A história dos milhares de emigrantes portugueses por terras de França ainda está por contar.
José Vieira, luso-francês, hoje realizador de cinema, também foi emigrante e tem procurado tirar da amnésia social esta parte da história portuguesa. Ainda este mês passou num canal francês um filme acerca dos emigrantes portugueses onde se retratavam as condições em que eles se encontravam. As histórias dos nossos emigrantes, onde se inclui o meu pai, são anos de vida passados nos arredores de Paris e ainda hoje continuo sem saber muito bem o que lá fizeram, como lá viviam, como lá passavam os dias...o José Vieira afirma que é uma história que podia continuar blindada pelo silêncio, porque não enaltece ninguém: nem Portugal, nem França e nem os seus protagonistas. Nos anos 60 havia uma centena de bairros de lata na região parisiense, os chamados
bidonvilles para onde iam os portugueses que chegavam à França. O próprio José Vieira cresceu no bidonville de Massy, no Sul de Paris.
Eram como os bairros de lata que há hoje à volta da cidade de Lisboa. Locais lamacentos que se propagavam ilegalmente em baldios e terrenos abandonados à beira de edifícios e torres modernas. Viviam em barracas com água a brotar do solo húmido. Por causa da lama, conta José Vieira, "as pessoas tinham dois pares de sapatos-um par para andar no bairro, outro para sair".
"Eu não me vim embora por vergonha!" admite um ex-emigrante no filme de José Vieira.
José Vieira
Foi assim que Malcata( aldeia dos pais de José Vieira) foi perdendo os seus filhos para os bidonvilles franceses. E poucos voltavam para contar como se vivia lá. Os emigrantes portugueses trabalhavam na Renault, na Citroen, na construção civil, nas auto-estradas, nos jardins e a maioria vivia nos bidonvilles à volta de Paris.
Pessoas entrevistadas pelo José vieira?! Conhecem algumas...penso que sim.
"O Belmiro, o homem que fazia o transporte dos emigrantes portugueses, passou o mês todo a fazer viagens entre Malcata e os bairros de lata." diz o José Vieira a uma revista de cinema.
Os filmes de José Vieira vêm ao encontro da necessidade dos filhos dos emigrantes conhecerem melhor a história dos seus pais. Dois filmes de José Oliveira: A fotografia rasgada, de 2001, e O País onde nunca se regressa.