"No dia em que, com honras de presidente da República e de ministro, era inaugurado um hospital privado em que os preços de internamento podem chegar a 250 euros diários, num canal de televisão, a mãe do bébé de 9 meses transplantado no Hospital Pediátrico de Coimbra, com parte do fígado materno revelava que os medicamentos de que o menino precisa para sobreviver custam 500 euros por mês e que não pode pagá-los, dependendo a vida do bébé da "onda de solidariedade" que entretanto se gerou à sua volta. No mesmo noticiário dava-se ainda conta de que as maiores quatro empresas portuguesas tiveram em 2006, no seu conjunto, lucros da ordem dos 10 mil euros...por minuto!
As três notícias retratam o país que hoje somos e, na sua secura, dizem mais da situação social a que têm conduzido as políticas dos últimos governos do que todas as estatísticas juntas. Ana, a mãe, estava feliz pois a solidariedade tem vindo "até do estrangeiro". Mas, inquieta, interrogava-se sobre o que sucederá quando o caso sair dos telejornais. A pergunta poderia ser feita ao presidente e ao ministro, mas receio que a resposta fosse a do costume. O pequeno David é português só há nove meses, mas terá de pagar, também ele, o défice. E sempre é mais fácil cobrar-lho a ele que aos bancos."
Artigo retirado do Jornal de Notícias de 20/04/2007, onde o escritor Manuel António Pina, um homem da nossa Raia, escreve e que bem sabe observar o nosso mundo.
As três notícias retratam o país que hoje somos e, na sua secura, dizem mais da situação social a que têm conduzido as políticas dos últimos governos do que todas as estatísticas juntas. Ana, a mãe, estava feliz pois a solidariedade tem vindo "até do estrangeiro". Mas, inquieta, interrogava-se sobre o que sucederá quando o caso sair dos telejornais. A pergunta poderia ser feita ao presidente e ao ministro, mas receio que a resposta fosse a do costume. O pequeno David é português só há nove meses, mas terá de pagar, também ele, o défice. E sempre é mais fácil cobrar-lho a ele que aos bancos."
Artigo retirado do Jornal de Notícias de 20/04/2007, onde o escritor Manuel António Pina, um homem da nossa Raia, escreve e que bem sabe observar o nosso mundo.