2.12.18

MALCATA: A FOGUEIRA DE NATAL ESTÁ A PERDER CALOR

  O Natal na minha aldeia sempre foi presépio grande na igreja e uma grande fogueira no adro da igreja. Ainda hoje se mantém essa tradição. A fogueira lembra-me a preparação para enfrentar o frio e a chuva do inverno rigoroso que se sente, mas também um velho costume que cabia aos jovens arranjarem a lenha para a fogueira. Acendia-se antes de começar a Missa do Galo e depois era ao seu redor que ali ficavam as pessoas a cantar, a comer e beber, principalmente jovens rapazes e homens. O ano passado observei durante algum tempo a construção da fogueira. Já não é como era, deixou de ter graça e passou quase a ser uma obrigação assumida pelos mais adultos, talvez para não deixar desaparecer a tradição da fogueira de Natal. Os jovens são ou não desafiados a participar na montagem da fogueira? Não compreendo a sua ausência e o seu pouco interesse em manter esta tradição.
   Antigamente juntavam-se os jovens e alguns, mas poucos adultos, manhã cedo, lá iam com os carros puxados com juntas de vacas em busca da lenha para a fogueira. O malcatenho José Rei escreveu no seu livro Malcata e a Serra esta passagem:
     "Noutros tempos competia aos mancebos que já tinham ido à inspecção militar arranjar os madeiros para a fogueira e garantir que a mesma ardia até ao nascer do sol. Habitualmente, os madeiros (grandes troncos e raízes de castanheiro) eram colocados no adro da igreja com antecedência, sendo a lenha de atear arranjada ao fim da tarde da noite da consoada. Uma vez que a lenha escasseava, quando a hora de fazer a fogueira se aproximava, os donos das casas tratavam de acautelar os paus que tinham nos currais, deixando apenas à vista o molho de lenha, palha ou carqueja que queriam dar. Caso o dono da casa não deixasse contributo, podia haver retaliações gravosas. Casos se contam em que foram arrancados portões de madeira, roubadas e queimadas cancelas, charruas e arados, assim como abatidas cerejeiras e nogueiras, árvores estimadas. A rapaziada também não admitia que alguém se assomasse à janela e ou viesse à porta. Quando tal acontecia, retaliava à barrocada
 
(pedrada)." José Rei defendia que "esta forma estranha de louvar o Menino Jesus integrava uma espécie de ritual de passagem dos mancebos para o estado adulto. Mostravam eles a sua força e determinação substituindo as vacas dos carros. Eles próprios puxavam o carro das vacas".
   Hoje, os reboques e tractores são conduzidos pelos seus donos e o trabalho faz-se num dia. Carne assada, pão e vinho ainda hoje ajudam a terminar a montagem da fogueira.Com o andar das coisas, a fogueira na véspera do dia de Natal terá o mesmo fim que a ribeira e os moinhos.
                             José Nunes Martins
                              
josnumar@gmail.com

MALCATA: CONCERTO DE NATAL EM DEZEMBRO



   O ano 2018 está quase a terminar os seus dias. É um sinal que o 25 de Dezembro está a chegar e o Natal também.
   Quem vive numa das nossas aldeias do interior profundo quase não dá pela proximidade desta quadra festiva. As pessoas que habitam nos meios urbanos já há uns dias que ao andar pelas ruas das cidades notam que há muito mais gente a ver montras mais atraentes e mais iluminadas, as músicas de Natal e os vendedores de balões seguram por fios o homem das barbas grandes e brancas antes que ele decida dar uma voltinha. Não faltam as passadeiras vermelhas ou verdes a convidar os clientes a entrar e a gastar, a provar uma fatia de bolo-rei, ou bolo-rainha, pois porque até nestas coisas não pode haver desigualdades. Bem, a verdade é que ambos são deliciosos para os apreciadores de doces.
   Para Malcata vão muitos de nós que por variadas circunstâncias da vida, vivemos e trabalhamos longe da nossa terra. Continuamos a gostar de ir passar o Natal junto da família. Este é o grande motivo para irmos até Malcata.
   E o que tem Malcata para nos oferecer neste Natal, o que há diferente dos outros dias de Dezembro?
   Iluminação nas ruas principais da nossa aldeia? Alguma árvore de Natal gigante e bem iluminada?
   Não sei se algum destes cenários irei ter a oportunidade de ver e admirar. Um dia, quem sabe no próximo ano, as ruas da aldeia respirem luz e mais luzes e muitas famílias a ver o festim.
   Este ano em Malcata vamos poder assistir a um concerto com músicas alusivas à quadra festiva. A convite da A.M.C.F (Associação Malcata Com Futuro), a Academia de Música e Dança do Fundão vai animar os corações de todos nós. No dia 7 de Dezembro, depois da missa, aí pelas 19H30, na Igreja Matriz de Malcata terá lugar o I Concerto de Natal em Malcata. O programa está divulgado por diversos lugares e meios de comunicação social. Vozes, acordeões e saxofones bem afinados oferecerão melodias alusivas ao Natal que vale a pena ouvir. A entrada no concerto é gratuita e os artistas vêm com vontade de surpreender.
   Sei que não é obrigatório ir assistir ao concerto e ficar em casa é sempre uma escolha vossa. Como o Natal é tempo de partilha, de receber e oferecer presentes, ir até à igreja de Malcata ouvir um grupo de coralistas e dois grupos de músicos é outra escolha. Para mim é uma boa escolha, um bom motivo para sair de casa nesse dia 7 de Dezembro. E este ano quando se encontrar com amigos e familiares tem novidades para contar…
  
  


                                                                                       José Nunes Martins
                                                                                        josnumar@gmail.com

12.11.18

A IMPORTÂNCIA DA TOPONÍMICA EM MALCATA


  


 
   É na Praça do Rossio que tem início a Rua da Fonte. Continua a ser a rua mais longa da aldeia, mas não a mais habitada como já foi noutros tempos. É a rua mais movimentada da aldeia, pois é por ela que mais pessoas e veículos entram e saem e tem ligações para as outras ruas ou becos. Por ser uma das ruas mais movimentadas e conhecidas da nossa terra e por ela andamos quase todos os dias e várias vezes, podem pensar que é uma rua que não nos escapa nada aos olhos. Mas andamos por ela tão depressa e tão ocupados com as nossa vidas, que não damos importância a pequenos mas importantes problemas que precisavam de ser resolvidos. A começar pela defeituosa e ausência de informação quanto ao seu início e ao seu final. Na Praça do Rossio, a falta da placa toponímica a indicar o início da Rua da Fonte há muito que acontece; segue-se a existência de casas com número de “polícia” repetido e mais à frente, na fonte velha, quantas vezes que passamos por cima da Fonte de Mergulho sem dar por isso. Ficou lá por baixo da calçada e do betão e de nada tem servido o quadrado envidraçado, porque ninguém no seu perfeito juízo, fica ali parado ou ajoelhado a ver e admirar o monumento, por muito interessante que ele seja e onde as pessoas enchiam de água os cântaros em barro para levar e colocar na cantareira lá de casa. Não pode haver o mais pequeno descuido, porque na rua circulam automóveis, camionetas e outros veículos motorizados. Há uns tempos ao passar por aquele local perguntei à Ti Benvinda o que havia ao fundo das escadas. A Ti Benvinda olhou para mim e apontando o seu dedo para o fundo das escadas respondeu assim:” Eu sei onde fica a Fonte de Mergulho! Basta desceres essas escadas e já vês tudo às claras. Olha João, lembraram-se de pôr aqui este painel solar e de noite dá luz para as pessoas verem. Verem o quê? Não há aqui escrito a indicar o que aqui está por baixo! Também eles bem podiam ter posto aqui uma daquelas placas, olha assim como aquelas que vês ali na Barreirinha a dizer “Junta de Freguesia” e escreviam “Antiga Fonte de Mergulho”! Se calhar assim vinham mais pessoas ver a fonte, a verdadeira fonte de mergulho.
Isto é trabalho de quem não quis dar-se ao trabalho de fazer as coisas como devem ser. Tanto dinheiro aqui se gastou e não puseram a fonte à mostra. Não pensam nas coisas, não perguntaram ao povo e olha aqui está a obra que ninguém quer ver, porque também não sabe que existe, só os da terra é que vão vendo. Podiam pensar melhor, ai isso podia.    A Rua da Fonte tem início na Praça do Rossio e termina onde? Já ouvi dizer que era ao chegar ao Camões. E existe o Largo de Camões? As placas toponímicas são afixadas ao início e ao fim da referida rua, no mínimo é assim que deve ser. Ao início não existe e a que existe a indicar o seu fim está na casa errada, pois a rua não acaba junto ao P.T. (antiga cabine da luz),mas muitas casas mais acima, ali ao Camões.

   Porque este pequeno problema se pode transformar num grande problema e numa grande confusão? Vou referir-me a apenas à correspondência do Estado, ou seja, Finanças, Tribunais,Escolas, Autoridades Policiais, Reformas, Cartas do Instituto Emprego, etc… por azar no dia da entrega é feita por um novo funcionário dos correios. Imaginemos que esse funcionário não conhece nada de Malcata, não tem o à vontade como o “velho” carteiro e não está para andar a perder tempo à procura do número da porta…não encontra, leva a correspondência para trás.

   Até pode não ser importante, mas também pode ser URGENTE e IMPORTANTE que o destinatário receba a correspondência!

                                                                             José Nunes Martins

3.11.18

NOVEMBRO EM MALCATA




   Por estes dias os cemitérios transformaram-se nos jardins mais floridos das nossas terras. As variedades de flores vão desde crisântemos brancos, rosas de muitas cores, arranjos florais com várias flores e  adornados com uns verdes.
   Este ano na aldeia o cemitério apresentou-se vestido de branco graças à tinta e aos artistas que durante dias pensaram nos que ali passam os seus dias e noites num profundo silêncio e escondidos do mundo. 
   Quantas vezes nos perguntamos se a morte é o fim ?
   Acreditamos ou não na vida para lá da morte?
    Porque muitos de nós vão aos cemitérios em Novembro?
   Saberão os crentes cristãos como comportarem-se nas cerimónias religiosas?
   O que importa é enfeitar e rodear a lápide mal se entra no cemitério ? Ou primeiro devemos acompanhar o padre, orar em comunidade por todos os Santos e só depois as famílias se juntarem a rezar pelos seus familiares? Nestas cerimónias a pressa fica fora dos muros. É importante que o povo reze em comunidade e primeiro sob a orientação do padre que ali se encontra a orientar as orações pelas intenções de todos e a maior parte das vezes, o padre é o único que não tem um familiar ali enterrado, mais um motivo para todos o rodearem e orar em uníssono. A Fé e o Respeito todos o merecemos.
   Deus é amor!












1.11.18

CEMITÉRIOS: UM DIA DIFÍCIL DE PASSAR



  

   Dia 1 de Novembro 2018
   Dia de todos os santos.
   Por conveniência, também se costuma ir aos cemitérios lembrar os “fiéis defuntos”. Na aldeia de Malcata, os mortos serão lembrados hoje com a celebração de uma missa pelas 11.30, seguida de romagem ao cemitério.

  
As tradições vão mudando um pouco ao sabor das mudanças e das conveniências da Igreja e os fiéis não têm outro remédio que aceitar.
   Eu, por princípio, não gosto de nada feito por obrigação, ir porque os outros também vão ou ir para depois não ter que explicar porque não fui, não é a minha maneira de agir. Ir ao cemitério, apenas neste dia, vir para casa com a ideia de dever cumprido e talvez com uma “selfie” para mostrar aos amigos que estive lá,
mesmo que a mente tivesse ido passear para bem longe daquele lugar cheio de corpos sem vida. Tenho saudades e muitas da minha mãe e de outras pessoas que passaram pela minha vida e com elas vou mantendo diálogos ao longo da minha vida.
   Cada um de nós deve é tratar bem dos vivos enquanto vivem e não sentir a obrigação de enfeitar aquele espaço com flores de plástico e velas, com cores bonitas mas sem cheiro, sem o cheiro da cera e que em vida, tanto eles apreciaram. E o momento é agora, porque amanhã pode já ser tarde!

                                                   José Nunes Martins
  
                                             

  

14.10.18

OLHAR DE JOLON EM MALCATA

 
 
   A exposição de fotografia
“O Olhar de Jolon – Gentes com história”, do fotógrafo/jornalista Jolon, foi inaugurada no dia 13 de Outubro.
   Esta mesma exposição esteve presente na Biblioteca Municipal de Penamacor, de 3 a 24 de Setembro e agora está patente, até ao dia 22 de Dezembro, na sede da AMCF
 (Associação Malcata Com Futuro), na aldeia de Malcata, na Praça do Rossio.

   As trinta fotografias exclusivas e inéditas, mostram-nos uma visão diferente do nosso passado recente. Rostos típicos de gente simples e humilde, artesãos e gente das nossas aldeias, que nos ajudam a compreenderem melhor o mundo em que vivemos.
   José Lopes Nunes, correspondente do “Jornal do Fundão”, em Penamacor há muitos anos, é conhecido como o biógrafo do povo, cujos textos, sons e fotografias nos transmite histórias ricas de tradições, de saberes e costumes que constituem um valioso património que merece ser preservado.
   Vá dar uma escapadinha, visite a aldeia de Malcata e dedique algum tempo para ver e conhecer o olhar de Jolon.
                                                                                                                 
                               
                                                     José Nunes Martins (Josnumar)                                                                                                 

    

7.10.18

MALCATA: UM DIAMANTE ESCONDIDO



Há uns tempos atrás cheguei a pensar que a nossa aldeia tinha um futuro risonho, seria uma terra desenvolvida e bem conhecida pelos portugueses. Pensava assim porque naqueles tempos a juventude partia para a França ou para as escolas universitárias que só existiam nas grandes cidades do nosso país e quando chegassem ao fim dos seus estudos, Malcata arrecadaria alguma vantagem com os saberes e conhecimentos desses rapazes e raparigas. Recordo-me que foi criado um grupo de jovens com muita criatividade e vontade em organizar actividades culturais e recreativas para animar o povo.
   Já o escrevi uma vez e vou voltar a escrever que Malcata tem mais “filhos/as” doutores e engenheiros que vacas ou cabras. E isto tem uma explicação: a par da debandada dos nossos pais, também os filhos abalaram a trabalhar, a estudar bem longe da terrinha. Terminados os cursos, conhecendo a falta de trabalho na naquela nossa região, um território sem muitas oportunidades de trabalho, terras por onde Cristo não tinha passado, desconhecidas por muitos e por alguns que nela nasceram, mas que para as suas carreiras profissionais nada acrescentavam ao currículo, o esquecimento das suas origens só lhes trariam benefícios.
   Eu também faço parte daquele grupo que saiu da aldeia para a cidade estudar. Nunca tive vergonha de revelar onde nasci, onde cresci e aprendi a ler e a escrever. Por cá este
modo de chamar por mim “Ó Malcata”, ou “lá vem o Malcata” é normal nos meus locais de trabalho.
   As pessoas que habitualmente habitam em Malcata, se assim o quiserem fazer, sabem que ainda há pessoas que não vivendo na aldeia a carregam consigo para todo o sítio. A minha impressão é que são poucos e o pior é que para se fazer alguma coisa com substância e valor, desperdiçamos muita energia para as realizar. A falta de apoios, de abertura a novas ideias e novos conceitos de trabalho, o senti o cabelo molhado é suficiente para sabermos que está a chover, sentimos que está mais frio e como não temos casaco, nada mais importa do que estamos a sentir. Quantas vezes paramos para nos interrogarmos porque chove, porque estamos com o cabelo molhado, ou porque estamos com frio? Que maçada, vamos agora pensar assim? Isso é areia a mais para a minha camioneta!-dirão alguns de vós. E quando um malcatenho, seja ele lá quem for, procura saber as razões das coisas, procura ir mais além na busca de compreender e a crença que existe mais para além do que todos vemos à tona da água, aparece sempre quem passe o tempo a discutir se o CR7 fez ou não fez aquilo que se diz por aí que parece que fez. São gente que se desinteressam para umas coisas e são interesseiras para outras. Continuam desinteressados e ignorantes porque escolhem ser assim.
   Porque falo muito sobre e de Malcata? Não fosse esta minha mania de escavar, de buscar e de querer aprender e saber de onde venho e para onde vou, era mais um malcatenho conformado, desinteressado e seria mais um, como alguns “senhores doutores/as” nascido na mesma aldeia, pouco conhecida, pouco atractiva porque não é conhecida e é claro que não se ama aquilo que não sabe que existe, não ama o desconhecido por muito que seja conhecido pelos que lá moram. E Malcata não se dando a conhecer, vai acabar por morrer
sem muitos a terem conhecido.
   Para que vos serve tanta riqueza humana, natural e bons produtos que a terra produz,  se
não forem identificados e dados a conhecer como sendo de Malcata?  
    Olhar para a frente e também para o alto faz-nos pensar e sonhar em grande e alarga-nos os horizontes para lá das margens da albufeira e dos montes da serra da Malcata.
    Atrevam-se os portadores de conhecimento, de experiência e da capacidade de trabalhar para um patrão, uma entidade, pública ou privada e na medida da vossa disponibilidade pegar nas vossas “ferramentas” e apoiar todos os que continuam a escavar porque acreditam que o melhor de Malcata ainda não apareceu à vista de todos.
                                                                                                            José Nunes Martins
                                                                                                              
josnumar@gmail.com