30.6.21

MALCATA: O QUE É PRECISO PARA SER MALCATENHO?

    




                                    


   Já gostei mais de ir à minha aldeia. As últimas vezes tenho vindo de lá com vontade de não voltar tão cedo. Era costume nas vésperas da ida andar entusiasmado e ansioso por chegar o dia da viagem. E depois de lá estar, não me apetecia pensar no dia do regresso à cidade. Agora, basta uns dias na terra e na casa onde nasci para ter vontade de meter tudo na carrinha vermelha e não voltar.

   É estranho este sentimento e tenho andado a reflectir nas causas que estão a influenciar este afastamento e distanciamento. É verdade que não gosto de muitas situações com que me deparo quando estou na aldeia. Entristeço-me quando caminho por algumas ruas e reparo no número de casas vazias, com telhados podres e telhas partidas, outras têm janelas de madeira sem vidros, portas de madeira entre-abertas e com um monte de pedras que não deixam sequer entrar na loja. O perigo maior vem dos beirais dos telhados mais antigos, onde as telhas e lascas podem deslocar-se e colocar em perigo a segurança de animais e pessoas que ali passam. E que tristeza me dá olhar para as borradas cinzentas para segurar as pedras de xisto ou substituir telha antiga por chapas vermelhas, que protegem a casa da chuva, mas de belo nada têm. Talvez por isso lhes chamam
“subtelha sandwich”, tipo comida rápida, chamada de “comida de plástico”, muitos gostam e outros dispensam, preferindo produto original, da região, feita de bom barro e não de chapa pintada.
   São estas coisas que me entristecem. E outras coisas parecidas a estas, que por serem antigas, quando é para mexer nelas, escolhem o modo mais fácil e mais rápido. É deles e os donos é que sabem, são eles que escolhem e decidem como querem fazer a reparação, a substituição do telhado, da porta ou segurar as paredes barrigudas. E se é para fazer, então quanto mais depressa e mais económico melhor.    E eu, nascido na aldeia e com mentalidade de cidade, digo a minha opinião, escrevo, publico fotografias, pergunto, critico e sugiro alternativas.
   Uns aplaudem, outros mandam bocas quando passo na rua e juntam-se aos que se acham donos de tudo e da aldeia. Mesmo que eu tenha liberdade de pensar e escrever, dizem que me devo calar, deixar andar, não me incomodar com o que os outros fazem, deixá-los andar já que não é da minha conta e responsabilidade.
   É por estas afirmações que já me começo a sentir estrangeiro na aldeia onde nasci e vivi, que também foi onde viveram os meus pais. Quando me dizem que eu “já não és de cá, és do Porto, vai mas é para a tua terra”, ou “só prejudicas a terra, não gostas disto”, “olha, tudo o que dizes a mim entra a 100 e sai a 1000”, ou esta assim “quando tu nasceste, eu já comia feijão! A ti já eu te conheço!”
   Serei o único a ser assim tratado ou existem por aí mais pessoas assim?
   É que se eu for o único, o indesejado e inimigo da aldeia, considerado assim por escrever o que penso, sinto e falo à cerca das ruas, das casas, da água, da luz, das calçadas, das fontes, das rampas, das praias e das piscinas, das multas e das obras, das festas e do passado, do presente e do futuro...se me demonstrarem que eu sou o único a pensar assim, só me resta uma escolha, mesmo que difícil. Primeiro que tudo quero que me digam claramente se vivem no paraíso e eu sou aquele “diabo” que gosta de inventar e fomentar divisões, mal-entendidos e guerras. Quando uma pessoa é hostilizada e marcada como inimiga e má pessoa e no seu íntimo ela se sentir bem consigo mesma e com Deus, o que fazer então?

                                                                     
José Nunes Martins


24.6.21

MALCATA: FESTA DE SÃO JOÃO SINGULAR

   










   Hoje é Dia de São João, um homem que é santo, milagreiro e muito popular em Portugal. E sendo tão popular, o povo arranjou muitas maneiras de o celebrar. E na freguesia de Malcata, todos os anos, o dia 24 de Junho se festeja o santo. Esta festa popular levava algum tempo a preparar e por isso, algumas semanas antes deste dia, a rapaziada iam procurar o pinheiro que tivesse a altura e grossura que precisavam para dele fazerem o “mastro” para a festa. Lembro-me de olhar lá bem para cima do mastro, que se erguia direitinho até ao céu, ali no Rossio.       Com esta coisa da pandemia do Covid 19 não tem havido folia são-joanina. Resta-nos ficar pelas lembranças de festas passadas, cheias de memórias que também nos ajudam a compreender e a perpetuar as tradições populares da nossa gente. Aqui deixo algumas imagens que retratam algumas das festas de São João na nossa aldeia, dia de diversão e alegria.
                                                                        José Martins

PS: Se as imagens que publico incomodarem alguma das pessoas em causa, agradeço que enviem essa informação.




                                                                Fotos:


   




12.6.21

MALCATA: LUGARES E ESPAÇOS PÚBLICOS

Aguardando a abertura

 

      A aldeia de Malcata, pode até ser considerada aquela que apresenta a entrada mais bela e com uma fantástica paisagem. Mas a sua beldade também é feita de alguns pequenos pormenores. E quanto a dar importância às coisas, eu facilmente me perco e fixo neles, principalmente naquelas situações em que a grande diferença e os êxitos, por vezes, estão precisamente nos detalhes mais simples e mais pequenos. Para mim amar Malcata é também saber olhar para os pequenos detalhes, o que normalmente todos olham, mas são muito poucos os que deles falam.
   Os espaços públicos da nossa freguesia têm que existir e contribuir para atrair os habitantes da freguesia e quem a visita. Sempre que se pretende mexer nos espaços públicos, quem o faz, tem com certeza a ideia que vai melhorar ainda mais aquele lugar. Sabemos que quem governa a aldeia é que tem o poder de mandar executar. Vivendo nós numa democracia, ficava bem que algumas decisões, antes de aprovadas para execução, fossem colocadas em consulta pública e durante determinado espaço temporal as pessoas terem oportunidade de consultar e assimilar o que está em causa, dando até contributos para uma decisão mais abrangente.
    Desconheço como foi decidido a colocação do busto de Camões onde ele se encontra. O que sei é que a freguesia assimilou bem o novo ordenamento daquele espaço. A freguesia sentiu e continua a sentir-se agradecida pela homenagem que quiseram oferecer. Um lugar onde havia castanheiros, sem nome, sem identidade, a partir de 1965 passou a chamar-se “Camões”.
   E em Malcata tenho a certeza que há lugares e espaços públicos a precisar de serem valorizados, de se transformar em lugares atraentes. Não tenho dúvidas que a pintura do lince em Malcata, foi com a intenção de melhorar o Largo de Camões, atrair visitantes à freguesia e ser uma forma de lembrar uma das marcas identitárias da nossa aldeia. Se assim não foi, se foi simplesmente para imitar o que outras aldeias já têm, não querendo a nossa terra ficar para trás, então a coisa complica-se ainda mais. Gosto do lince e aprecio aquele lince pintado por Styler. A qualidade do artista e do seu trabalho é boa. gosto do colorido, tem vida de felino e os olhos dele seguem quem ali passa. Infelizmente já não consigo estar de acordo com a escolha daquelas paredes para o lince, mesmo até sabendo que a ideia foi dada pelo artista. Sabem, não consigo encontrar uma ligação, uma particularidade que ligue o Camões com o lince, ou dizendo de outra maneira, entre o que já existia e o que agora lá foi deixado. Ficou melhor o espaço? A pintura veio dar mais valor ao busto? Como se vê, são algumas das perguntas que eu me faço a mim mesmo. É que, por muito que imagine, aquele espaço não ficou melhor e está ali uma atração nova que ainda vai dar que falar. Não faltavam e não faltam espaços públicos na freguesia à espera de visibilidade e atração. Termino com uns pozinhos de ironia, sem maledicência, com um conselho aos futuros governantes: por favor, não mandem escrever os versos do Camões nas paredes do CILI, mas pelo menos, pintem coelhos!
                              José Martins


12.5.21

LINCE IBÉRICO CHEGOU A MALCATA PELA MÃO DE STYLER

 




                                                          CONHECE O ARTISTA?

   







Styler é um artista de Arte Urbana que pinta as paredes de estruturas em espaços públicos por cidades, vilas e aldeias que o convidarem para esse trabalho. João Cavalheiro, é o seu nome próprio, é um artista luso-francês, com um currículo comprovado neste tipo de arte. 



Algumas das suas obras:



João Cavalheiro nasceu em nasceu em Lille, França nos anos 90. Iniciou a pintura mural em meados de 2004 e define-se como autodidata. Com o graffiti adquiriu a sua experiência e técnica com que hoje expressa maioritariamente a sua arte em spray sobre murais e espera vir a ganhar mais nome além fronteiras.

Mural na cidade do Sabugal



Para melhor conhecer a sua arte, que ele, com tanto génio, vai deixando gravada por todo o lado, consulte as suas páginas. E fique atento à Street Art de que Malcata e outras aldeias do Sabugal se podem orgulhar.

   Um agradecimento ao artista pela publicação das fotografias.

Faceboook: https://www.facebook.com/JoaoCavalheiroStyler/

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Instagram: https://www.instagram.com/stylerone90/?hl=pt


STYLER MOSTRA A SUA ARTE EM MALCATA




Lince da Malcata by Styler, em Malcata

















4.5.21

A DEMOCRACIA TEM COR?

 


  Desde 1976 que as dinâmicas de transformação social, económica e cultural da nossa freguesia estão a ocorrer no mesmo sentido político. O percurso feito até hoje é que nos levou ao ponto onde nós estamos. Nestes 45 anos de democracia a inexistência de verdadeiros debates de ideias
são para mim motivo de preocupação e inquietude, revelando o domínio do pensamento único e comum a toda a comunidade. Esta realidade merece uma reflexão longa, aprofundada e séria. Esta não é a democracia da liberdade, da pluralidade, mesmo que ela pareça existir, é palpável a sua ausência.
  A insatisfação sentida por alguns dos cidadãos da nossa freguesia e aquela sensação de que faz falta mudar algumas coisas para restabelecer uma democracia participativa, plural, respeitadora das ideias de cada pessoa ou grupo.
  O que acontece é o mesmo em todas as eleições autárquicas. Independentemente das pessoas, dos projectos e das ideias, independentemente das promessas feitas e dos resultados alcançados, é muito mais importante e decisivo a cor do símbolo partidário. Malcata é uma freguesia que vive resignada e num comodismo tal, que não é difícil adivinhar o seu futuro. Preocupa-me a falta de ideias e de confronto dessas mesmas sem que acabe em acusações e desavenças. Talvez por isso as alternativas tenham muitas dificuldades em serem aceites. Esta forma de entender a democracia é diferente da democracia da liberdade de pensamento e acção. Quando um povo, ou a sua maioria, se acomoda e desiste de apresentar alternativas, aceita aquilo que determinado grupo político apresenta, sem sequer colocar a mais pequena dúvida, sem qualquer sentido crítico, é um povo aprisionado por livre vontade. Mesmo que se sinta uma ligeira e legítima sensação e insatisfação e sentimento que alguma coisa devia mudar e tentar restabelecer a confiança das pessoas na democracia mais participativa e abrangente, os medos e as inseguranças deitam por terra esses desejos.
  Na nossa freguesia repetem-se as promessas e não as acabam, insistem nos mesmos erros e o que nasceu torto não se endireita e para espanto de alguns a escolha recai no mesmo na esperança de que agora vai mudar.
   A nossa freguesia já se acostumou a viver assim e cresce a apatia e o desinteresse pelas políticas governativas.
  Olharmos para o passado com um pensamento crítico e focar o andar no caminho a seguir é o que deve ser feito. Conhecer e compreender o passado, o que foi e não foi feito, deve fazer-nos reflectir no que realmente desejamos e queremos ser, fazer e ter na nossa freguesia.
  A democracia vive da pluralidade e da liberdade, do debate e do confronto de ideias. Respeitar as ideias de todos e escolher as melhores em qualidade é o que nos espera daqui a uns meses. O passado é importante e está muito para além dos acontecimentos que já passaram. Os resultados e o valor acrescentado à nossa aldeia, beneficiando as pessoas é o que realmente importa. Reconhecer erros e comunicá-los em vez de os esconder, reivindicar e apresentar verdadeiras alternativas é a atitude que se necessita. Fazer melhor, fazer mais e melhor é um bom princípio, mas tem que se juntar o compromisso e a transparência devida.
              por Josnumar       
            
José Nunes Martins