Malcata
continua a ser notícia na comunicação social. Ultimamente tem-se escrito muito
sobre o aumento do número de torres eólicas à volta da aldeia. Sabemos que
alguns residentes em Malcata estão de acordo e afirmam que até são uma mais
valia para a terra, são sinal de desenvolvimento e vieram valorizar terrenos
que nada valiam.
As eólicas não apareceram do dia para a noite, mas foram implantadas aos
soluços e hoje já contamos 19 e querem instalar mais 6, desconhecendo se a
coisa fica por aqui.
Como é que a população da aldeia de Malcata tem lidado com a
industrialização dos seus montes?
Os residentes em Malcata são quem mais estão incomodados com a presença das
torres metálicas, bem visíveis de qualquer canto da povoação e que a ninguém
passam despercebidas. Daí existir mais oposição
dos habitantes de Malcata em relação os habitantes do Meimão.
Já pensaram o que será daqui a 20, 30 ou 50 anos? Quando as torres eólicas
ficarem obsoletas e já não derem lucro e for necessário desactivar o parque
eólico, o que se seguirá? Limpar tudo e deixar tudo como estava é a obrigação
da empresa detentora do parque eólico. Mas será de acreditar que nos espaços
onde durante esses anos todos existiram toneladas de cimento, ferro e outros
metais, bem enterrados e pisados pelas máquinas usadas na sua construção,
renasçam frondosas árvores ou novas cearas?
Oxalá esteja errado, pois quando esse dia chegar, os planos escritos e
aprovados se forem mesmo cumpridos, tudo voltará a ser como era no passado. Por
essa altura já eu e muitos de nós não poderemos ver e não sei se os nossos
filhos ou netos estarão interessados nisso.
A luta de hoje, que fique claro, não é contra a energia eólica. A luta hoje é a
favor do nosso património natural, da nossa paisagem, da qualidade de vida e o
bem- estar dos que vivem em Malcata e também dos que desejarem um dia viver em
Malcata num ambiente limpo, tranquilo e saudável.
A luta de hoje é contra aqueles que querem criar a desordem no território que
não é deles, mas de todos nós, reconhecido a nível nacional e internacional,
como território com valor patrimonial natural e paisagístico. Não podemos
esquecer a classificação atribuída à Serra da Malcata e a Albufeira da
Barragem. Se para umas coisas o povo de Malcata está impedido de alterar ou
realizar obras, porque razão outros estranhos podem? Os impactos negativos da
existência das torres eólicas são sentidos mais pelos malcatenhos que aqueles
que investiram nesta obra, pois são os residentes na aldeia que diariamente
vivem perto delas.
Para além das rendas anuais recebidas pelos donos dos terrenos onde instalaram
eólicas, que outros rendimentos existem? Sabe-se que a Câmara Municipal de
Penamacor e a Câmara Municipal do Sabugal ganham 2,5%, mas não nos revelam o
seu valor em euros. Porque não dão a conhecer esses rendimentos? Tem havido um
completo desconhecimento por parte dos habitantes de Malcata e dos munícipes do
Sabugal, dos destinos dados ao dinheiro recebido. Porque não revelam o fim
desse dinheiro?
Ao não dar o que recebem e onde aplicam os rendimentos do parque eólico, no meu
entender, tanto a Câmara Municipal do Sabugal como a Junta d Freguesia de
Malcata, estão a falhar. Seria bom, caso esteja a haver ou vá existir,
rendimentos para além dos recebidos pelos proprietários particulares, dar a
conhecer os valores recebidos e onde investiram ou irão investir ou gastar esse
dinheiro.
Malcata é uma aldeia com poucos residentes e muitas das habitações permanecem
vazias durante quase todo o ano. São casas de emigrantes e estes vêm à terra
uma ou duas vezes durante o ano. Não acompanham devidamente o processo de
construção do parque eólico. E tem sido através dos jornais, das televisões e
das redes sociais que seguem à distância o desenrolar das obras.
Em Malcata, falar das “ventoinhas” ou das “caravelas” tem sido assunto tabu e
até ao surgimento do movimento “Malcata Pró-Futuro” as pessoas mostravam-se
receosas e com medo de falar sobre esse assunto. Desconheço as razões dessa
forma de pensamento, mas as eólicas não deixam de ser motivo de conversas nos
cafés e nas ruas da aldeia, onde cada qual expressa a sua opinião. Contudo e
apesar de cada um expressar a sua opinião, muitos têm ainda receios e medos de
revelar em público aquilo que realmente é o seu sentimento. Esses receios e
esses medos se estiverem relacionados com o poder local, venha ele de onde
vier, então é um ponto que nos deve merecer maior atenção.
As pessoas de Malcata não se podem alhear do presente e não podem ignorar o que
é real aos seus olhares. Ao apostar tudo no presente, isto é, ao aceitar tudo
sem se perguntar o porquê e o que se ganha com isso, estamos a desprezar o
futuro da aldeia. É chegada a altura dos malcatenhos saírem da sua lareira e do
quentinho do lume e mostrarem que são contra todos aqueles que apenas desejam e
ambicionam o seu próprio bem-estar.