Cantar as janeiras
Durante o mês de Janeiro, na nossa aldeia,
era costume cantar as Janeiras. Tal como em muitas outras terras do nosso país,
cantar era uma das formas conhecidas de dar as boas-vindas às famílias que viviam
na freguesia. Uma tradição popular com muitos anos de história, que como outras
tradições populares estão a esquecer-se e tendem a desaparecer para sempre.
E esta tradição de cantar as janeiras,
vai para lá da música e das canções. E a espontaneidade com que se formavam os
grupos de cantores e tocadores, era mais profundo e mais sério que aos nossos
olhos nos parece. A simplicidade e a humildade, a franqueza com que as pessoas
conviviam e se agrupavam faziam as coisas acontecer.
Por isso era muito fácil formar um
grupo de pessoas para cantar as janeiras e percorrer as ruas da aldeia.
Marcavam o dia, hora e local para se juntar e cada um trazia alguma coisa que
fizesse algum ritmo e barulho controlado. Uns traziam concertinas, outros a
guitarra, a pandeireta, os ferrinhos e claro havia sempre um tambor.
Daquele lugar combinado saíam a cantar e a tocar cantigas populares e
agradáveis ao ouvido de toda a gente. O grupo percorria as ruas da freguesia e
iam de porta-em-porta dar as boas-festas espalhando alegria e boa disposição.
Só esperavam que alguém da casa viesse ter com o grupo e lhes oferecesse comer
e beber, eles em troca cantavam, depois continuavam para a próxima casa.
É uma daquelas tradições populares que
mesmo sendo populares, está condenada a desaparecer. Está difícil criar
interesse nas pessoas para se juntar e simplesmente alegrar e sempre com o
cuidado e o respeito pelos sentimentos das famílias, por exemplo, respeitando
sempre os períodos de luto.
No íntimo de muitos de nós guardamos
estas lembranças e sabemos que hoje o mundo e as tradições já não se celebram
como noutros tempos. Lembram-se com alguma saudade e nostalgia de ver o grupo
de sócios da ACDM que todos os anos alegravam as janeiras?
As instituições e cada um de nós é
parte da nossa cultura e da nossa freguesia. Os malcatenhos, independentemente
do lugar onde vivam ou trabalhem, são malcatenhos e é a nós todos que nos cabe
manter e divulgar o verdadeiro espírito que é ser malcatenho.
Cantar as janeiras e organizar outras
tradições é aprender a alimentar a criatividade, a espontaneidade e o respeito
pelo legado dos nossos antepassados e
fazermos nós a mesma passagem aos vindouros, para assim a nossa história não
terminar.
José Nunes Martins