Estamos a um mês da
festa em Malcata. O mês que terminou há poucos dias serviu de estágio de
preparação para o mês de Agosto, que não fica atrás do mês dos santos populares.
O mês de Agosto é aquele mês que todos os domingos se celebram festas em honra
de santos e santas.
Eu também gosto de festejar, mas
confesso que não é no mesmo estilo e género como a maior parte da gente gosta.
Muitas pessoas, multidão toda aos empurrões, mesmo até nas filas do bar, das
carnes, dos carrosséis, das farturas ou das pipocas. Conviver sim, mas num
estilo mais tranquilo, mais calmo e não me sentir mais do que sou, exibindo
para os amigos as mãos a agarrar no copo cheio de cerveja e aos pulos andar em
volta da caixa de minis. Muitos dos festivaleiros é assim que gozam nas festas,
pois são todas iguais umas das outras e as diferenças só o local dos festejos.
Nestes últimos anos a programação das festas é mais do mesmo só que em dias e
lugares diferentes, na sua maioria, abençoados por pessoas santas.
E como já é costume, a festa na nossa
freguesia têm-se realizado no 2ºDomingo de Agosto. Normalmente são três dias de
festa organizada pela comissão de mordomos. As cerimónias religiosas estão sob
a responsabilidade do pároco da freguesia. Todos os outros eventos que se
fazem, há muitos anos que saíram da esfera da Fábrica da Igreja e são os mordomos
que se ocupam e assumem a organização de tudo.
Ultimamente na nossa terra o
desconhecimento e a incompreensão do território, dos nossos valores e também de
pessoas com alguma falta de sensibilidade, noto uma crescente falta de sentido
crítico quando os factos acontecem. Por desconhecimento, por receio de ser
incómodo e de ser incomodado, há silêncios que são gritos.
Na aldeia a terra é da comunidade,
nela vivem todos os que querem lá estar em permanência ou nos tempos
disponíveis para poder estar. Nesta terra muitas pessoas construíram a sua
habitação ou herdaram. Por ser assim, há que cuidar bem dela.
A aldeia que eu chamo minha não é uma
ilha, mesmo que a vejamos rodeada por muita água. Vivemos num território
agrícola, com muitos usos e costumes bem enraizados. E a festa no mês de Agosto
é um desses costumes. Mesmo com as mudanças, em que o profano tomou conta do
que mais rende, do bar e do ramo.
É com bastante preocupação que
escrevo, mas sinto que muitas pessoas estão a passar uma esponja pelas festas
mais antigas, da forma como os mordomos trabalhavam e organizavam. Numa
comissão de mordomos nem todos eles sabiam ler e escrever. As responsabilidades
de tesouraria ficavam a cargo dos que liam e escreviam. Havia sempre a
preocupação de encontrar alguém dos mordomos que se dedicasse às contas do deve
e do haver, do saldo e da dívida, pois quando o dinheiro não chegava, eram os
mordomos que assumiam o fecho das contas.
Não estou a pôr em causa a seriedade
das mordomias, pois tenho certo de que para mim todos tentam fazer o melhor e
todos querem que seja uma festa grande, forte e que todos se divirtam. É assim
que o povo espera que aconteça em todas as festas.
O ano passado, a festa foi boa e
divertida, quem lá esteve viu as pessoas a sorrir e a dançar, a beber e a
aplaudir. Correu sempre tudo muito bem, tão bem que não tinham tempo para tomar
apontamentos e transcrever para o livro as várias fontes de receitas e as
despesas. No fim de tudo, sabe-se hoje que, alegadamente, aconteceram coisas
estranhas que deixaram o povo enfadado.
É caso para perguntar: o que estão a
fazer com a festa de Malcata?