freguesia tem na internet? Anunciar
Assembleias de Freguesia? Então e depois nada informam sobre os assuntos lá
tratados? Para anunciar encontros, jogos de bola, jogos de cartas, com almoço
ou com lanches ajantarados? São bons e fortalece a amizade, o convívio, o
espírito de boa vizinhança e sim, são importantes e devem continuar a
realizar-se. Mas, senhores da junta, sendo de elogiar, não basta e estes
eventos deviam merecer maior divulgação nas páginas da Junta de Freguesia. Mas
mais importante é colocar as ferramentas tecnológicas ao serviço da freguesia e
dos malcatenhos, independentemente do lugar onde se encontrem. Onde é que um
cidadão pode realizar aquelas problemáticas burocráticas, como um atestado, uma
declaração, uma compra de um lugar no cemitério, sem ter necessidade de ir
pessoalmente à secretaria da Junta que só abre umas horas?
Erros também eu cometo, mesmo não
tendo a intenção de errar eles acontecem e procuro corrigir. Para lá do que já
disse atrás, há necessidade de rever os conteúdos existentes na página. A
informação disponibilizada é incompleta, escassa, errada. Por exemplo, o
presidente da Assembleia de Freguesia é também presidente da Junta de
Freguesia! Nem toda a gente sabe que é mentira, é um erro involuntário e como
este existem outros parecidos.
Talvez pouca gente em Malcata tenha
conhecimento das obrigações e deveres que qualquer junta de freguesia tem de
cumprir pelo respeito à Lei das Autarquias Locais. Só que os membros da Junta de
Freguesia conhecem e têm consciência do incumprimento e do risco a que estão
sujeitos, caso haja queixa fundamentada. Por exemplo, a obrigatoriedade da
divulgação de documentos.
A pobreza de ideias ou a inexistência
de capacidade intelectual e técnica para manter uma página oficial na internet
sob responsabilidade da Junta de Freguesia de Malcata, sabem bem, que não
servirá de alibi, de desculpa.
Pelo bem da freguesia e dos
malcatenhos, facilitem o acesso livre à informação, aos serviços online.
Uma harmonia difícil de concretizar... |
Longe vão os
tempos em que na nossa aldeia se jogava a bola, nos anos 70 a 90, facilmente se
arranjavam duas equipas para se divertirem com uma bola. Geralmente juntavam-se
na tapada da Corela, que tinha as condições mínimas e estranhas para servir de
estádio. Aquele sim era um campo inclinado e os jogadores queriam lá saber
disso, o mais importante era marcar golos entre os dois montes de pedras e na
baliza imaginária.
Um dia de inspiração levou um grupo de
rapazes a criar uma associação que se encarregasse de organizar jogos de futebol
e outras actividades culturais. E foi com o desporto que a associação deu um
empurrão, pois passou a ser responsável pela fomentação e organização das
actividades ligadas ao desporto e à cultura. Fazia falta uma entidade que
periodicamente se dedicasse a organizar actividades lúdicas, de desporto e
cultura.
Apesar do trabalho e do empenho das
diversas direcções à frente da associação, nunca conseguiram parar o êxodo dos
jovens para fora da aldeia e só no tempo das férias escolares é que as portas
da associação estavam abertas. Tudo ficava adormecido e isso notava-se porque
as actividades assim se organizavam.
Houve uma direcção que viu no
atletismo uma boa medida e uma excelente oportunidade de alargar a oferta
desportiva da associação. O desporto não é só futebol e o atletismo tinha
espaço de crescimento e com um treinador federado e o apoio da Associação de
Atletismo da Guarda, foi o empurrão que faltava para a abertura da secção de
atletismo. Esta ideia ganhou ainda mais
força no ano da celebração dos 25 anos da associação. A comemoração foi um
marco histórico e levou a marca da presença do campeão mundial de atletismo
Carlos Lopes.
Passou um dia na nossa freguesia, assistiu às diversas provas de atletismo e
cumprimentou todos os atletas, em especial os vencedores, a quem lhes entregou
os respectivos prémios.
Foi de facto um dia memorável para a
associação e para a freguesia. E a alegria de correr, a vontade de querer ser
melhor e vencer, a secção de atletismo deu cartas e algumas dores de cabeça aos
atletas das outras associações. O atletismo passou a ser a estrela da
associação, enquanto o futebol ia perdendo cada vez mais praticantes, mesmo
após a construção do polidesportivo.
A secção de atletismo apostou forte e
nas qualidades e capacidades do seu treinador e a união e dedicação dos
familiares dos atletas aliada aos sonhos dos jovens atletas, levou-os a
alcançar vitórias nunca tentadas ou alcançadas.
Um ano, dois anos...e mais anos, veio
o cansaço, o desânimo e o vendaval que soprou com tal intensidade, derrubou a
casa que se estava a construir e não houve discernimento nem forças para voltar
a reerguer aquela secção da associação. E agora nem bola e nem atletismo.
Ficaram os convívios e alguns jogos de cartas, onde os reis, as damas e os
cavalos têm pesos diferentes daquele jogo que tanto ajuda a desenvolver o
cérebro dos que o jogam. O xadrez não é para todos e alguns maus hábitos também
não são compatíveis com quem tenha vontade e querer de vencer uma guerra entre
dois reis. Agora o que resta são alguns vestígios das actividades passadas, que
deixaram marcas brancas nas calçadas, que já deviam ter sido definitivamente
apagadas porque deixaram de ser úteis e só poluem a aldeia.
Termino com esta interrogação que me
está aqui na cabeça:
Para onde caminhas Associação Cultural
e Desportiva de Malcata?
José Nunes Martins
Como nasci na época de 60, eu ainda me lembro de existirem dois fornos de cozer pão. E hoje, ainda há o forno no Rossio, que em 2006 foi reconstruído e cada vez que é aquecido,
quando o cheiro começa a entrar pelo nosso nariz, esse cheirinho a pão quente... .
Não vou terminar aqui a história dos fornos de cozer pão. Cozer o pão dava muito trabalho. Também quem ia para o forno, se queria sair de lá com uma boa fornada, tinha que saber e fazer uma série de passos, ensinados pelas mulheres mais experientes. Utilizavam ferramentas e dizeres que já vinham dos seus antepassados. E se agora nos colocarmos no papel de uma pessoa que quer cozer pão? Quem me ajuda a compreender estas coisas:
Que lenha traziam da serra para aquecer o forno?
Como marcavam os dias de fornadas?
Que ferramentas usavam no manuseio do forno e do pão?
Como sabiam a temperatura correcta do forno?
Nomes de pessoas a que chamavam “forneira”?
É importante falar sobre estes fornos antigos, das nossas tradições, das crenças e rezas. E os nomes que na aldeia dão às coisas são muitas vezes de uso apenas na nossa terra.
Por tudo isto, não guardem só para vós os vossos conhecimentos sobre estas riquezas patrimoniais, materiais e imateriais. Tal como acontece com as pessoas quando partem para o Além, levam as memórias e saberes com eles e quem fica, não sabe o valor que perde! É importante por isso partilhar estas riquezas com as outras pessoas como nós.
José Nunes Martins
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A caminho do Ozival |
CONTA-ME COMO FOI ...
Vou contar-vos uma cena que se passou na aldeia que todos guardamos no coração. Esta pequena história é ficção, embora pareça verdadeira, não é real. É um recordar e um reviver de situações reais, com pessoas e lugares que existiram nessa aldeia. É apenas uma história das muitas histórias que eu vivi em criança. E a história começa na cozinha lá de casa:
_ Vou à loja ordenhar a vaca, ver se consigo tirar leite para fazermos um queijo - disse a minha mãe enquanto apertava o avental arás das costas. Pegou no balde habitual e desceu as escadas até à loja.
Era o tempo do frio e da chuva, o Inverno na aldeia costuma ser assim e as manhãs eram mesmo frias.
Eu fiquei ao lume, a olhar para a fatia de pão que estava a torrar em cima da grelha de ferro. As brasas estavam fortes e uma pequena distração transformaria o pão em carvão. Pão torrado na grelha e depois um fio de azeite a fazer de manteiga, torna aquela coisa numa deliciosa torrada. E assim me soube, acompanhada de uma chávena de cevada. Com a barriga composta, fui ter com a minha mãe à loja. Entrei devagar para não assustar a "Amarela", nome que os meus pais puseram ao animal.
A minha mãe falou:
_ Amanhã vou ao Ozival de manhã cedo. Levo o carro cheio de esterco e depois há que o espalhar pelo chão todo. Temos de aproveitar este tempo sem chuva e estrumar o chão para depois semear as batatas.
A Ti Céu já lá andou ontem com o tio a espalhar no chão deles e amanhã já acaba de espalhar tudo. Temos que fazer isto antes que a terra fique gelada e depois da terra ficar dura, não dá para lavrar.
_ De manhã cedinho?! Mas por que raio a mãe tem que ir cedo? Ainda está noite e não tem necessidade
de se sacrificar tanto. - disse eu.
A minha mãe, mulher mais trabalhadora eu não conheci, sorriu e respondeu assim:
_ Ó filho, vou cedo e a luz vai aparecendo e quando lá chegar já se vê bem a terra. Assim descarrego o carro e se o tempo estiver bom e com a terra enxuta, espalha-se logo. Tu não precisas de te levantar ao mesmo tempo do que eu. Prefiro que fiques a dormir e me leves o "almoço". Depois vimos os dois a jantar aqui a casa. Vá, ficamos assim combinados. Está bem? Mas não adormeças!
E o diálogo ficou por aqui quando fomos interrompidos pelos dois chibos que tal como as crianças
pequenas, adoram dar saltos e pinotes. A vasilha com o leite estava praticamente cheia e a mínima distração podia uma das crias fazer derramar o líquido para a cama da vaca. E lá se ia o desejado queijo fresco que a minha mãe tanto quer fazer.
Explicação de algumas palavras:
Esterco = Estrume
"Almoço"= Pequeno Almoço
"Jantar" = Almoço
Chibos = Cabritos
José Nunes Martins
Depois de
passarem o mês de Agosto na aldeia e a festa terminada, os emigrantes regressam
aos países onde trabalham. Para trás deixam a aldeia mais vazia e abalam de
coração apertado e com o pensamento na contagem decrescente do número de dias
para voltar ao seu cantinho beirão.
Os preparativos da viagem de regresso
são momentos difíceis e as malas não têm espaços livres para acomodar a
saudade. Alguns já estão habituados a partir de malas feitas, mas dizem que a melhor
estrada é aquela que os traz de Paris a Malcata ( Martine Martins, em declarações
à SIC).
Uma reportagem que passou há dias no programa "Casa Feliz", emitido pela SIC, uma nossa conterrânea, que também se encontra a trabalhar em Paris, de forma sublime e sentida, partilhou com os telespectadores os seus sentimentos e os seus afazeres na preparação da viagem de regresso a França. Martine Martins foi a estrela da reportagem e aproveitou a oportunidade para revelar o seu apego e carinho pelos malcatenhos, pela aldeia e por tudo aquilo que as pessoas podem encontrar na terra do seu coração. A partida é sempre difícil e desta vez, pela video chamada que houve em directo, ficámos a saber que a viagem de regresso correu bem.
"Vai com Deus e até para o ano"!
Vejam o link aqui: