18.9.22

POSTAL PARA A JUNTA DE FREGUESIA DE MALCATA

 

Queridos fregueses, abram a caixa do correio...

    Uma “página franciscana” de tão pobre !
   S. Francisco de Assis, filho de comerciantes italianos, viveu humildemente e desprendido dos bens materiais, dos lugares de poder e viveu a servir o seu irmão, o seu povo. Bem longe de muitos homens que gostavam de mandar e muitas vezes recorriam à prepotência e à arrogância e por ser humilde e tão bom, acabou perseguido e viveu pobre.
   Ora, a página da nossa Freguesia tem sido tão pobre, vazia de informação relevante e importante para os fregueses, sem funcionalidades de consultas, de resolução de situações à distância, a expressão que me ocorreu para definir o estado da página é mesmo esta da “pobreza franciscana ”.
   Passo a explicar: a junta de freguesia já teve três link’s (páginas) e sucumbiram, estão em estado ofline, desconhecidas...

   Perguntei pelo endereço oficial (página) da Junta de Freguesia e até hoje não recebi resposta. Entretanto, nas minhas pesquisas encontrei o único link que abre uma página da Freguesia de Malcata: https://malcata.sabugal.pt/

   Já perguntei à JFM se era esta a nova página. Receberam os malcatenhos alguma informação? Talvez não, porque também a mim de nada me adiantou perguntar.
   Onde está a promessa da promoção de maior aproximação e envolvimento entre a autarquia e as pessoas? Para que servem as duas páginas que a Junta de Freguesia tem na internet? Anunciar Assembleias de Freguesia? Então e depois nada informam sobre os assuntos lá tratados? Para anunciar encontros, jogos de bola, jogos de cartas, com almoço ou com lanches ajantarados? São bons e fortalece a amizade, o convívio, o espírito de boa vizinhança e sim, são importantes e devem continuar a realizar-se. Mas, senhores da junta, sendo de elogiar, não basta e estes eventos deviam merecer maior divulgação nas páginas da Junta de Freguesia. Mas mais importante é colocar as ferramentas tecnológicas ao serviço da freguesia e dos malcatenhos, independentemente do lugar onde se encontrem. Onde é que um cidadão pode realizar aquelas problemáticas burocráticas, como um atestado, uma declaração, uma compra de um lugar no cemitério, sem ter necessidade de ir pessoalmente à secretaria da Junta que só abre umas horas?
   Erros também eu cometo, mesmo não tendo a intenção de errar eles acontecem e procuro corrigir. Para lá do que já disse atrás, há necessidade de rever os conteúdos existentes na página. A informação disponibilizada é incompleta, escassa, errada. Por exemplo, o presidente da Assembleia de Freguesia é também presidente da Junta de Freguesia! Nem toda a gente sabe que é mentira, é um erro involuntário e como este existem outros parecidos.
   Talvez pouca gente em Malcata tenha conhecimento das obrigações e deveres que qualquer junta de freguesia tem de cumprir pelo respeito à Lei das Autarquias Locais. Só que os membros da Junta de Freguesia conhecem e têm consciência do incumprimento e do risco a que estão sujeitos, caso haja queixa fundamentada. Por exemplo, a obrigatoriedade da divulgação de documentos.
   A pobreza de ideias ou a inexistência de capacidade intelectual e técnica para manter uma página oficial na internet sob responsabilidade da Junta de Freguesia de Malcata, sabem bem, que não servirá de alibi, de desculpa.
   Pelo bem da freguesia e dos malcatenhos, facilitem o acesso livre à informação, aos serviços online.

17.9.22

A. C. D. M. - MALCATA: HARMONIA E CULTURA PRECISAM-SE !

Uma harmonia difícil de concretizar...


   Longe vão os tempos em que na nossa aldeia se jogava a bola, nos anos 70 a 90, facilmente se arranjavam duas equipas para se divertirem com uma bola. Geralmente juntavam-se na tapada da Corela, que tinha as condições mínimas e estranhas para servir de estádio. Aquele sim era um campo inclinado e os jogadores queriam lá saber disso, o mais importante era marcar golos entre os dois montes de pedras e na baliza imaginária.
   Um dia de inspiração levou um grupo de rapazes a criar uma associação que se encarregasse de organizar jogos de futebol e outras actividades culturais. E foi com o desporto que a associação deu um empurrão, pois passou a ser responsável pela fomentação e organização das actividades ligadas ao desporto e à cultura. Fazia falta uma entidade que periodicamente se dedicasse a organizar actividades lúdicas, de desporto e cultura.
   Apesar do trabalho e do empenho das diversas direcções à frente da associação, nunca conseguiram parar o êxodo dos jovens para fora da aldeia e só no tempo das férias escolares é que as portas da associação estavam abertas. Tudo ficava adormecido e isso notava-se porque as actividades assim se organizavam.
   Houve uma direcção que viu no atletismo uma boa medida e uma excelente oportunidade de alargar a oferta desportiva da associação. O desporto não é só futebol e o atletismo tinha espaço de crescimento e com um treinador federado e o apoio da Associação de Atletismo da Guarda, foi o empurrão que faltava para a abertura da secção de atletismo.  Esta ideia ganhou ainda mais força no ano da celebração dos 25 anos da associação. A comemoração foi um marco histórico e levou a marca da presença do campeão mundial de atletismo Carlos Lopes.
Passou um dia na nossa freguesia, assistiu às diversas provas de atletismo e cumprimentou todos os atletas, em especial os vencedores, a quem lhes entregou os respectivos prémios.
   Foi de facto um dia memorável para a associação e para a freguesia. E a alegria de correr, a vontade de querer ser melhor e vencer, a secção de atletismo deu cartas e algumas dores de cabeça aos atletas das outras associações. O atletismo passou a ser a estrela da associação, enquanto o futebol ia perdendo cada vez mais praticantes, mesmo após a construção do polidesportivo.
   A secção de atletismo apostou forte e nas qualidades e capacidades do seu treinador e a união e dedicação dos familiares dos atletas aliada aos sonhos dos jovens atletas, levou-os a alcançar vitórias nunca tentadas ou alcançadas. 
   Um ano, dois anos...e mais anos, veio o cansaço, o desânimo e o vendaval que soprou com tal intensidade, derrubou a casa que se estava a construir e não houve discernimento nem forças para voltar a reerguer aquela secção da associação. E agora nem bola e nem atletismo.
Ficaram os convívios e alguns jogos de cartas, onde os reis, as damas e os cavalos têm pesos diferentes daquele jogo que tanto ajuda a desenvolver o cérebro dos que o jogam. O xadrez não é para todos e alguns maus hábitos também não são compatíveis com quem tenha vontade e querer de vencer uma guerra entre dois reis. Agora o que resta são alguns vestígios das actividades passadas, que deixaram marcas brancas nas calçadas, que já deviam ter sido definitivamente apagadas porque deixaram de ser úteis e só poluem a aldeia.
   Termino com esta interrogação que me está aqui na cabeça:
   Para onde caminhas Associação Cultural e Desportiva de Malcata?
                José Nunes Martins

    

10.9.22

OS FORNOS DE COZER PÃO EM MALCATA

 


 O pão foi durante muitos anos tão importante na vida das pessoas como era ter boa saúde. Ainda hoje é um alimento presente em todas as casas e refeições.  Para haver pão à mesa, não precisamos de ter nas nossas casas um forno. O número de padarias é grande e o pão podemos comprá-lo em muitos estabelecimentos ou sair de casa e esperar pela carrinha do padeiro, que percorre as ruas da nossa aldeia a vender pão e outros produtos de fabrico diário.
   Mas é preciso dizer que noutros tempos, para haver pão na mesa lá de casa, a minha mãe, primeiro tinha que semear o grão, ceifar, malhar, entregar ao moleiro e depois de moído, a farinha ainda se tinha de amassar, deixar levedar e combinar o dia para o cozer no forno. Muitas voltas que se davam para o pão ficar cozido no forno do Rossio, não é verdade?


   Os ventos trouxeram mudança de hábitos quando as pessoas abalaram para fora da aldeia. A povoação ficou cada vez mais espaçosa e sem pessoas com vontade de continuar todo este longo ciclo do pão. Começaram a vir diariamente os padeiros e aos poucos as pessoas esqueceram o pão cozido nos fornos. A juntar à queda das sementeiras de centeio, trigo e o descanso de poder comprar pão do dia à porta de casa, há que acrescentar a falta de forneiras e de pessoas que se encarregassem de ir à lenha. Também quem construía casa, muitas famílias passaram a ter um forno mais pequeno onde se passou a cozer pão.



   Como nasci na época de 60, eu ainda me lembro de existirem dois fornos de cozer pão. E hoje, ainda há o forno no Rossio, que em 2006 foi reconstruído e cada vez que é aquecido,
quando o cheiro começa a entrar pelo nosso nariz, esse cheirinho a pão quente... .
   Não vou terminar aqui a história dos fornos de cozer pão. Cozer o pão dava muito trabalho. Também quem ia para o forno, se queria sair de lá com uma boa fornada, tinha que saber e fazer uma série de passos, ensinados pelas mulheres mais experientes. Utilizavam ferramentas e dizeres que já vinham dos seus antepassados. E se agora nos colocarmos no papel de uma pessoa que quer cozer pão? Quem me ajuda a compreender estas coisas:
   Que lenha traziam da serra para aquecer o forno?
   Como marcavam os dias de fornadas?
   Que ferramentas usavam no manuseio do forno e do pão?
   Como sabiam a temperatura correcta do forno?
   Nomes de pessoas a que chamavam “forneira”?
 
   É importante falar sobre estes fornos antigos, das nossas tradições, das crenças e rezas. E os nomes que na aldeia dão às coisas são muitas vezes de uso apenas na nossa terra.
   Por tudo isto, não guardem só para vós os vossos conhecimentos sobre estas riquezas patrimoniais, materiais e imateriais. Tal como acontece com as pessoas quando partem para o Além, levam as memórias e saberes com eles e quem fica, não sabe o valor que perde! É importante por isso partilhar estas riquezas com as outras pessoas como nós.
                                                                        José Nunes Martins

   

   
   

9.9.22

AS MINHAS HISTÓRIAS NA ALDEIA ONDE NASCI

    

A caminho do Ozival 

                                                        CONTA-ME  COMO  FOI ...

   Vou contar-vos uma cena que se passou na aldeia que todos guardamos no coração. Esta pequena história é ficção, embora pareça verdadeira, não é real. É um recordar e um reviver de situações reais, com pessoas e lugares que existiram nessa aldeia. É apenas uma história das muitas histórias que eu vivi em criança. E a história começa na cozinha lá de casa:
_ Vou à loja ordenhar a vaca, ver se consigo tirar leite para fazermos um queijo - disse a minha mãe enquanto apertava o avental arás das costas. Pegou no balde habitual e desceu as escadas até à loja. 
   Era o tempo do frio e da chuva, o Inverno na aldeia costuma ser assim e as manhãs eram mesmo frias.
   Eu fiquei ao lume, a olhar para a fatia de pão que estava a torrar em cima da grelha de ferro. As brasas estavam fortes e uma pequena distração transformaria o pão em carvão. Pão torrado na grelha e depois um fio de azeite a fazer de manteiga, torna aquela coisa numa deliciosa torrada. E assim me soube, acompanhada de uma chávena de cevada. Com a barriga composta, fui ter com a minha mãe à loja. Entrei devagar para não assustar a "Amarela", nome que os meus pais puseram ao animal. 
   A minha mãe falou:
_ Amanhã vou ao Ozival de manhã cedo. Levo o carro cheio de esterco e depois há que o espalhar pelo chão todo. Temos de aproveitar este tempo sem chuva e estrumar o chão para depois semear as batatas.
A Ti Céu já lá andou ontem com o tio a espalhar no chão deles e amanhã já acaba de espalhar tudo. Temos que fazer isto antes que a terra fique gelada e depois da terra ficar dura, não dá para lavrar.
_ De manhã cedinho?! Mas por que raio a mãe tem que ir cedo? Ainda está noite e não tem necessidade
 de se sacrificar tanto. - disse eu.
   A minha mãe, mulher mais trabalhadora eu não conheci, sorriu e respondeu assim:
_ Ó filho, vou cedo e a luz vai aparecendo e quando lá chegar já se vê bem a terra. Assim descarrego o carro e se o tempo estiver bom e com a terra enxuta, espalha-se logo. Tu não precisas de te levantar ao mesmo tempo do que eu. Prefiro que fiques a dormir e me leves o "almoço". Depois vimos os dois a jantar aqui a casa. Vá, ficamos assim combinados. Está bem? Mas não adormeças!
    E o diálogo ficou por aqui quando fomos interrompidos pelos dois chibos que tal como as crianças
pequenas, adoram dar saltos e pinotes. A vasilha com o leite estava praticamente cheia e a mínima distração podia uma das crias fazer derramar o líquido para a cama da vaca. E lá se ia o desejado queijo fresco que a minha mãe tanto quer fazer.

Explicação de algumas palavras:
Esterco = Estrume
"Almoço"= Pequeno Almoço
"Jantar" = Almoço
Chibos = Cabritos
                                    José Nunes Martins
   

   
   
 

7.9.22

VÃO COM DEUS E ATÉ PARA O ANO!

    

   


   Depois de passarem o mês de Agosto na aldeia e a festa terminada, os emigrantes regressam aos países onde trabalham. Para trás deixam a aldeia mais vazia e abalam de coração apertado e com o pensamento na contagem decrescente do número de dias para voltar ao seu cantinho beirão.
   Os preparativos da viagem de regresso são momentos difíceis e as malas não têm espaços livres para acomodar a saudade. Alguns já estão habituados a partir de malas feitas, mas dizem que a melhor estrada é aquela que os traz de Paris a Malcata ( Martine Martins, em declarações à SIC). 
   Uma reportagem que passou há dias no programa "Casa Feliz", emitido pela SIC, uma nossa conterrânea, que também se encontra a trabalhar em Paris, de forma sublime e sentida, partilhou com os telespectadores os seus sentimentos e os seus afazeres na preparação da viagem de regresso a França. Martine Martins foi a estrela da reportagem e aproveitou a oportunidade para revelar o seu apego e carinho pelos malcatenhos, pela aldeia e por tudo aquilo que as pessoas podem encontrar na terra do seu coração. A partida é sempre difícil e desta vez, pela video chamada que houve em directo, ficámos a saber que a viagem de regresso correu bem. 
   "Vai com Deus e até para o ano"!
   
 Vejam o link aqui:

  https://sic.pt/programas/casafeliz/casa-feliz-2-de-setembro-parte-1/?fbclid=IwAR0uOG17Zi-sR6dmo81ill7L5LHmvuZrWHoKTgtnj_nDJgx-zWHvlIGBKRc

 




      O desejo da Martine Martins foi realizado:  estar em Malcata e participar na festa! E um agradecimento merecido a uma outra malcatenha, que não perde uma oportunidade para promover a aldeia de todos nós: Raquel Jorge, elemento da Redação "Casa Feliz".