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O FORNO DO POVO: ENCONTRO DE SABERES

    Em todas as aldeias havia o forno do povo onde as pessoas coziam o seu pão. E Malcata lá teve durante muitos anos o seu forno do povo e outro forno muito utilizado também por muita gente da aldeia. O forno público era o do Rossio, felizmente recuperado e pronto a ser usado sempre que é necessário. O outro forno estava localizado na Rua da Moita, ao lado da casa da Ti Narcisa, mesmo ali ao início da rua, do lado direito em direcção à Moita.


Forno do Povo ( Rossio ) recuperado

Os dois fornos eram aquecidos com lenha que os lavradores acarrejavam dos montes com os carros de vacas. Carregavam gestas, carvalhos, freixos, urgueiras, carquejas e guardavam a lenha numa divisão anexa aos fornos, ficando abrigada da chuva e assim estava sempre seca para melhor arder quando fosse enfiada no interior do forno.


Porta do Forno do Povo recuperada ( Rossio )

   O pão era levado para o forno, por mulheres, num tabuleiro de madeira, normalmente em madeira de castanho, envolto em panos de linho. E cada fornada dava para a família ter pão disponível durante duas semanas.
   O forno da Rua da Moita já não existe, pois com as obras de recuperação de uma casa desapareceu de vez. Não era tão utilizado como o forno do Rossio, mas também saía de lá um bom pão.
   
Pão no forno
   

   E durante muitos anos os dois fornos de pão serviram o povo de Malcata e foram o orgulho de muitas famílias. O forno era o local de encontro, principalmente para as mulheres. Lembro-me vagamente da Ti Ana, a forneira, que durante anos se responsabilizava por aquecer o forno e era ela que com a ajuda de uma pá, que de tão grande que era, metia e tirava para aí uns 3 ou 4 pães ao mesmo tempo. Quando chegava o momento de retirar o pão cozido para fora do forno, a mulher fazia deslizar a pá por baixo dos pães e depois puxava-a para fora do forno e assim sucessivamente até todos os pães estarem cá fora.
   Lembram-se das latas cheias de doces? O que as mulheres inventavam, meu Deus, para colocarem os doces no forno. Qual formas anti-aderentes! Uma simples e usada chapa de caldeiro depois de endireitada e bem lavada, coberta por farinha que impedia a massa se pegar ao fundo, onde a mulher enfileirava uma boa dezena de montes da massa dos doces, que depois de entrarem no forno, com temperatura e tempo medidos a olho, saíam bonitos e crescidinhos com vontade de provar essa especialidade.
   Outros tempos, outros hábitos alimentares, onde não havia pressa de comer o pão quente, mas que durante dias e dias alimentava a fome a muitas famílias.

 




COMÉRCIO DE PROXIMIDADE





      Malcata aos olhos de muitos parece uma aldeia Viva e cheia de pujança. Só pensa assim quem não vive diariamente na aldeia, pois quem lá passa os dias e as noites sente as dificuldades de ali ter que ficar e ao mesmo tempo sente-se incapaz de encontrar outros caminhos.

             
Fechou a "Fonte"em Malcata


 

As eleições já passaram e vai continuar tudo como estava. Neste final de Setembro e início de Outubro fica marcado pelo encerramento do mini-mercado "A Fonte". Helena e Joaquim tiveram que optar pelo fecho do comércio, que tanto trabalho lhes deu e que agora se viram impotentes para contrariar a baixa de vendas. Todos estamos a sofrer na pele a falta de dinheiro, o encarecimento dos bens materiais. Se a este problema lhe juntar-mos a diminuição da população residente em Malcata, a inauguração de novos supermercados na cidade do Sabugal e um novo comportamento por parte das pessoas que trabalham fora da terra, que muitas vezes transportam nos seus automóveis as compras que efectuaram perto dos seus locais de trabalho, somando o envelhecimento acentuado das pessoas que realmente vivem na aldeia, algumas beneficiando ( e bem ) dos apoios do Lar, estão explicadas algumas das razões sentidas pelos pequenos negócios que existem na aldeia.


Lamento o fecho da Fonte, pois é menos oferta para a população, o que vai obrigar as pessoas a percorrer mais distâncias para poder efectuar as compras dos bens essenciais.
O despovoamento e o envelhecimento da população significa que as pessoas estão cada vez mais velhas e vão ter mais dificuldades em se deslocar para esfectuar as suas compras. Por isso é necessário criar incentivos e apoios aos pequenos negócios das aldeias, como por exemplo, estes mini-mercados. A sua presença em Malcata com as portas abertas, contribuem para melhorar a qualidade de vida de toda a população. E se são importantes para a aldeia, também deviam ser merecedores de receberem apoios para se modernizarem, para se renovarem e apostar em novas formas de fazer negócio. Sou levado a pensar que quando na nossa aldeia uma porta de um negócio se fecha, todos nos devemos interrogar sobre os motivos que levaram a esse desfecho. É claro que todos também devemos compreender que ninguém investe, seja em que negócio for, para perder dinheiro.
   Em Malcata as pessoas vão vivendo ou sobrevivendo com o que resta: uma Junta de Freguesia, um Centro de Dia e Lar, quatro cafés, um minimercado, uma serralharia e uma casa paroquial, agora novamente ocupada por um jovem padre. Lembro portas que fecharam: escola primária, creche, queijaria tradicional. Quantas continuarão abertas e até quando? Talvez algumas não fossem encerradas se a solidariedade fosse mais praticada entre as várias associações existentes na aldeia. E olhem que são mais do que pensam! Talvez se o verdadeiro espírito de partilha e a transparência de certos responsáveis dessas instituições fosse mais vezes tido em conta na gestão das suas necessidades de bens e serviços, levando a outras opções que não apenas os preços desses mesmos bens e serviços, contribuíssem efectivamente para a manutenção e fortalecimento de pequenos negócios que tanta falta fazem ao povo.