Quem está certo? |
Todas estas palavras são a minha resposta a algumas pessoas, tão malcatenhos como eu ou até menos, que continuam a acreditar nas histórias que lhes contam ao ouvido, como o grupo da “Corja”, enquanto caminham por ruas e bêcos da aldeia ou se sentam na praça atentos a tudo o que mexe à sua frente, portas e janelas que abrem ou fecham e não se dão sequer ao trabalho de verificar se a história que lhes contaram é falsa ou verdadeira. Eu não tenho vergonha das minhas origens e tenho um carinho especial por Malcata, pelas gentes e os lugares. Como sou pessoa que penso e não acredito em todas as histórias que me contaram e me contam ou pelo passarinho que pousou no meu ombro, tenho mostrado o outro lado da história e muitas vezes tenho sido criticado e enxovalhado apenas por mostrar que nem todas as histórias são como as contam e até estão cheias de falsidades e omissões.
Continuarei a mostrar o bom e o mau e a contar histórias para cada um de nós tenha a oportunidade de se questionar, de se dar ao trabalho de verificar se a história é verdadeira ou falsa.
Não esqueço os sacrifícios que viveram os meus pais e muitos dos vossos. Tempos difíceis que eles viveram. Na aldeia não havia água canalizada, nem luz eléctrica, nem todos podiam ir para a escola a aprender a ler e a escrever, viveram uma vida inteira a assinar com o dedo indicador borrado com tinta, iam aos mercados montados em burros, tinham que semear para comer e criar animais se queriam leite, queijos, carne, estrume e dinheiro sempre que vendiam. Vivia-se numa pobreza e numa simplicidade que ainda hoje muitos de nós não conhecemos. Foi a sua resiliência e a sua fé, o trabalho onde o houvesse, acreditaram e quiseram que os seus filhos fossem para a escola e não passar a infância a guardar gado, ou tomar conta dos irmãos mais novos. Na escola aprendemos a escrever e a ler e muitos pais projectaram o seu futuro nos êxitos escolares dos filhos que hoje são médicos, engenheiros, advogados, juízes, tesoureiros, motoristas, electricistas, investigadores, gestores…que na sua grande maioria, deixaram o lugar onde tudo começou e ainda hoje lá habitam, já idosos, sozinhos ou no lar, passam os dias a olhar para o azul do céu e a ouvir a missa e o terço. Não compreendo muitos deste filhos que mal se viram com o canudo debaixo do braço, apagaram o seu passado, não querem saber das suas origens e
a aldeia já nada lhes diz ou lembra.
Tudo isto para deixar aqui o meu testemunho, a minha história e o meu desabafo para com os que dizem que pertenço a um grupo de “corjas”. Sou filho de família honrada, não sou ladrão nem vadio, nem desordeiro. Amo e não esqueço ou escondo as minhas origens e perdoem-me aqueles que não se revêem nos maus malcatenhos.
José Nunes Martins
josnumar@gmail.com