Oxalá assim aconteça.
José Nunes Martins
![]() |
Direito de acesso igual para todos |
Lembram-se do
tempo em que as pessoas tinham que ir ao comércio do Ti Varandas e da D.
Deolinda levantar as cartas vindas pelo correio? Onde é que esse tempo vai...
hoje as cartas já quase não se escrevem e existem tantas maneiras e meios de
comunicar que todos o podem fazer e sem precisar de sair de casa.
As comunicações telefónicas já são
feitas sem nos preocuparmos com o contador de impulsos, enfiamos a mão a um dos
bolsos ou das bolsas de andar ao ombro, ligamos o aparelho e uns segundos depois
encontramo-nos a comunicar com quem escolhemos e queremos.
Vistas as coisas assim, comunicar
nunca foi tão fácil. É para facilitar e aproximar, desligar ou simplesmente não
atender ou barrar o acesso que existem todos estes novos meios de comunicar.
E acreditem se quiserem, há serviços
que somos atendidos por vozes previamente gravadas e passo a passo nos
encaminham até ao número correcto para resolver o nosso problema, satisfazer o
nosso pedido, dar a leitura da água que consumimos e da luz lá de casa. Há quem
ainda não acredite, mas nem sempre do outro lado está um ser humano de carne e
osso a escutar, está apenas um computador e um cérebro artificial.
Em resumo, quando eu não quero ser
incomodado e nem quero saber do resto do mundo, desligo-me das tecnologias de
comunicação. Às vezes complica a minha vida e outras pessoas ficam tristes e
aborrecidas, mas acaba por passar e tudo fica bem.
O mesmo não deve suceder com as
entidades e os serviços públicos do Estado. Há sectores que não querem ser
incomodados e não querem dar a conhecer os problemas e os resultados do seu
trabalho. Depois quando chegam aqueles momentos das escolhas e do deita fora ou
fica mais um pouco, dão corda aos sapatos e às mãos e as comunicações já
acontecem, os sinais de fumo dão agora lugar a notícias e a partilhas, a
cliques de “gosto”, “riso”, “choro”...fotos de gente feliz e alegre e eles
lembram que lá se encontram sempre ao nosso dispor.
A Revolução Digital demora a passar
por aqui, as facilidades das tecnologias de comunicação parece que fragilizam
alguns serviços que representam o Estado, não se democratiza o seu uso e não se
incentiva o povo a usar. Apesar das resistências, das dificuldades e barreiras
que nos têm levantado aqueles que nos governam, não lhes vai servir de nada,
pois mais dia menos dia, mais ano menos ano, as comunicações e as relações
entre cidadão e autarquia local não terão uma vida fácil neste nosso mundo. Mas
até isso acontecer, cá continuarei a minha luta e o meu direito a reclamar,
mesmo condicionado e correndo o risco de não ser ouvido.
José Nunes Martins,
(Malcatenho e cidadão do mundo)
![]() |
Parque de Merendas de S. Domingos, foto de 2012, com painel caído por terra. |
Já gostei mais de ir à minha aldeia. As últimas vezes tenho vindo de lá com vontade de não voltar tão cedo. Era costume nas vésperas da ida andar entusiasmado e ansioso por chegar o dia da viagem. E depois de lá estar, não me apetecia pensar no dia do regresso à cidade. Agora, basta uns dias na terra e na casa onde nasci para ter vontade de meter tudo na carrinha vermelha e não voltar.
É estranho este sentimento e tenho andado a reflectir nas causas que estão a influenciar este afastamento e distanciamento. É verdade que não gosto de muitas situações com que me deparo quando estou na aldeia. Entristeço-me quando caminho por algumas ruas e reparo no número de casas vazias, com telhados podres e telhas partidas, outras têm janelas de madeira sem vidros, portas de madeira entre-abertas e com um monte de pedras que não deixam sequer entrar na loja. O perigo maior vem dos beirais dos telhados mais antigos, onde as telhas e lascas podem deslocar-se e colocar em perigo a segurança de animais e pessoas que ali passam. E que tristeza me dá olhar para as borradas cinzentas para segurar as pedras de xisto ou substituir telha antiga por chapas vermelhas, que protegem a casa da chuva, mas de belo nada têm. Talvez por isso lhes chamamAguardando a abertura |
CONHECE O ARTISTA?
João Cavalheiro nasceu em nasceu em Lille, França nos anos
90. Iniciou a pintura mural em meados de 2004 e define-se como autodidata. Com
o graffiti adquiriu a sua experiência e técnica com que hoje expressa
maioritariamente a sua arte em spray sobre murais e espera vir a ganhar mais
nome além fronteiras.
![]() |
Mural na cidade do Sabugal |
Para melhor conhecer a sua arte, que ele, com tanto génio,
vai deixando gravada por todo o lado, consulte as suas páginas. E fique atento
à Street Art de que Malcata e outras aldeias do Sabugal se podem orgulhar.
Um agradecimento ao
artista pela publicação das fotografias.
Faceboook: https://www.facebook.com/JoaoCavalheiroStyler/
Facebook: https://m.facebook.com/JoaoCavalheiroStyler/?locale2=pt_PT
Instagram: https://www.instagram.com/stylerone90/?hl=pt
![]() |
Lince da Malcata by Styler, em Malcata |
Desde 1976 que as
dinâmicas de transformação social, económica e cultural da nossa freguesia
estão a ocorrer no mesmo sentido político. O percurso feito até hoje é que nos
levou ao ponto onde nós estamos. Nestes 45 anos de democracia a inexistência de
verdadeiros debates de ideias
são para mim motivo de preocupação e inquietude, revelando o domínio do
pensamento único e comum a toda a comunidade. Esta realidade merece uma
reflexão longa, aprofundada e séria. Esta não é a democracia da liberdade, da
pluralidade, mesmo que ela pareça existir, é palpável a sua ausência.
A insatisfação sentida por alguns dos
cidadãos da nossa freguesia e aquela sensação de que faz falta mudar algumas
coisas para restabelecer uma democracia participativa, plural, respeitadora das
ideias de cada pessoa ou grupo.
O que acontece é o mesmo em todas as
eleições autárquicas. Independentemente das pessoas, dos projectos e das
ideias, independentemente das promessas feitas e dos resultados alcançados, é
muito mais importante e decisivo a cor do símbolo partidário. Malcata é uma
freguesia que vive resignada e num comodismo tal, que não é difícil adivinhar o
seu futuro. Preocupa-me a falta de ideias e de confronto dessas mesmas sem que
acabe em acusações e desavenças. Talvez por isso as alternativas tenham muitas
dificuldades em serem aceites. Esta forma de entender a democracia é diferente
da democracia da liberdade de pensamento e acção. Quando um povo, ou a sua
maioria, se acomoda e desiste de apresentar alternativas, aceita aquilo que determinado
grupo político apresenta, sem sequer colocar a mais pequena dúvida, sem
qualquer sentido crítico, é um povo aprisionado por livre vontade. Mesmo que se
sinta uma ligeira e legítima sensação e insatisfação e sentimento que alguma
coisa devia mudar e tentar restabelecer a confiança das pessoas na democracia
mais participativa e abrangente, os medos e as inseguranças deitam por terra
esses desejos.
Na nossa freguesia repetem-se as promessas
e não as acabam, insistem nos mesmos erros e o que nasceu torto não se
endireita e para espanto de alguns a escolha recai no mesmo na esperança de que
agora vai mudar.
A nossa freguesia já se acostumou a
viver assim e cresce a apatia e o desinteresse pelas políticas governativas.
Olharmos para o passado com um
pensamento crítico e focar o andar no caminho a seguir é o que deve ser feito.
Conhecer e compreender o passado, o que foi e não foi feito, deve fazer-nos
reflectir no que realmente desejamos e queremos ser, fazer e ter na nossa
freguesia.
A democracia vive da pluralidade e da liberdade,
do debate e do confronto de ideias. Respeitar as ideias de todos e escolher as
melhores em qualidade é o que nos espera daqui a uns meses. O passado é
importante e está muito para além dos acontecimentos que já passaram. Os
resultados e o valor acrescentado à nossa aldeia, beneficiando as pessoas é o
que realmente importa. Reconhecer erros e comunicá-los em vez de os esconder, reivindicar
e apresentar verdadeiras alternativas é a atitude que se necessita. Fazer melhor,
fazer mais e melhor é um bom princípio, mas tem que se juntar o compromisso e a
transparência devida.
por Josnumar
José Nunes Martins