O que aconteceu
também acontece connosco quando passamos por momentos de sofrimento e de perda.
Vemos e não queremos ver, as pessoas andam demasiado agitadas e a realidade de
tudo o que está a acontecer parece um sonho, é como se não estivéssemos a
participar. Sabemos que o levaram para um lugar escuro e descansados porque a
chuva nem os cabelos pode molhar, continua o seu sono profundo. Muitas mulheres
ficam com os lenços de pano completamente encharcados, menos molhados os lenços
dos homens, convencidos que para ser homem não podem chorar. Depois da cerimónia fúnebre todos regressam às
suas casas, aos seus afazeres do costume.
O dia e a noite deste sábado custa a
passar. E a impaciência vai ser tanta que as amigas de Maria combinam ir ao
cemitério verificar se nada foi mexido ou derrubado.
Viram a pedra da sepultura desviada
para o lado, sinal que alguém entrou e apoderou-se de alguma coisa que no dia
anterior lá foi deixada. A certeza é que a pedra foi retirada do seu sítio e
qualquer pessoa entrava e saía. As mulheres entraram e viram que o morto
desaparecera durante a noite. Mas que mistério…fugiram e correram como nunca
tinham conseguido correr até à casa da mãe de Jesus.
- Maria, ó Maria anda cá depressa!
- Ó Maria, despacha-te e vem depressa!
A Maria levantou o testo da panela e
voltou a deixá-lo de maneira a sair os vapores da água do caldo que já estava
quase prontinho. O que quererão aquelas mulheres de mim? O que terá pensado
Maria enquanto desapertava o avental e abria a porta de casa?
- Levaram o teu filho!
- Ai mulher, só tu para nos acalmar,
estamos todas aqui num nervosinho e tão aflitas,
e tu está aí tão tranquila! Vem com nós, levaram Jesus, não o encontrámos no
túmulo!
- Minhas queridas, onde estais com a
cabeça? Porque estais assim tão aflitas e surpreendidas? Lembrai-vos das
conversas destes últimos dias e ficareis tranquilas como eu estou. Olhai para
mim, a comida está ao lume e espero por Jesus para nos sentarmos à mesa do
costume para comer. Ide mas é à vossa vida, ide amanhar as vossas casas e
tratar dos vossos homens e filhos. Se eu não acreditasse no meu filho,
quem vai acreditar? Sempre achei que era especial e ide porque eu ainda tenho
mais coisas a preparar para a ceia. De qualquer forma, obrigadas pela vossa
preocupação.
- Madalena, deixa-a em paz e na
companhia das panelas e alguidares, vamos cada qual para sua casa e logo
pensamos o que fazer.
Maria acenou com a mão direita e
sorriu, voltou para a cozinha e as mulheres cada uma para sua casa.
Nota: esta história é ficção, mas
ajudou-me a esclarecer a importância de acreditar, de viver a fé. Esta é a
explicação que tenho para justificar a decisão de Maria e não acompanhar as
outras mulheres a verificar o sepulcro. Ela sabia e acreditava que Jesus
regressaria a casa, não sabia como ou quando.
A vida é mesmo uma surpresa!