20.1.20

UMA ESCOLHA DIFÍCIL


 
   Na manhã daquele domingo tudo mudou. A queda e os pedidos de auxílio foram os sinais que lhe indicaram que algo não estava tão bem até aqui. Esquecimentos, confusões com os dias da semana, pouca vontade de comer e confundir as horas das refeições já nele acontecia às vezes. Mas naquela manhã o tremer daquele corpo magro e frágil pôs à vista a segurança e o bem-estar daquele homem.
   Naquele domingo já não foi à igreja e ficou sentado numa cadeira junto à lareira, olhando de vez em quando para a cerimónia da missa que estava a ser transmitida pela televisão.
   Aquilo não tinha acontecido, não podia ter acontecido, mas aconteceu e sou invadido com uma carrada de perguntas. Tinha prometido a mim mesmo que ia retribuir nesta fase da vida dele, o amor e o carinho que recebi durante estes anos de vida, sem esconder que entre os dois, por causas ligadas à emigração e à minha abalada da aldeia, sentia que ainda nos podíamos dar a conhecer melhor um ao outro. Não era eu que o impediria de ir para outra casa, para a minha lá para o norte ou para a da minha irmã mais lá para o sul, sempre se mostrou sem vontade de voltar a deixar a casa, as suas coisas, as suas rotinas e não queria deixar as conversas com os vizinhos amigos, que às tardes se encontravam à sombra do castanheiro que ele viu crescer. Estava bem e ali é que ele se sentia como se sente o peixe dentro de água.
   Cada vez que o lar vinha ao de cima das conversas, o seu comportamento alterava-se e os seus gestos mostravam isso mesmo, o desejo de continuar na sua casa e com as suas rotinas. Não se imaginava a viver sem total liberdade individual, mesmo conhecendo a instituição e as pessoas que nela trabalham. Os horários para viver a sua vida, sejam da hora de levantar, de comer e voltar para a cama, sempre viveu, comeu e dormiu quando o corpo o pedia, principalmente depois de regressar da França.
   Chegou o dia de eu regressar para junto da minha esposa e das minhas filhas. Fui sem muita vontade, mas tinha que ser, pois sabia que o meu pai ia estar bem acompanhado pela minha irmã. Combinámos que dentro de dias eu regressaria para junto dele, pois tinha tempo para isso e ela tinha que ir trabalhar.
   O meu telefone tocou à noite e fiquei a pensar na mensagem que recebi. Conclui que aquela manhã de domingo ainda mexia com o homem, pois aceitou de bom grado a ida para o Centro de Dia e o regresso a casa para dormir. Fiquei espantado com esta decisão dele, mas se era a sua vontade, eu só tinha que a respeitar e compreender.
   Mais surpreendido me deixou ao saber que nesse mesmo dia, atreveu-se a perguntar se naquela noite, naquela primeira noite já ia dormir no lar!
   Que passou nos últimos dias do mês de Dezembro? Muitas coisas e parece que ele as compreendeu mais depressa e melhor do que eu. Sabia que no Natal tinha companhia e veio a saber depois que eu, para poder prestar auxílio à minha esposa que, por infortúnio, havia partido o pé em dois sítios, estaria longe dele durante bastante tempo, portanto a melhor opção era ir para onde não queria, mas as circunstâncias o obrigavam a ir para não passar outra vez por momentos de aflição naquela casa tão fria e sem mais ninguém.
    Então nesse dia de Dezembro, deixou tudo como estava, levou a roupa que tinha vestida e por obra e graça do senhor Moreira, que desistiu da sua entrada no lar, com os apoios e ajudas da instituição, ocupo o quarto onde agora descansa e dorme.
    Vou aguardar pela segunda oportunidade de o visitar, de o abraçar e ficar mais convencido do acerto da decisão que ele tomou, sem esquecer o empurrão que recebeu para lá chegar mais rápido.
                                                                                                       José Nunes Martins
  

18.1.20

PROGRAMA 2030 JÁ COMEÇOU



   Os próximos dez anos vão ser decisivos na definição daquilo que querem os malcatenhos para a sua freguesia a longo prazo. E dez anos passam depressa tendo já começado a contagem dos anos. Todos carregam consigo pontos fortes e pontos fracos. Se chegarmos a 2030 é sinal de que vivemos mais uns anos, contudo a probabilidade de lá chegarmos com mais problemas de saúde, mesmo com a ajuda da ciência e da tecnologia a ajudar com os seus avanços.
   O futuro pode trazer novas esperanças mesmo que os desafios sejam grandes. Por isso, ao longo destes dez anos muitas oportunidades irão surgir e temos de saber aproveitá-las bem, ou seja, vamos ter de fazer escolhas acertadas.
 
                                                                                                 José Nunes Martins
  

6.1.20

CANTAR AS JANEIRAS AQUECIA A VOZ E O CORPO

Cantar as Janeiras em Malcata

   Todos os anos, em Janeiro, formavam-se grupos de pessoas, jovens e menos jovens, para cantar as Janeiras. Um costume que durante anos e anos se praticou na nossa aldeia. Reuniam-se num local previamente combinado e percorriam as ruas indo de casa em casa a cantar e a tocar alguns instrumentos tradicionais: pandeireta, ferrinhos, castanholas, concertina, tambor, entre outros, desejando umas boas entradas  no novo ano. Regra geral paravam ao fundo das escadas e cantavam as quadras populares dedicadas às Janeiras:

Levante-se lá senhora
Desse banco de cortiça
Venha-nos dar as Janeiras
A morcela ou chouriça
   Com sorte, a porta abria-se e umas vezes entravam para beber, comer e ainda meter no saco.
   No final da volta às ruas, juntavam tudo o que conseguiram angariar e faziam uma agradável petiscada, regada com vinho e muita alegria.
   Outros tempos, outros costumes e tradições. Hoje tudo parece mais difícil de acontecer.           Cantar as Janeiras era uma tradição simples, muitas vezes percorriam as ruas às escuras, guiando-se pela luz da lua ou pela luz das candeias a petróleo, não havia televisão e jogavas-se às cartas, a conversar junto ao lume da lareira e assim era a cena mais natural e mais habitual.
   Durante alguns anos, a Associação Cultural e Desportiva da aldeia retomou essa tradição e
  renasceu esse bom e alegre costume, que mais não era que o avivar das memórias dos nossos antepassados e nessa noite ou noites, soltar a alegria e a confraternização sadia entre todos era o mais importante.
   Será que o vento tudo levou? Ainda tenho esperança que tenha ficado alguma brisa, alguma nuvem passageira que com o vento regresse.
   
    Cantar as Janeiras aos seniores do Lar era um dos lares mais queridos:

 
    




5.1.20

NOVO ANO - NOVA DÉCADA


      


   
     Que esta nova década nos reserve coisas boas, bem melhores e nos conceda a força e a coragem para sermos melhores pessoas, mais verdadeiros e mais felizes. A vida está nas nossas mãos e Deus dá-nos a capacidade e a liberdade para fazer desta década, de cada um destes dias o que quisermos. O pássaro está nas nossas mãos! Viver e deixar viver em liberdade, depende das nossas decisões, das nossas acções. Um simples abrir da mão dará a oportunidade ao pássaro se ver livre e voar, voar até o infinito.
   Está nas nossas mãos viver felizes e livres!
   Bom Ano.
A entrada neste novo ano é mais que uma simples mudança de números, é a transição para uma nova década. Ou seja, passados 10 anos o que mudou no mundo, no nosso país, na nossa freguesia e na nossa casa? E cada um de nós imaginava viver os acontecimentos que nestes 10 anos atrás?

25.11.19

O BOM FREGUÊS


  

   Só olhando para o futuro e sem qualquer preconceito moral ou ideológico, em que todos os malcatenhos se unam para o bem da comunidade, única garantia firme e verdadeira de salvarmos a nossa freguesia.
   Há feridas que é preciso sarar e até que isso aconteça, temos que ter a coragem de procurar os remédios para a curarmos. Colocar as mãos na ferida e com ajuda e cuidados necessários, um dia ficará curada.
   Se olharmos para o tempo que já passou, o que podemos ver e o que somos levados a pensar? O que foi feito até aqui? Sabemos que há projectos por fazer, outros por acabar e ainda aqueles que se pensam um dia fazer.
   E o que nos diz ou transmite o poder local? Pouca informação, quase nada, para não dizer mesmo nada. Como vão as coisas? Vão bem, vai tudo bem e tudo como dantes em Abrantes. É o que me apetece dizer, pois parece que quanto menos perguntas forem feitas, tanto melhor.
   O boca a boca de hoje já deixou de ser exclusivo dos residentes na nossa freguesia. Com o uso das novas ferramentas tecnológicas de informação e comunicação, mesmo não estando presente e a residir na aldeia, rapidamente sabemos o que se diz, se espalha. Já não há como fugir e aqueles que continuam a negar a importância da utilização da internet e das suas capacidades de informação e divulgação é porque ainda não estão preparados para aceitar viver numa democracia participativa para além do colocar a cruzinha no voto sempre que há eleições.
   É ou não importante que o cidadão comum participe nas acções do poder local?
   É às juntas de freguesia que compete o Estado bem próximo. E o que sabem os cidadãos sobre a sua junta de freguesia, os trabalhos que fizeram, os que estão a fazer, as dificuldades e as demoras num determinado projecto ou obra? Há quem entre na sede da junta de freguesia quando lhe falta alguma coisa, quando rebenta o contador da água, quando falha a luz eléctrica e algumas vezes são capazes de sair de lá sem resposta, sem nada nas mãos. Sabemos que a junta de freguesia deve responder aos pedidos do cidadão, quer se trate de uma reclamação, um pedido de ajuda e fazê-lo com eficácia e rapidez.
   Aqui chegados, a utilização das novas ferramentas da comunicação têm que ser incentivadas na sua utilização para servir melhor o cidadão. E o que tem feito a nossa junta de freguesia a este respeito é muito pouco, apesar de estar a pagar por serviços e ferramentas que podiam contribuir para aumentar as relações do poder local com o cidadão e este se sentir mais participativo na vida da comunidade. E que dizer dos malcatenhos espalhados um pouco por todo este mundo? Hoje, com a ajuda da internet, há a possibilidade de resolver muitos assuntos importantes sem que haja necessidade de aguardar até ao mês de Agosto para se dirigir à junta de freguesia a fim de ficar resolvido um qualquer problema ou documento necessário para o cidadão.
   O que nos define como uma aldeia desenvolvida, é o empenho e a capacidade de cada malcatenho se responsabilizar pelos seus actos e cumprir os cumpromissos assumidos em determinada data.
                                José Nunes Martins
  

22.11.19

OBRAS PÚBLICAS OU PRIVADAS?


Foto do Google Maps
   Li hoje num jornal uma notícia que me fez pensar em situações parecidas e que aconteceram na nossa aldeia. Dizia o jornal que “dezenas de obras de pavimentação e arruamentos…terão sido feitos e pagos pela autarquia com objectivos de beneficiar casas de amigos e garantir apoios na política”. Também na mesma notícia se dizia que o Ministério Público acusa o ex-autarca e o seu ex-secretário, um vereador e um director do departamento de obras, por crimes de corrupção, peculato, falsificação de documentos, prevaricação e abuso de poder.
   Como se processava a coisa? Primeiro, dizia o jornalista, “eram feitas as obras, apenas com o compromisso de boca dos autarcas. Depois, mais tarde, eram forjados os procedimentos de contratação pública destinados aos pagamentos”.
   A notícia do jornal referia-se aos autarcas de um concelho que não é o do Sabugal. Mas esta forma de proceder faz-me lembrar as obras de calcetamento, sem especificar os nomes das ruas e as localidades, foram adjudicadas pela Câmara Municipal por ajuste directo. Lembro-me da intervenção de um presidente de junta numa das Assembleias Municipais, interpelar o senhor presidente do município as razões de tais procedimentos, pois, para esse autarca, o anunciar e adjudicar obras em grupo, ou seja, o arranjo de calçadas, era pouco esclarecedor e ninguém tinha como saber a que obra concreta se referia o ajuste directo. Daí que este autarca solicitava à Câmara para ser mais transparente e publicitasse com mais clareza essas obras e outras do género.
   Em 2017, uns meses antes das eleições autárquicas, na nossa aldeia foram realizadas obras de arranjos e calcetamento que suscitaram alguma agitação e foi contestada por alguns cidadãos. Tratou-se de satisfazer um compromisso pessoal com um morador a quem a autarquia garantiu calcetar o acesso à sua casa e em troca garantir o apoio político? A obra foi feita por um empreiteiro e ninguém tem conhecimento dos custos e em que adjudicação está incluída.
   Esta foi uma obra que foi contestada naquela mesma altura em que estava a ser feita. Infelizmente, parece não ser uma situação de excepção, dizem que já aconteceu mais vezes, noutras ocasiões e campanhas eleitorais. Tem sido, ao que parece, um dos esquemas utilizados pelos políticos que permite satisfazer os pedidos feitos por particulares, em contrapartida de apoios políticos. Se esta maneira de proceder assim é, somos levados a pensar que para além das juntas de freguesia, também o município e o seu departamento de obras estão em incumprimentos.
   Só assim é que se pode entender algumas obras de calçadas nas nossas aldeias. E se a lei é igual para todos, eu pergunto porque é que a autarquia paga as obras de calcetamento, justificando-se, que pelo facto de possuir saneamento básico, aquilo que foi espaço privado durante anos, se transforma em via pública e toma decisão contrária numa outra obra da mesma freguesia e também com saneamento básico, hoje com calçada, mas paga pelos moradores desse lugar?
 
                                                    José Nunes Martins

20.11.19

AS PROMESSAS


   


   Na altura das eleições os candidatos prometeram muito. Sabemos, porém, que nem sempre essas mesmas promessas são cumpridas. Umas não realizadas por motivos alheios ou porque houve alterações que lhes tiram a razão de serem cumpridas.
Contudo, há promessas que não se concretizaram ou algum dia se concretizarão, porque apenas foram feitas para conquistar o voto dos eleitores.
Desde as últimas eleições autárquicas já passaram dois anos. Quem ainda se lembra das promessas eleitorais dos que venceram as eleições? Como estão o estado de cada uma dessas promessas? Quantas já foram realizadas? E as que não foram ainda concretizadas, não o foram porquê?
   Deixo-vos aqui o desafio de se manifestarem aqui em relação às promessas da junta de freguesia em exercício. E para vos facilitar a vossa reflexão, deixo-vos a lista dessas 14 promessas eleitorais:
         PROPOSTAS DO PSD (Malcata) PARA 2017 ATÉ 2021:
- Projecto agrícola “Cabra Serrana”- Candidatado ao PDR2020
- Alojamento local – Requalificar as instalações do quartel e reabilitar as casas da Junta de Freguesia.
3ª - Sala de memória colectiva – Conclusão do projecto e exposição de peças de natureza etnográfica.
4ª - Centro interpretativo do Lince da Malcata – Criação em parceria com o Município.
5ª - Implementação de painéis e placas informativas em locais de interesse (Património cultural, elementos de atração turística, entre outros).
6ª - Zona de Lazer – Manutenção, ampliação, melhoramento dos espaços e aquisição de novos equipamentos;
7ª - Promover e divulgar a actividade “Mãos na massa – O ciclo do pão”, proporcionando actividades didácticas e de interacção social;
8ª - Solucionar as necessidades de abastecimento e drenagem de água;
9ª - Requalificar
e ampliar a Rua de Baixo;
10ª - Melhorar a área afecta ao acolhimento de caravanistas, tornando-a mais atractiva e funcional;
11ª - Apoio Social – Assistência médica, aulas de actividade física, apoio na inclusão social e profissional, potenciar o desenvolvimento de formações;
12ª - Cooperar com associações e comissões de festas;
13ª - Representar os cidadãos junto do Município, na resolução de problemas ou outras questões;
14ª - Serviços de proximidade a toda a população de Malcata, na resolução dos problemas diários.
 
   Estas são as 14 promessas, para os quatro anos de mandato do executivo da Junta de Freguesia de Malcata. Os cidadãos têm aqui a oportunidade de se pronunciarem sobre estas 14 promessas.

14.11.19

O ESTADO DAS COISAS

 
        Parque de Merendas de São Domingos-Malcata
                                                                 


    
Ao longo dos anos venho dizendo muitas coisas sobre a nossa aldeia, o nosso concelho e, por diversas vezes, alertar para uma realidade que tem contribuído para a descaracterização da aldeia, nomeadamente no que diz respeito ao património edificado, ao património público e ao património imaterial.
   Malcata, no tempo em que os emigrantes iam para França ganhar dinheiro e deixavam os filhos por causa da escola, era uma aldeia cheia de crianças e juventude. Os primeiros que abalaram e por lá andaram a trabalhar e muitas vezes a comer o pão que o diabo amassou, acabaram por regressar e aqui têm vivido os seus dias à custa da “retrete” vinda de França. O mesmo já não aconteceu com os filhos desses emigrantes. Aqueles que partiram depois dos seus pais ou aqueles que já nasceram em território francês, só no tempo das férias é que vêm a Malcata. Durante o ano a maioria dos residentes na aldeia são pessoas envelhecidas, que passam os dias no Lar ou nas suas casas. Com a ausência dos garotos e raparigas, encerraram a creche e a escola primária. Construiu-se o lar com Centro de Dia, Apoio Domiciliário e Estrutura Residencial Permanente. Ou seja, aumentou-se a capacidade do lar e também se aumentou a área do cemitério. Neste momento os dois edifícios das escolas primárias estão cedidas a associações e Junta de Freguesia. Bem, com esta decisão ambos os edifícios estão em boas condições de conservação. Entretanto, a maior parte das casas abandonadas, como são os antigos palheiros e aquelas casas cujos donos já faleceram e os herdeiros ainda não fizeram as partilhas do património, muitas delas já caíram ou estão a cair aos poucos e poucos. Tanta casa vazia, sem alma humana no seu interior, transformou as ruas numas calçadas ruidosas e assustadoras porque ouvimos os nossos próprios pés a pisar o chão porque caminhamos sós e com pressa de chegar ao destino.
   É visível ao nosso olhar o enorme desleixo e desinteresse pelo património edificado, tanto o particular como o público. Os particulares empurram a responsabilidade para a junta de Freguesia e nela depositam o poder de intervir, muitas vezes sem recurso ao bom senso comum, passando a ter em conta os interesses dos que votaram a favor, deixando os outros fora das preferências. Com estes procedimentos acabamos por viver na mesma freguesia, mas em dois grupos: o grupo a favor da coisa e o grupo do contra a coisa. 
   Hoje até aquelas coisas que sempre todos se interessavam por preservar, manter asseadas e esmeradas, estão a ficar abandonadas, cheias de mato ao redor, placas de identificação destruídas e a apodrecer no chão, ali estão esquecidas, mas à mostra de quem ali passa. Muito se prometeu e nada ou pouco se vê de animador. Em tempos, quando para além das quatro paredes pintadas de branco e a porta de azul e espreitava lá para dentro através daquela janelinha, via que ali permaneciam os guardiões junto ao altar. Nesses tempos passados e em sinal de respeito, os homens tiravam o chapéu ou a gorra que voltavam a pôr na cabeça continuando o seu caminho. Falo-vos da Capela de São Domingos e do Parque de Merendas. A capela é património religioso, logo está fora da gestão política. Mas o Parque de Merendas é da responsabilidade política e carece de mais cuidado, mais interesse pela sua limpeza e estruturas de apoio para poder ser um local de lazer e fruição dum verdadeiro Parque de Merendas.
                                                                                                       
                                                                                                                 
José Nunes Martins

9.9.19

MALCATA: UMA ALDEIA POR DESCOBRIR


  

   A freguesia de Malcata fica situada no sopé da Serra da Malcata, no concelho do Sabugal e integra a área da Reserva Natural da Serra da Malcata.
   Tal como as outras aldeias à sua volta, a aldeia é habitada maioritariamente por pessoas de idade avançada. Mesmo ou por causa dessa realidade, há 24 anos que abriu as suas portas o Lar da freguesia, sob a responsabilidade da Associação de Solidariedade Social de Malcata. Há também em plena actividade a Associação Cultural e Desportiva de Malcata, a Associação de Caça e Pesca, a Associação Malcata Com Futuro e também a Fábrica da Igreja.
   A Escola Primária que existia acabou por encerrar, por escassez de crianças em idade escolar, tendo acontecido o mesmo à Creche.
   Em Malcata não se passa fome e cada família possui ainda a sua pequena horta ou quintal e cultiva parte dos produtos com que se alimenta. Com a debandada para terras de França, Argentina e as grandes cidades de Portugal, restam aqueles que nunca quiseram sair e os mais velhos, muitos deles regressados doutras terras por onde passaram a vida a trabalhar e a fazer pela vida.
   O que é que Malcata tem para oferecer a quem aqui vier?
   Quais os pontos ou lugares que, pelo interesse e beleza natural, devem ser dados a conhecer?
   O ar, todos sabemos que é de qualidade superior e é um ar respirável, faz bem e é sem dúvida um recurso natural que nos deixa felizes e satisfeitos. Quem não gosta de encher os pulmões com o ar que se respira por aqui?
   Alojamento local existe um em pleno funcionamento. A Casa das Camélias, ali ao fundo na Rua de Baixo, na zona mais antiga do povoado actual, tem feito e bem as honras da aldeia e desde que D.Ximenes Belo ali se hospedou, já muitos outros ali pernoitaram e descansaram.
   O silêncio e a escuridão voltaram após o fim de Agosto. Tudo voltou à normalidade e ao seu lugar. Aquele mês é um tempo sem tempo para nada e todos querem tudo. Os emigrantes tomam conta da aldeia e a alegria, a festa, a música, as motos e carros põem em alerta os avós que não tiram os olhos dos queridos netos que brincam em todo o lado.
   Este ano o mês de Agosto já passou e Setembro vai quase a meio.
   Este ano, pelas notícias dos jornais e televisão ainda continua a sentir-se e a ouvir-se muito falar de Malcata, da água e da falta dela.
   Ouviram as vozes trazidas pelos ventos?
   Que mensagem nos trouxeram?
   Ainda há gente que é amiga, que avisa e nos diz que a decisão é nossa, é tua, é minha e todos juntos alcançaremos maior número de vitórias.
                                                                                                   José Nunes Martins