A IMPORTÂNCIA DA PAISAGEM QUE RODEIA MALCATA
Parque Eólico
O movimento Malcata Pró-Futuro defende o ambiente e a paisagem que rodeia a aldeia de Malcata.E cada vez mais nos damos conta que outros também defenderam e defendem o mesmo.
Eis um "recorte" de um estudo elaborado em 2013 e publicado na Revista Crítica de Ciências Sociais:
Ambiente, paisagem, património e economia:
Os
conflitos em torno de parques eólicos em Portugal
Referência
eletrônica
Ana
Delicado, Luís Silva, Luís Junqueira, Ana Horta, Susana Fonseca e Mónica
Truninger, « Ambiente, paisagem,
património
e economia: Os conflitos em torno de parques eólicos em Portugal », Revista Crítica de Ciências
Sociais [Online],
100 | 2013, colocado online no dia 28 Outubro 2013, criado a 30 Outubro 2013.
URL : http://
rccs.revues.org/5198
; DOI : 10.4000/rccs.5198
Editor:
Centro de Estudos Sociais
http://rccs.revues.org
http://www.revues.org
Documento
acessível online em: http://rccs.revues.org/5198
Este
documento é o fac-símile da edição em papel.
©
CES
“Nos últimos anos tem‑se assistido em Portugal ao crescimento exponencial do número de parques eólicos, respondendo as pressões politicas e económicas para atingir metas ambiciosas no que concerne a produção de energia através de fontes renováveis.
“Nos últimos anos tem‑se assistido em Portugal ao crescimento exponencial do número de parques eólicos, respondendo as pressões politicas e económicas para atingir metas ambiciosas no que concerne a produção de energia através de fontes renováveis.
A nível geral, este
desenvolvimento tem‑se
pautado por discursos consensuais – mitigação das alterações climáticas,
diminuição da dependência energética face ao exterior –, mas ao nível local e
situado os conflitos tornam‑se
visíveis (destruição visual da paisagem, impactes nocivos nos ecossistemas
rurais, nas actividades turísticas, na saúde).
Não obstante os reflexos positivos associados aos parques eólicos, tendencialmente ligados a benefícios no combate às alterações climáticas, à redução da poluição, à diminuição da dependência energética de Portugal em relação ao exterior e aos proveitos económicos daí decorrentes, o aumento significativo do número e dimensão das infra-estruturas necessárias ao aproveitamento da energia eólica não passou despercebido. Controvérsias em torno das modificações introduzidas na paisagem, o seu impacte nas espécies naturais, nas actividades turísticas e até sobre a saúde, associadas a uma progressiva cobertura mediática com um forte enfoque nos custos associados à produção de energias renováveis (nomeadamente no peso que tal implica no custo mensal da eletricidade), contrabalançam o pendor aparentemente positivo do discurso em torno do tema.
Não obstante os reflexos positivos associados aos parques eólicos, tendencialmente ligados a benefícios no combate às alterações climáticas, à redução da poluição, à diminuição da dependência energética de Portugal em relação ao exterior e aos proveitos económicos daí decorrentes, o aumento significativo do número e dimensão das infra-estruturas necessárias ao aproveitamento da energia eólica não passou despercebido. Controvérsias em torno das modificações introduzidas na paisagem, o seu impacte nas espécies naturais, nas actividades turísticas e até sobre a saúde, associadas a uma progressiva cobertura mediática com um forte enfoque nos custos associados à produção de energias renováveis (nomeadamente no peso que tal implica no custo mensal da eletricidade), contrabalançam o pendor aparentemente positivo do discurso em torno do tema.
Enquadramento teórico
As questões energéticas constituem um
desafio ambiental urgente. A ameaça
das
alterações climáticas e a escassez de fontes de energia convencional têm
levado
os países a investir crescentemente em fontes de energia alternativas
e
renováveis. Ao contrário de outras tecnologias de produção energética
(como
a nuclear ou os combustíveis fósseis, mas também os biocombustíveis
e
as barragens), a energia solar e a energia eólica são geralmente percepcionadas
como “limpas”, “verdes” ou “amigas do ambiente”, uma extensão de tecnologias
tradicionais como os moinhos de vento (Nadaï e Van der Horst, 2010).
E, no entanto, este é um domínio onde também
têm surgido controvérsias
(no
sentido de desacordo entre vários atores sociais, eminentemente
discursivo)
e mesmo conflitos, designadamente movimentos de resistência
à
implantação de parques eólicos em determinada localização, encabeçados
geralmente
por residentes, autoridades locais ou
organizações não
governamentais
(de ambiente, de defesa do património,
etc.). De acordo
com
Dietz et al. (1989), a literatura sobre
conflitos ambientais tende a
caracterizar
estes conflitos em quatro dimensões: como um problema
de
conhecimento diferencial (concepção do público como ignorante), ou de
interesses
diferenciais (o que suscita questões de justiça), ou de diferença
de
valores (agravada em contextos de incerteza), ou ainda de desconfiança
face
ao conhecimento dos peritos (suspeitos de parcialidade). Como abaixo
se
verá, são estas três últimas dimensões que estão em causa no caso dos
parques
eólicos.
Na acepção de Warren et al. (2005), a energia eólica tende a suscitar controvérsias“verde contra verde” (“green on green”), uma vez que alguns dos
Na acepção de Warren et al. (2005), a energia eólica tende a suscitar controvérsias“verde contra verde” (“green on green”), uma vez que alguns dos
argumentos
em oposição se sustentam em valores ambientais contraditórios:
a
defesa de fontes de energia não poluente e mitigadora das alterações
climáticas
opõe‑se à
proteção da paisagem natural e dos ecossistemas. Põe‑se aqui também um problema de escala: benefícios ambientais
globais são
obtidos
à conta de impactes locais (Warren et al., 2005; Nadaï e Van der Host, 2010;
Haggett e Futák‑Campbell,
2011; Hall et al., 2013). Isto, porém, pode também ser visto pela perspetiva
inversa, quando as necessidades de desenvolvimento económico local colidem com
necessidades globais de proteção da natureza (Figueiredo, 2008).
Estão amplamente documentados casos de
oposição à instalação de parques
eólicos
no Reino Unido (Woods, 2003; Bell et al., 2005; Devine‑Wright e Howes, 2010), França (Nadaï, 2007), Alemanha
(Zoellner et al., 2008), Holanda (Breukers e Wolsink, 2007; Wolsink, 2007a), ou
Grécia (Kaldellis, 2005). Esta resistência tem sido motivada pela preocupação
com questões como o ruído
ou
a poluição sonora (Woods, 2003; Toke, 2005; Hall et al., 2013), os efeitos sobre
a saúde (Woods, 2003; Barry et al., 2008; Hall et al., 2013), os impactes
mas também com a percepção de que os aerogeradores arruínam as paisagens
mas também com a percepção de que os aerogeradores arruínam as paisagens
rurais
e ameaçam o património natural e cultural (Woods, 2003; Toke, 2005;
Bell et al., 2005; Zoellner et al.,
2008; Cowell, 2010; Hall et al., 2013), tendo
consequências
não só simbólicas mas também económicas sobre o turismo
e
o valor das propriedades (Woods, 2003; Warren et al., 2005; Toke, 2005;
Barry et al., 2008; Clarke, 2009;
Nadaï e Van der Horst, 2010; Devine‑Wright
e Howes, 2010; Hall et al., 2013).”
Malcata: “ Quem não se sente não é filho de boa gente…”
ResponderEliminarSe há coisas que eu admiro nas pessoas são as atitudes e o interesse de se envolver e lutar pelas causas comuns, pelo bem estar do presente e futuro das nossas terras e das nossas gentes, pela edificação e contributo de um mundo melhor.
Cada terra, cada povo lida com a sua história, que envolve o passado, o presente e o futuro. A vontade e a luta pela sobrevivência são apanágio de todos aqueles que, contra ventos e marés, não se conformam com o esquecimento e a passividade de quantos, virados para o seu conforto e bem estar, se deixam manobrar e dominar por ataques camuflados de governantes, dirigentes e oportunistas que dia a dia vão tirando proveito dos recursos que a todos pertencem.
Malcata, o povo de Malcata, tem sido notícia nestes últimos tempos nas redes sociais, em jornais regionais e nacionais, pela posição tomada em reunião geral, a cargo do Movimento Pró-Malcata, de não concordância com a instalação de mais 6 torres eólicas junto da povoação. O processo tem sido acompanhado e explicado através de vários dossiers, e tem seguido os seus trâmites junto das diversas entidades que lhe dizem respeito. Não sabemos ainda aonde toda esta contestação nos poderá levar mas, como voluntário na prestação de serviços sociais, nomeadamente através da ACDM e de outros serviços ao povo, quero deixar expresso o meu regozijo pela envolvência das pessoas de Malcata, e outras, fazendo-me reviver outros tempos e a nossa vivência de eventos, em que por palavras e acções conseguimos incutir nas pessoas de que “O povo unido jamais será vencido!” Quero acreditar que a nossa voz e a nossa força irá ser tida em conta. Como gente civilizada que somos estaremos prontos para o diálogo e o entendimento, mas por favor, não façam de nós vítimas nem heróis. Exigimos ser tratados com a dignidade que merecemos. Respeitamos a propriedade privada dos interessados no negócio mas não desistiremos de lutar pelos valores da nossa terra e do nosso povo. As pessoas vão dando-se conta das limitações a que são sujeitas pelas estruturas implantadas ( Reserva Natural, barragem, parque eólico ). Tanta proibição –“é a lei!” dizem… tantos obstáculos, licenças e mais licenças. Porque temos de suportar tantos danos em benefício de poucas vantagens? Sabem, por exemplo, que a povoação de Malcata não é abastecida pela água da barragem? (mais custos e encargos para as Aguas Zêzere e Côa…). Temos razões para a nossa indignação. E, como diz o ditado, “quem não se sente não é filho de boa gente”.
Malcatanhos unidos, jamais serão vencidos!...
“A união faz a força!”
Rui Chamusco