10.9.22

OS FORNOS DE COZER PÃO EM MALCATA

 


 O pão foi durante muitos anos tão importante na vida das pessoas como era ter boa saúde. Ainda hoje é um alimento presente em todas as casas e refeições.  Para haver pão à mesa, não precisamos de ter nas nossas casas um forno. O número de padarias é grande e o pão podemos comprá-lo em muitos estabelecimentos ou sair de casa e esperar pela carrinha do padeiro, que percorre as ruas da nossa aldeia a vender pão e outros produtos de fabrico diário.
   Mas é preciso dizer que noutros tempos, para haver pão na mesa lá de casa, a minha mãe, primeiro tinha que semear o grão, ceifar, malhar, entregar ao moleiro e depois de moído, a farinha ainda se tinha de amassar, deixar levedar e combinar o dia para o cozer no forno. Muitas voltas que se davam para o pão ficar cozido no forno do Rossio, não é verdade?


   Os ventos trouxeram mudança de hábitos quando as pessoas abalaram para fora da aldeia. A povoação ficou cada vez mais espaçosa e sem pessoas com vontade de continuar todo este longo ciclo do pão. Começaram a vir diariamente os padeiros e aos poucos as pessoas esqueceram o pão cozido nos fornos. A juntar à queda das sementeiras de centeio, trigo e o descanso de poder comprar pão do dia à porta de casa, há que acrescentar a falta de forneiras e de pessoas que se encarregassem de ir à lenha. Também quem construía casa, muitas famílias passaram a ter um forno mais pequeno onde se passou a cozer pão.



   Como nasci na época de 60, eu ainda me lembro de existirem dois fornos de cozer pão. E hoje, ainda há o forno no Rossio, que em 2006 foi reconstruído e cada vez que é aquecido,
quando o cheiro começa a entrar pelo nosso nariz, esse cheirinho a pão quente... .
   Não vou terminar aqui a história dos fornos de cozer pão. Cozer o pão dava muito trabalho. Também quem ia para o forno, se queria sair de lá com uma boa fornada, tinha que saber e fazer uma série de passos, ensinados pelas mulheres mais experientes. Utilizavam ferramentas e dizeres que já vinham dos seus antepassados. E se agora nos colocarmos no papel de uma pessoa que quer cozer pão? Quem me ajuda a compreender estas coisas:
   Que lenha traziam da serra para aquecer o forno?
   Como marcavam os dias de fornadas?
   Que ferramentas usavam no manuseio do forno e do pão?
   Como sabiam a temperatura correcta do forno?
   Nomes de pessoas a que chamavam “forneira”?
 
   É importante falar sobre estes fornos antigos, das nossas tradições, das crenças e rezas. E os nomes que na aldeia dão às coisas são muitas vezes de uso apenas na nossa terra.
   Por tudo isto, não guardem só para vós os vossos conhecimentos sobre estas riquezas patrimoniais, materiais e imateriais. Tal como acontece com as pessoas quando partem para o Além, levam as memórias e saberes com eles e quem fica, não sabe o valor que perde! É importante por isso partilhar estas riquezas com as outras pessoas como nós.
                                                                        José Nunes Martins

   

   
   

9.9.22

AS MINHAS HISTÓRIAS NA ALDEIA ONDE NASCI

    

A caminho do Ozival 

                                                        CONTA-ME  COMO  FOI ...

   Vou contar-vos uma cena que se passou na aldeia que todos guardamos no coração. Esta pequena história é ficção, embora pareça verdadeira, não é real. É um recordar e um reviver de situações reais, com pessoas e lugares que existiram nessa aldeia. É apenas uma história das muitas histórias que eu vivi em criança. E a história começa na cozinha lá de casa:
_ Vou à loja ordenhar a vaca, ver se consigo tirar leite para fazermos um queijo - disse a minha mãe enquanto apertava o avental arás das costas. Pegou no balde habitual e desceu as escadas até à loja. 
   Era o tempo do frio e da chuva, o Inverno na aldeia costuma ser assim e as manhãs eram mesmo frias.
   Eu fiquei ao lume, a olhar para a fatia de pão que estava a torrar em cima da grelha de ferro. As brasas estavam fortes e uma pequena distração transformaria o pão em carvão. Pão torrado na grelha e depois um fio de azeite a fazer de manteiga, torna aquela coisa numa deliciosa torrada. E assim me soube, acompanhada de uma chávena de cevada. Com a barriga composta, fui ter com a minha mãe à loja. Entrei devagar para não assustar a "Amarela", nome que os meus pais puseram ao animal. 
   A minha mãe falou:
_ Amanhã vou ao Ozival de manhã cedo. Levo o carro cheio de esterco e depois há que o espalhar pelo chão todo. Temos de aproveitar este tempo sem chuva e estrumar o chão para depois semear as batatas.
A Ti Céu já lá andou ontem com o tio a espalhar no chão deles e amanhã já acaba de espalhar tudo. Temos que fazer isto antes que a terra fique gelada e depois da terra ficar dura, não dá para lavrar.
_ De manhã cedinho?! Mas por que raio a mãe tem que ir cedo? Ainda está noite e não tem necessidade
 de se sacrificar tanto. - disse eu.
   A minha mãe, mulher mais trabalhadora eu não conheci, sorriu e respondeu assim:
_ Ó filho, vou cedo e a luz vai aparecendo e quando lá chegar já se vê bem a terra. Assim descarrego o carro e se o tempo estiver bom e com a terra enxuta, espalha-se logo. Tu não precisas de te levantar ao mesmo tempo do que eu. Prefiro que fiques a dormir e me leves o "almoço". Depois vimos os dois a jantar aqui a casa. Vá, ficamos assim combinados. Está bem? Mas não adormeças!
    E o diálogo ficou por aqui quando fomos interrompidos pelos dois chibos que tal como as crianças
pequenas, adoram dar saltos e pinotes. A vasilha com o leite estava praticamente cheia e a mínima distração podia uma das crias fazer derramar o líquido para a cama da vaca. E lá se ia o desejado queijo fresco que a minha mãe tanto quer fazer.

Explicação de algumas palavras:
Esterco = Estrume
"Almoço"= Pequeno Almoço
"Jantar" = Almoço
Chibos = Cabritos
                                    José Nunes Martins
   

   
   
 

7.9.22

VÃO COM DEUS E ATÉ PARA O ANO!

    

   


   Depois de passarem o mês de Agosto na aldeia e a festa terminada, os emigrantes regressam aos países onde trabalham. Para trás deixam a aldeia mais vazia e abalam de coração apertado e com o pensamento na contagem decrescente do número de dias para voltar ao seu cantinho beirão.
   Os preparativos da viagem de regresso são momentos difíceis e as malas não têm espaços livres para acomodar a saudade. Alguns já estão habituados a partir de malas feitas, mas dizem que a melhor estrada é aquela que os traz de Paris a Malcata ( Martine Martins, em declarações à SIC). 
   Uma reportagem que passou há dias no programa "Casa Feliz", emitido pela SIC, uma nossa conterrânea, que também se encontra a trabalhar em Paris, de forma sublime e sentida, partilhou com os telespectadores os seus sentimentos e os seus afazeres na preparação da viagem de regresso a França. Martine Martins foi a estrela da reportagem e aproveitou a oportunidade para revelar o seu apego e carinho pelos malcatenhos, pela aldeia e por tudo aquilo que as pessoas podem encontrar na terra do seu coração. A partida é sempre difícil e desta vez, pela video chamada que houve em directo, ficámos a saber que a viagem de regresso correu bem. 
   "Vai com Deus e até para o ano"!
   
 Vejam o link aqui:

  https://sic.pt/programas/casafeliz/casa-feliz-2-de-setembro-parte-1/?fbclid=IwAR0uOG17Zi-sR6dmo81ill7L5LHmvuZrWHoKTgtnj_nDJgx-zWHvlIGBKRc

 




      O desejo da Martine Martins foi realizado:  estar em Malcata e participar na festa! E um agradecimento merecido a uma outra malcatenha, que não perde uma oportunidade para promover a aldeia de todos nós: Raquel Jorge, elemento da Redação "Casa Feliz".

31.8.22

SE É BOM É PARA SE VER E CONHECER

    

   
Promessas levadas pelos ventos. Pergunto mas ninguém me diz...

 

   O mês que muitos de nós gostamos está a acabar. Termina a época dedicada às festas populares e as aldeias vão voltar ao seu ritmo normal de vida.
   A festa do mês de Agosto, no segundo domingo, é a festa grande, é a festa que a maioria dos malcatenhos gostam de marcar presença. Lembro-me da alvorada logo de manhã cedo e que me fazia saltar da cama. Chegada a banda da música, as crianças corriam até ao cimo da estrada e acompanhavam os músicos pelas ruas da aldeia e de vez enquando, desapareciam a correr tapadas abaixo e acima à procura das canas dos foguetes. Voltavam a juntar-se ao desfile da banda exibindo com cara de vencedores a molhada de canas. Terminada a volta às casas dos mordomos e à aldeia, a banda mantinha-se em descanso até à hora da procissão com os santos nos andores e seguido de missa cantada por alguns elementos da “música” e acompanhadas as vozes com alguns instrumentos musicais tocados pelos músicos.
   Pois a festa já foi e consequentemente acabou também a enchente de gente nos locais mais emblemáticos da nossa terra. Este ano, ainda por causa da pandemia que nos atacou a todos, houve festa, um pouco mais contida e menos dias de folia, graças aos mordomos e aos muitos voluntários malcatenhos, tudo correu bem. Foi importante o apoio oferecido pela Junta de Freguesia durante a preparação do recinto da festa e dos eventos realizados na Praça do Rossio, que vieram engrandecer e dignificar os festejos: apresentação do livro “A Borboleta Que Não Tinha Nome”, da autoria de uma nossa conterrânea, enfermeira Manuela Vidal, tendo aceitado o convite feito pela Junta de Freguesia para este evento; também a realização da Feira de produtos artesanais animou durante duas noites o arraial.
  Lamentavelmente alguns dos locais de interesse na freguesia, partes importantes do património público, mantiveram-se encerrados ao público todo o Verão. Existem só que não são utilizados nem os damos a conhecer a quem nos visita e gostava de usufruir. Por exemplo, a Torre do Relógio, o Forno Comunitário, o Moinho, a albufeira da barragem é mais do que a Zona de Lazer e uma estrutura que flutuava na água, que deixou de atrair os banhistas que se habituaram a vê-la em pleno serviço de apoio aquele magnífico recanto de lazer. Para desgraça dos malcatenhos, as belezas naturais são desaproveitadas e por falta de ambição da nossa comunidade e falta de visão, a longo prazo, dos responsáveis do poder local, estamos como estamos porque assim aceitam que deve Malcata estar. Um céu muito negro e carregado de incertezas costuma ser revelador de maus dias...afastamento e reorientação de rumo apoiado na experiência e no conhecimento, se Malcata quer chegar a um porto seguro.
   A festa do mês de Agosto, no segundo domingo, é a festa grande, é a festa que a maioria dos malcatenhos gostam de marcar presença. Lembro-me da alvorada logo de manhã cedo e que me fazia saltar da cama. Chegada a banda da música, as crianças corriam até ao cimo da estrada e acompanhavam os músicos pelas ruas da aldeia e de vez enquando, desapareciam a correr tapadas abaixo e acima à procura das canas dos foguetes. Voltavam a juntar-se ao desfile da banda exibindo com cara de vencedores a molhada de canas. Terminada a volta às casas dos mordomos e à aldeia, a banda mantinha-se em descanso até à hora da procissão com os santos nos andores e seguido de missa cantada por alguns elementos da “música” e acompanhadas as vozes com alguns instrumentos musicais tocados pelos músicos.
   Pois a festa já foi e consequentemente acabou também a enchente de gente nos locais mais emblemáticos da nossa terra. Este ano, ainda por causa da pandemia que nos atacou a todos, houve festa, um pouco mais contida e menos dias de folia, graças aos mordomos e aos muitos voluntários malcatenhos, tudo correu bem. Foi importante o apoio oferecido pela Junta de Freguesia durante a preparação do recinto da festa e dos eventos realizados na Praça do Rossio, que vieram engrandecer e dignificar os festejos: apresentação do livro “A Borboleta Que Não Tinha Nome”, da autoria de uma nossa conterrânea, enfermeira Manuela Vidal, tendo aceitado o convite feito pela Junta de Freguesia para este evento; também a realização da Feira de produtos artesanais animou durante duas noites o arraial.
  Lamentavelmente alguns dos locais de interesse na freguesia, partes importantes do património público, mantiveram-se encerrados ao público todo o Verão. Existem só que não são utilizados nem os damos a conhecer a quem nos visita e gostava de usufruir. Por exemplo, a Torre do Relógio, o Forno Comunitário, o Moinho, a albufeira da barragem é mais do que a Zona de Lazer e uma estrutura que flutuava na água, que deixou de atrair os banhistas que se habituaram a vê-la em pleno serviço de apoio aquele magnífico recanto de lazer. Para desgraça dos malcatenhos, as belezas naturais são desaproveitadas e por falta de ambição da nossa comunidade e falta de visão, a longo prazo, dos responsáveis do poder local, estamos como estamos porque assim aceitam que deve Malcata estar. Um céu muito negro e carregado de incertezas costuma ser revelador de maus dias...afastamento e reorientação de rumo apoiado na experiência e no conhecimento, se Malcata quer chegar a um porto seguro.

                                                                 José Nunes Martins

28.8.22

FESTAS DE MALCATA: FOGUETES, BANDA DA MÚSICA, MISSA E PROCISÃO E BAILE ATÉ ÀS TANTAS!

 

A banda da música na casa do mordomo da festa
                                                       


                                                             FOGUETES DE LÁGRIMAS


   Quando eu era criança, a festa era assim: no dia da festa, domingo, havia a missa cantada com sermão, procissão antes e depois da missa e à tarde dançavam ao som das músicas tocadas pela banda de música e pelo tocador de concertina e ao mesmo tempo que uns dançavam ou bebiam no bar, decorria o ramo das oferendas.
   À noite, no fim da pregação na igreja, ninguém saía do adro até serem lançados os “foguetes de lágrimas”, cujo fim era anunciado com o morteiro. As pessoas subiam as ruas e a festa continuava no Rossio.
                                                       
José Nunes Martins