20.11.21

MALCATA: REBANHO DO SÉCULO XI

 

     QUEM QUER SER GUARDADOR DE CABRAS E DE SONHOS?





   O projecto do rebanho das cabras sapadoras, que os Baldios estão a levar a cabo nos baldios da freguesia, já está no terreno, as máquinas e os homens lá andam para a serra a construir as estruturas de apoio: armazéns, sala de ordenha, escritório, instalações sanitárias, vedações, etc.
  A entidade responsável pela gestão e acompanhamento da obra é a Junta de Freguesia, na pessoa do senhor presidente. Como é do conhecimento de todos, o rebanho vai ser instalado num terreno baldio. Como o conselho directivo dos compartes está entregue à Junta de Freguesia, entidade que já vem empurrando este empreendimento de há uns anos atrás, foi-lhe atribuído a responsabilidade de acompanhar permanentemente a obras contratada.
  Para além das obras relacionadas com a construção das instalações de apoio, pouco mais sabemos sobre o próprio projecto e como é que se vai desenvolver no futuro.
  Sabemos que se trata de um projecto financiado pelo Estado e que esse dinheiro não vai suportar todas as despesas necessárias. É uma enorme ajuda, sem dúvida que sim, mas há necessidade de ir procurar mais capital.
  Trata-se de um investimento avultado e se for bem gerido, pode muito bem ser um caminho que leve a freguesia e os seus habitantes a desenvolverem-se e a obter grandes benefícios. Há que fazer tudo o que estiver ao alcance e se necessário, pedir auxílio e adoptar os procedimentos correctos e mais capazes de alcançar o êxito.
  Atempadamente e com o desejo de colaborar, uma associação com sede em Malcata, apresentou numa reunião pública, uma proposta concreta, séria, objectiva e potenciadora de ajudar a desenvolver o rebanho principalmente quanto à fórmula de financiamento de capital, que com toda a certeza irá ser necessário possuir, isto se todos ambicionem obter rendimentos e depois serem distribuídos pelos seus habitantes. A proposta foi dada a conhecer e nunca mais se ouviu falar dela, o assunto parece não ter interessado e dada a sua importância trouxe-a aqui novamente, porque eu e outros como eu ainda acreditamos que se podia aplicar no projecto em curso. Quem sabe...Vamos imaginar que há pessoas interessadas em querer participar com dinheiro no desenvolvimento deste projecto, que mais não é que querer ajudar a fazer crescer o rebanho de cabras, com o crescimento e aumento das cabeças de gado, nascem cabritos, produz-se leite, faz-se queijo ou vende-se leite, vende-se cabrito ou ficam para aumentar o rebanho, vem a necessidade de renovar e vendem-se os animais mais velhos...ou seja, a fileira do pastoreio de cabras a funcionar assim só pode vir a dar rendimento. E agora imaginemos que a cada malcatenho que invista ( ajuda e dá dinheiro ) tem direito a adquirir uma cabra, ou duas ou outros quatro ou dez, paga o valor acordado, acompanha a evolução das suas cabras e as do rebanho, que hoje alguns até as poderiam seguir via internet, ou até acompanhando os pastores a pastorear todo o rebanho, ou simplesmente aplicar dinheiro no rebanho, na condição de anualmente lhe ser dado a sua quota parte de lucro a que teria direito! Está aqui a tal fórmula inovadora, transparente, esclarecedora, democraticamente aceite e que iria beneficiar quem tivesse investido no projecto. O projecto encontraria uma via de financiamento, envolveria o povo de Malcata, pois se lá tiverem cabras ou dinheiro metido, interessar-se-iam mais pelo rebanho e pelos resultados a alcançar no futuro.
  Ah, e os que não são de Malcata não podem investir? E achas que isso é boa ideia? Respondo que se devia marcar reuniões de esclarecimento, de consulta e de reflexão sobre este tema. Atempadamente e com clareza, convidar as pessoas a um debate e com certeza que se acenderá alguma luz. Já imaginaram um malcatenho a viver em França, em Lisboa, em Viseu, no Porto ou no Brasil, ser parte e também dono do rebanho? O rebanho é comum, é de todos e a todos beneficiaria...é sonho, mas o que é a nossa
vida e a realidade se não a realização progressiva de um sonho?
  E como sonhar não custa dinheiro...


17.11.21

HOMENAGEAR OS NOSSOS

 

  A todos os que nasceram na nossa freguesia ou que a ela se encontram ligados por vários tipos de afinidade, lanço um desafio. Com certeza que nomes não faltam e o desafio sendo só um, as respostas poderão ser muitas e todas importantes e a ter em conta.   Há  aquelas pessoas que conhecemos ou ouvimos falar e por elas passou a vida de muitos de nós, desde um quilo de arroz, um litro de petróleo ou de leite, a um cântaro cheio de água fresca, a um registo de nascimento ou até uma cura e a uma simples injecção, que ajudou a salvar vidas. É tempo de pôr a mão na consciência e acabar com o medo de escrever a nossa história verdadeira e lembrar quem nela participou e deixou marcas. É tempo de homenagear os nossos heróis e pessoas com valor na nossa aldeia.
  Pergunto eu:
 Quem são os malcatenhos merecedores de uma homenagem pública ?

13.11.21

AS CASTANHAS E OS CANIÇOS

 

Os segredos de assar castanhas

  Os dias de hoje já são diferentes de antigamente. A época que estamos a viver que envolve a apanha das castanhas é vivida de forma diferente dos anos 60 ou 70. Nas aldeias onde havia castanheiros, por esta altura do ano, viviam-se momentos de alegria e festa. Em Malcata ainda há bons castanheiros que nos fazem recordar outras tradições que o povo vivia. Mesmo as pessoas que não tivessem castanheiros, não ficavam sem as castanhas. Depois da apanha das castanhas vinha o tempo do “rebusco”. Durante esses dias toda a gente tinha o direito de ir apanhar castanhas onde as houvesse, sem receio de ser repreendida ou acusada de roubo.
  Nesta altura do ano juntavam-se aos grupos de amigos, de vizinhos ou famílias e faziam o magusto, por vezes faziam a fogueira mesmo no meio da rua ou dos largos da aldeia. Não faltava castanha assada com caruma e uma copa de jeropiga para ajudar a empurrar.
  Mas a castanha nesses tempos de miséria tinha um importante lugar na alimentação. Então havia que guardar e poupar para ter castanha durante todo o ano. Durante o tempo frio e neve, nada como pegar num punhado de castanhas e metê-las num púcaro com água e deixá-las cozer para comer, para juntar ao caldudo, muitas vezes a refeição mais forte do dia.
   E para guardar as castanhas durante tanto tempo, os meus pais despejavam-nas no caniço que havia por cima da lareira. Os caniços não era mais do que um estrado de varas direitas e suspensas horizontalmente, mantendo-se afastadas entre elas, mais ou menos um centímetro, a distância suficiente para não deixar furar as castanhas e elas caíssem no chão da cozinha ou em cima da cabeça de alguém. O caniço enchia-se com as castanhas e ali permaneciam a receber o calor do lume até ficarem secas e rijas. Dali iam para um cesto de vergas, o meu pai calçava os tamancos e entrava para dentro do cesto baloiçando o corpo e os pés até a casca sair. O par de tamancos eram especiais e estavam preparados para executar a tarefa de descascar a castanha, que por estar seca e dura, os cravos que preenchiam toda a sola do tamanco, por muito aço que tinham, apenas retiravam a casca às castanhas. Após o tempo da dança dos tamancos, a minha mãe chegava com uma saca de pano para a encher e guardar num lugar seco lá de casa até que um dia chegasse a oportunidade de fazer um daqueles caldudos.
  As pessoas da minha idade, provavelmente como acontece a mim, também se recordam destas coisas de antigamente. Será que ainda existem caniços na aldeia?
  Vivemos num mundo cheio de inovações e de tecnologias.  Tenho orgulho das minhas origens e para mim, escrever estas memórias que eu vivi, são uma singela homenagem a toda essa gente boa da nossa aldeia, que mesmo não entendendo de computadores e telemóveis, nem andam pelas redes sociais, têm segredos e saberes que os ajudaram a viver. Saibamos nós encontrar formas de guardar todas estas memórias e sabedoria dos nossos avós e pais. Dar maior atenção e importância ao espólio e às tradições mais antigas, para que as gerações presentes e futuras nunca esqueçam as suas raízes, é o mínimo que podemos fazer.

Nota: Dia 13 de Novembro vai ter lugar o Magusto 2021, na Associação Cultural e Desportiva de Malcata. Os meus desejos são de que seja uma tarde de festa e são convívio.



10.11.21

COMPARTES DOS BALDIOS DE MALCATA DELEGAM CONSELHO DIRECTIVO NA JUNTA DE FREGUESIA



ASSEMBLEIA DE COMPARTES 
DOS BALDIOS 
DA FREGUESIA DE MALCATA 
Delegou poderes de gestão na Junta de Freguesia

   

Freguesia de Malcata



   A Junta de Freguesia de Malcata assumiu os destinos dos baldios da freguesia. Este ano, foram convocadas duas Assembleias de Compartes, a fim de tudo ficar devidamente delegado. Com o início de mais quatro anos de mandato, a actual junta de freguesia iniciou um ciclo novo como gestor dos baldios da freguesia.

  Como não estive presente nas assembleias anunciadas, supõe-se que as coisas correram como o descrito nas convocatórias. E como não foi divulgada qualquer informação da forma como decorreram as duas assembleias de compartes, creio que a presidência do Conselho Directivo estará sob a responsabilidade do senhor presidente da Junta de Freguesia. Nada a que o povo já não esteja acostumado, pois já antes o Conselho Directivo dos Baldios era dirigida pela junta de Freguesia.
   Agora o importante é trabalhar com os olhos focados no futuro, nomeadamente na concretização da instalação da exploração pecuária que está a ser construída em terrenos baldios. O grande objectivo será fiscalizar esse arrojado projecto das “cabras da serra”, criando assim condições à Assembleia dos Compartes para gerar riqueza e desenvolver a economia local. O facto de se ter convocado uma assembleia de compartes destinada exclusivamente para a delegação da gestão na Junta de Freguesia, é um claro sinal que foi dado no que respeita aos procedimentos normais e legais que havia a fazer. Neste momento o projecto das cabras é uma prioridade e acredito que tudo será feito para dar certo e ser um instrumento apropriado para desenvolver a economia local. Já agora, deixo aqui um pedido de esclarecimento por parte da Assembleia de Compartes: qual o tempo de duração da delegação de competência na Junta de Freguesia como responsável do Conselho Directivo dos Baldios da Freguesia de Malcata?
   Obrigado.
                              
José Nunes Martins

5.11.21

CASTANHAS QUENTES E BOAS

 


   CASTANHAS
   QUEM QUER QUENTES E BOAS?

   A castanha já teve mais importância na alimentação de muitas famílias de Malcata. Noutras épocas, a nossa terra orgulhava-se dos castanheiros e da qualidade da castanha. Eram árvores adultas, de tronco bem grande e uma copa que ia até aos 30 metros de altura. O castanheiro, sempre foi e continua a ser, uma espécie de árvore que dadas as suas características e o seu desenvolvimento, não é espécie de árvore para o jardim de casa, mas que muitas pessoas não se importariam de ter perto. A sua copa frondosa nos dias de calor fascina qualquer amante da sombra.
   No Outono, as folhas amarelecem e os ouriços mudam dos tons verdes para acastanhados. São os sinais da aproximação da apanha da castanha longal, judia, negral, martainha ou avelã, conforme a variedade que a árvore produz.
   Eu gosto de castanha assada. Mas há pessoas que gostam mais de castanha cozida, seca ou pilada, na sopa ou em caldudo, num assado de carne com batata assada e castanha, ou seja, é um alimento muito versátil na cozinha.
   A castanha assada pede um acompanhamento de jeropiga, água-pé ou vinho do Porto. Dizem que se digere melhor!
   Lembro aqueles magustos que se faziam na escola primária e também pelas ruas da aldeia. Com a caruma e as castanhas no meio, deitava-se o lume e esperava-se que assassem as castanhas.  Eram tardes alegres e a criançada brincava ao redor da fogueira e entre duas ou três castanhas assadas, molhava-se a garganta, enfarruscava-se o amigo, o avô ou o pai...uma enfarruscadela não fazia mal e não podia faltar!
   Eu cresci a ver castanheiros por todos os sítios da aldeia. Hoje a paisagem é diferente e esses velhos castanheiros desaparecem e como já são velhos, há que deitá-los abaixo. Esquecemo-nos com muita facilidade os tempos em que davam muitas e boas castanhas.  E elas, as castanhas, são hoje apreciadas como sempre foram. É um fruto que faz bem ao nosso organismo, tem é que se consumir com moderação.
   Boas lembranças...
   Quem quer quentes e boas?
   Quentes e boas!
                             José Nunes Martins