Ir a Malcata, não
fosse a família e os amigos, não seria uma viagem lá muito atractiva para
fazer. E agora, com o pagamento de portagens mais desanimador se torna visitar
uma terra do interior do nosso país e que continua desconhecida por muita
gente.
Malcata é uma aldeia aconchegada por montes verdes de um lado e um
enorme espelho de água do outro. Para que a aldeia não caia, está amparada de
um lado pela Serra das Mesas e do outro pela alta e fria Serra da Estrela,
ficando a Serra da Malcata e a sua Reserva Natural um pouco escondidas e talvez por esse motivo as torres eólicas estão lá a crescer quase
ao mesmo ritmo das árvores, sendo até uma espécie preferida pelos engenheiros
em detrimento da plantação e preservação de outras espécies, como os sobreiros,
as medronheiras e até destruindo o habitat natural do lince ibérico, aquele que
já foi o mais ilustre habitante da serra da Malcata.
A aldeia sempre esteve ligada à serra
e durante muitos anos não as pessoas souberam tratar dela e ainda hoje é um dos
locais mais conhecidos. Mas as pessoas não viviam na serra porque é muito alta,
fria no inverno e então construíram as primeiras casas ali entre a Rua de Baixo
e a Rua da Ladeirinha, indo também morar para a Rua do Meio. Os casais nessa
altura trabalhavam as terras e passavam as outras horas à volta da lareira, à
luz das candeias de azeite, mais tarde dos candeeiros de petróleo. Como não
havia electricidade, ninguém tinha televisão e deitavam-se mais cedo do que
agora. Ora os casais novos, deitados naqueles colchões de palha, duros, com
cobertores por cima por causa do frio, enroscavam-se um no outro e muitas nove
meses depois a família estava mais numerosa. Daí que a aldeia teve necessidade
de se expandir até ao Cabeço, para o Carvalhão, para a Moita, para o Soitinho e
ainda hoje continua o seu crescimento, mas muito mais lento. Mas os braços já chegam à Rasa, à Senhora dos
Caminhos e à Fraga.
Apesar deste seu crescimento, continua
a manter o seu núcleo central na Praça do Rossio, também conhecida por Torrinha
e que se espalha até à Igreja Matriz. A Rua da Ladeirinha está ainda rodeada
por casas construídas em pedra de xisto. Atrevo-me a afirmar que juntamente com
a Rua da Moita, são o centro histórico da aldeia. Não é um núcleo rico, mas o
património ainda ali existente, é um precioso testemunho histórico que merece
ser protegido, preservado e é fundamental
manter como lugar de atracão para quem
visita a povoação e também para as gerações vindouras da terra.