TOURADAS: PRÓS E CONTRA

As touradas em Portugal estão a ser tema de muitas conversas nos cafés, nos jornais e na internet. Neste momento decorrem duas petições na internet e cada uma defende as suas ideias. Como sabem, o concelho do Sabugal é conhecido pelas "capeias", ou touradas com forcão, como lhe queiram chamar. Também não é de estranhar que um dia destes apareça um grupo a defender a abolição das "capeias" nas aldeias do Sabugal. Eis uma amostra do estado de alma destes dois grupos, um que é contra e o outro a favor:


"Em Defesa da Festa Brava


Em Defesa da História, da Terra e dos Homens

Em Defesa dos Animais e da Natureza



Chamo-me Francisco Moita Flores. Sou escritor. Sou pai de três filhos, avô de três netos. E, neste momento da minha vida pessoal, por decisão do Povo de Santarém, sou Presidente de Câmara".

E os defensores da festa dos touros continuam:
"As culturas urbanas radicais desprezaram os campos e desprezam os seus costumes, gostos, atitudes psico-afectivas. Consideram-nos ganga, ruído, ‘pimba', decadência face ao brilho multicolorido das cidades. Como disse a grande poetisa Sophia de Mello Breyner, são pessoas sensíveis que detestam ver matar galinhas, mas adoram canja de galinha! Culturas, ou microculturas radicais que surpreendidos pela devastação que provocaram, desertificando os campos, envelhecendo-os, matando-os, matando a agricultura, as aldeias, as vilas, a vida da pastorícia, das florestas - tudo submetido à ordem e aos valores da cidade - descobriram que valia a pena lutar por adereços. Não pelos campos ou pela multiplicação dos animais como estratégia de recuperação do mundo agrícola, muito menos por respeito pelos homens que desprezam e tratam como meros servos, mas para apaziguar consciências consumistas que na irracionalidade do consumismo despedaçaram qualquer outro valor, ideia, ou respeito pelos outros, seja pelos Homens, seja pela Natureza, seja pelos Animais.


Os diferentes nichos que surgem pelo país, em defesa do lince, em defesa do lobo, em defesa da água, contra a festa brava, na maior parte dos casos apenas olha a árvore e recusa-se a ver a floresta. São, na sua maioria, contra qualquer vínculo que afirme o respeito pelos Direitos do Homem casados e em sintonia com os Direitos da Terra. Não quero, nem é possível discutir os argumentos contra a Festa Brava.

Do outro lado da barricada e contra a festa brava aqui vai:


Considerando que:




a) a ciência reconhece inquestionavelmente a maioria dos animais, incluindo cavalos e touros, como seres sencientes, capazes de sentir dor e prazer, físicos e psicológicos, bem como sentimentos de medo, angústia, stress e ansiedade;



b) as touradas gozam em Portugal de um injustificado regime de excepção legal, pois o ponto 2 do Artigo 3.º da Lei n.º 92/95 de “Protecção aos animais”, que diz que “As touradas são autorizadas nos termos regulamentados”, contradiz frontalmente o ponto 1 do Artigo 1.º da mesma lei, que declara que “São proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal”, o que é manifestamente o caso das touradas;



c) a maioria da população portuguesa é contra a tauromaquia, conforme mostra um estudo realizado em 2007 pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE;



d) as touradas ofendem a fé e o sentimento maioritariamente cristãos e católicos do povo português, pois a Bíblia apresenta os animais como criaturas de Deus (Génesis, 1, 24) e o Catecismo Católico declara ser “contrário à dignidade humana fazer com que os animais sofram ou morram desnecessariamente”, doutrina recentemente recordada pelos Papas João Paulo II e Bento XVI;



e) o artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa consagra como tarefa fundamental do Estado “promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo”, o que se contradiz pela permissão das touradas, que ofendem o sentimento maioritário da população e contribuem para a degradação moral de quem obtém prazer estético e psicológico com o sofrimento dos animais;



f) as touradas são uma das expressões de uma cultura da insensibilidade e da violência que degrada quem a pratica e promove, o que ofende o Artigo 1.º dos “Princípios fundamentais” da Constituição da República Portuguesa, que proclama Portugal como “uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana”;



g) vários estudos e especialistas concordam que a prática e a aceitação da violência contra os animais predispõe para a prática e a aceitação da violência contra os homens;



h) o progressivo abandono de tradições retrógradas, contrárias a um sentido humanista de cultura como aquilo que contribui para nos tornar melhores seres humanos, é o que caracteriza a evolução mental e civilizacional das sociedades e melhor corresponde à sensibilidade contemporânea;



i) a existência de touradas no século XXI constitui um embaraço para Portugal perante a comunidade internacional, configurando a imagem de um país com pessoas e práticas bárbaras;



j) a abolição das touradas é compatível com a manutenção da sua coreografia, sem a utilização de animais, num espectáculo em que se preserve a estética tradicional e que possa converter-se na atracção turística que as touradas não são e nunca foram, pela repulsa que geram nos cidadãos estrangeiros (a evolução dos costumes ditou o mesmo em muitas culturas, convertendo antigas práticas marciais, com mortes e derramamento de sangue, em artes lúdicas, como no caso do kendo japonês e da capoeira afro-brasileira, entre muitos outros exemplos);



l) a abolição das touradas vem na linha humanista da abolição da pena de morte, em que Portugal foi pioneiro, e promoverá a imagem de Portugal em todo o mundo, sendo um contributo decisivo para o país mais ético que todos desejamos, esse “país mais livre, mais justo e mais fraterno” consagrado no “Preâmbulo” da Constituição da República Portuguesa;



Vimos por este meio solicitar que se aprove legislação no sentido de abolir completamente as touradas e todos os espectáculos com touros, sob qualquer forma, em todo o território nacional, convertendo-se as actuais praças de touros em museus e casas de cultura onde se preserve informação sobre uma prática ultrapassada e onde se promovam actividades humanitárias e de introdução dos jovens e do público em geral a um maior conhecimento e sensibilidade para com a natureza e os seres vivos, criando postos de trabalho onde se podem inserir muitas das pessoas agora dedicadas às actividades tauromáquicas".


PONTUAÇÃO:

9.763 assinaturas às 00:00 de 23 de Setembro da Petição pela abolição das touradas
10.340 assinaturas às 00:00 de 23 de Setembro da Petição Em Defesa da Festa Brava

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