9.9.14

MALCATA: UM LAR PARA TODOS

Carlos Clemente, guia-nos pelo novo lar


Com as portas abertas desde 1995, com Carlos Clemente a presidir a (ASSM) Associação de Solidariedade Social de Malcata, também sempre acompanhado por.Susana Marques, como directora técnica, Andreia Castanheira, como Animadora Social, Marta Clemente, a assegurar os serviços de enfermagem,  Manuel Carlos Gonçalves que preside às Assembleias Gerais, ainda com mais quatro elementos que não sei se ainda integram a equipa, mas que são: o seu Vice-Presidente, Joaquim António Fernandes, o seu Tesoureiro Armando Bernardo e o secretário João Paulo Varandas Nabais.
O sonho de criar o lar partiu de Carlos Clemente e de uns amigos de Malcata. A população da aldeia ajudou e muito a concretizar o sonho em realidade e como me dizia Carlos Clemente, a associação era a melhor maneira de construir este grandioso projecto. Para além do apoio do povo, a doação dos terrenos pelo seu dono, o senhor Manuel Augusto Cidades ( Ti Cidades ), contou-se logo com o apoio dos emigrantes e imigrantes e o próprio Estado, através dos serviços da Segurança Social da Guarda.

Quartos novos com camas novas

A ASSM nunca mais fechou e tem sabido manter as portas abertas e tem sabido ultrapassar as muitas dificuldades que vão surgindo ao longo do caminho.Neste momento, em Agosto de 2014, já estão terminadas as obras do novo pólo, situado ao lado do pavilhão multi-usos, estando apenas a aguardar as inspecções legalmente exigidas para que as novas instalações comecem a acolher os utentes da instituição.

W.C.com ajudas

Este novo edifício vai proporcionar uma melhor qualidade de vida aos utentes. O Lar mais antigo continua aberto, vai também beneficiar e quem nele permanecer ou entrar, terá também melhores condições, pois alguns dos idosos que agora vivem neste espaço mais antigo serão transferidos para o novo lar. Ou seja, ambos os edifícios ficarão com mais espaço e claro, os utentes serão beneficiados com estas mudanças.
Quarto com vista para a serra da Malcata


Carlos Clemente, durante a breve visita guiada pelas instalações novas, não escondia o contentamento e a satisfação de mostrar os novos quartos, as camas novas e todas com comando eléctrico, as mesinhas de cabeceira, os espaçosos quartos de banho, todos eles no interior de cada quarto e equipados com louças sanitárias e as respectivas barras de apoio para os idosos. Além do consultório médico, vestiários para os funcionários, salas de lazer e repouso, o quarto com o equipamento de hidromassagem que muito vai beneficiar e contribuir para o bem estar dos idosos, deixou-me confiante e seguro da qualidade e dos benefícios que estão à disposição de todos os que a instituição cuida. E como a vida não é só dormir, o exterior tem espaços para jardim, podendo cada utente abrir a porta do seu quarto e ficar a apanhar os raios solares no seu jardim ou ver a lua e as estrelas lá para a serra. Não foram esquecidos os espaços de apoio ao trabalho e ao serviço propriamente dito. A lavandaria vai deixar o edifício velho e será toda montada neste novo pólo. Com um espaço muito mais amplo e melhores armários para guardar a roupa lavada

Central de aviso 
.

Que mais posso referir? A segurança das instalações cumpre todas as normas exigidas para estes tipos de edifícios, desde extintores nos corredores, sistema automático de detecção de incêndio, em cada cama existe uma campainha que quando accionada, acende uma luz no exterior do quarto e em mais duas ou três pequenas centrais que indicam ao funcionário de serviço qual o utente a pedir auxílio. O mesmo sistema de campainhas foi instalado no gabinete de apoio médico, pois assim o auxílio poderá ser mais eficaz. De salientar que o gabinete de apoio médico está devidamente equipado com os equipamentos necessários que um médico normalmente precisa. Chamou-me a atenção a existência do armário refrigerado onde estarão os diversos medicamentos, especialmente aqueles que necessitam de frio.



Viver a olhar e cheirar a natureza

Que mais vos posso revelar?
A obra é de facto enorme e vai mesmo melhorar o bem estar dos nossos utentes. Malcata e o seu povo deve orgulhar-se de um dia ter sonhado com uma obra assim.
O homem sonha, Deus ajuda e a obra nasce.

ÁREA DE LAZER EM MALCATA

A Junta de Freguesia de Malcata está a terminar as obras de construção da área que rodeia a piscina flutuante, que em tempos foi colocada nas águas da barragem. A estrutura da piscina é a mesma e foi deslocada para mais próximo da ponte, mantendo-se na mesma margem. Na segunda quinzena de Agosto fui visitar o andamento das obras e registei o momento. O que há uns meses era um campo de giestas e outro mato deu lugar a uma área com relva, com mesas e bancos. Existe também duas áreas de areia fina e com guarda-sóis em forma de cogumelo, que encaixam na perfeição no local.
Existem também instalações sanitárias e chuveiros para quem deles necessitar. A Área de Lazer tem duas entradas e está proibida a entrada de veículos motorizados. No momento da minha visita a empresa responsável pela obra encontrava-se em plena laboração e estavam precisamente a colocar as primeiras mesas.

Entrada


 Área de relva e arvoredo ( freixos )



Mesas com bancos





Vista parcial




 Área de areia



Instalações sanitárias


Pelo que vi e pelo que o senhor Carlos me disse, membro da Junta de Freguesia, a Junta está empenhada em manter aquele local sempre limpo, bem tratado e espera que as pessoas desfrutem do novo espaço, tendo sempre o cuidado de não estragar o que tanto custou a construir.

8.9.14

A FESTA DO VERÃO


A “Festa Grande” é a principal festa de Malcata. Escrevo este texto depois desta se ter realizado. Para  mim e para muitos malcatanhos e muitas outras pessoas, emigrantes em França ou noutro país qualquer e imigrantes numa qualquer região portuguesa, participar nesta Festa Grande tornou-se num ritual e num dos momentos mais esperados por todos.
É uma festa que já se realiza há muitos anos e eu tenho o orgulho de pertencer a uma das famílias que durante anos, aceitaram a missão de organizar a Festa Grande de Malcata.
Desde 1959 que o relógio da torre marca o tempo, ali na Praça do Rossio ou na Torrinha, como também é conhecida. Os ponteiros por vezes imobilizam-se e até que se arranje a avaria, o povo de Malcata deixa de ouvir o badalar das horas e mesmo vendo que as horas no relógio não passam, o Tempo corre e não volta para trás. O nosso mundo continua a movimentar-se e passam as horas e os anos e todos ficam mais velhos. O mundo está sempre em mudança, incluindo festas e mordomos. Mas a vida continua e as festas também.

José Rei, nosso conterrâneo, filho de gente séria e humilde, dotado de rara inteligência e com conhecimentos de história, deixou-nos um testemunho escrito sobre a Festa Grande de Malcata, a festa do mês de Agosto como muitos lhe chamam também. Para ajudar a compreender o presente, conhecer o passado e o modo como os nossos antepassados  viviam a Festa é necessário recuarmos no tempo das nossas memórias e dessa forma ficamos mais informados para compreender as festas de hoje.

No seu livro, Malcata e a Serra, José Rei escreve assim acerca da Festa Grande de Malcata:

“Actualmente…entende-se a Festa como dos emigrantes. Ainda que a festividade mantenha uma componente religiosa, a vertente profana é, sem dúvida, muito mais expressiva. É o momento e pretexto para regressar à Terra e reencontrar amigos e familiares. Constitui um ponto de referência para a marcação das férias daqueles que trabalham e vivem nas grandes cidades ou noutros países.
Até às alterações introduzidas pela emigração, a Festa assumia um papel cimeiro nas manifestações da religiosidade e da vivência profana. Era também o momento certo para mostrar as roupas novas. A premência de estrear roupas era tal que muitas raparigas mostravam uma roupa nas cerimónias religiosas, outra no baile da tarde e uma terceira no baile da noite. Muitos rapazes não dormiam na noite anterior. Tinham por hábito esperar acordados a chegada da Música. Porque só havia música no dia da Festa, a sua chegada era aguardada por todos com grande ansiedade, sendo por isso a sua chegada anunciada com o rebentamento de três foguetes morteiros ( cada um só com uma bomba ). E seguia-se a alvorada, momento de especial encanto, em que eram lançados centenas de foguetes de diversos tipos. A Alvorada determinava desde logo a qualidade da festa. Fogo forte e abundante  era garantia de festa valente. Terminada a alvorada, a Música começava a tocar em passo marcado, pelas ruas da aldeia, parando em casa dos mordomos, onde lhes eram servidas bebidas e petiscos, doces e salgados. Enquanto estrelejavam foguetes no ar…À frente da Música seguiam os mordomos e o fogueteiro. A comitiva integrava também os miúdos e alguns moços com canas de foguetes já apanhadas nos campos . Abundava o fumo e o barulho, misturados com a azáfama própria e o som melodioso da música”.
José Rei, retirado do livro "Malcata e a Serra"

Continua...


TESTEMUNHOS SOBRE A FESTA



   Ainda sobre a festa deste ano e para que haja um pouco mais de compreensão de todos, considero importante dar a conhecer dois testemunhos. O primeiro é escrito por um dos mordomos da comissão de festas deste ano, Gael Metayer. O segundo foi escrito por Evelyne Martins, mordoma para 2015, que será em honra da Senhora dos Caminhos. Ambos os testemunhos foram copiados do Facebook e penso que  é importante divulgá-los :

Gael Metayer:" Não sendo de Malcata, não queria preocupar-me. Mas tendo feito parte dos organizadores da Festa deste ano, e quando vejo a dimensão deste facto, tenho que me exprimir. O padre não tem direito sobre o dinheiro da festa para além do que os mordomos queiram dar-lhe. Para que toda a gente esteja ao corrente pagámos as imagens do presépio de Natal no valor de 556€. Esta decisão e este pagamento são muito anteriores a todas estas histórias actuais ( Novembro de 2013 ). Nós não demos rigorosamente mais e por duas razões. Primeiro, o padre começou a "matraquear-nos" três semanas antes da Festa com estas alterações e com uma série de coisas que nos disse. A segunda razão é o  respeito pela palavra da maioria dos habitantes que nos pediam para nada lhe dar, e isto é o que mais conta. Para terminar, diria que é tempo de apaziguar o debate. É preciso ser construtivo! Se nós nos tivéssemos encarregado da festa do ano passado neste clima, que poderíamos ter feito este ano???
É preciso confiar nos mordomos para 2015 porque agora é a sua vez de gerir e são eles os representantes de Malcata. E sobretudo, sobretudo, é necessário continuar a apoiá-los e não boicotar a festa do ano que vem. Sandrine, sois todos bem vindos a casa e será com prazer que contribuirei para a vossa festa e penso, sinceramente, que é o que nós todos deveríamos fazer. Mais uma vez, confiança e apoio aos mordomos de 2015".



Evelyne Matins:"Tenho pena das proporções que isto leva. Não estamos aqui para nos dividir mas, pelo contrário, para nos apoiar. A Festa de Malcata é a altura do ano em que todos nós nos podemos reencontrar, quer estejamos em França, em Portugal, na Madeira, no Canadá, na Suiça...
Reencontrar os nossos familiares, os nossos amigos. É um momento de partilha e de alegria e todos nos sentimos felizes por nela participar. Como Sandrine e Michel, somos mordomos para 2015 e sentimo-nos orgulhosos de tal! O nosso desejo, é perpectuar as tradições. O meu pai tinha tanto apego a isso que nos fez crescer partilhando este orgulho de ser malcatanho, de participar nesta festa. Para os emigrantes, é a concretização de um ano passado ,longe dos seus, da nossa casa e da nossa terra...
Faremos a nossa festa de Nossa Senhora dos Caminhos 2015, aonteça o que acontecer, tentando respeitar ao máximo as nossas tradições, os nossos valores.Peço-vos apenas para não a boicotar e para nos apoiar. A nossa vontade é continuar a mantê-la viva. Emigrantes ou residentes de Malcata, fazemos todos parte da mesma aldeia, contribuímos todos para a economia e a evolução da nossa aldeia e temos todos uma palavra a dizer. Não é um padre que nos vai dividir e tudo mudar. Nós, nós somos todos malcatanhos, é a nossa aldeia, compete-nos a todos unir-nos, para continuar".



6.9.14

REGULAMENTO DAS FESTAS

Festas de Malcata(Foto de Júlio Cruz)

   A Diocese da Guarda  em 25 de Maio de 2011 fez aprovar a “Legislação Diocesana das Paróquias e Administração Paroquial” .  Este documento aborda os seguintes assuntos:
- A paróquia e o pároco;
- O Conselho Pastoral:
- Regulamento das Festas;
- Património Cultural e Arquivístico;
- O Centro Paroquial.
   Este documento tem como objectivo dar a conhecer a todos os fiéis das comunidades cristãs as orientações diocesanas quanto a estes assuntos.
   Quem conhece este documento? Por exemplo, em relação às festas de Malcata, nomeadamente a Festa Grande do mês de Agosto, assim por mim chamada para ser melhor identificada por todos os membros da comunidade paroquial da nossa aldeia, as várias mordomias que são anualmente nomeadas, são informadas da existência desta legislação diocesana?
   A Festa Grande de Malcata é uma festa de índole religioso. É visível aos olhos de todos que actualmente as cerimónias religiosas são as mais importantes para a comunidade paroquial. Contudo, as diversas manifestações festivas, embora realizadas no respeito pelos valores cristãos, são actividades extra-igreja, ou seja, profanas, mas também importantes para toda a adeia.
   A festa deste ano já é passado e agora interessa preparar a do próximo ano. Há que reunir as pessoas, pô-las ao corrente dos regulamentos das festas que a Diocese da Guarda deseja que seja colocado em prática. Dialogar, esclarecer e tenho a certeza que nascerá a Luz.
Nota final: Parabéns por mais um aniversário, Pe.Eduardo.

4.9.14

HÁ FESTA SEM MORDOMOS?

 

As festas religiosas são para manter, para promover e para estimular. As festas religiosas são uma forma de os fiéis mostrarem publicamente a sua fé, quando esta é autêntica e verdadeira.
   Um dos objectivos fundamentais das festas religiosas é festejar com Deus e os Santos e com as pessoas da nossa comunidade paroquial.
   Estas são as razões da realização das festas religiosas em Malcata. Claro que para além destas razões as festas de Agosto em Malcata são uma ocasião privilegiada para as pessoas se encontrarem, as famílias se reunirem, de acolher os amigos e visitantes. É a oportunidade que temos para promover a fraternidade, a união, a alegria e a nossa aldeia.
   Para haver festa é necessário pessoas que a organizem, que trabalhem e se empenham para que as actividades corram todas bem e que sejam do agrado da maioria. Os mordomos devem sentir-se como colaboradores escolhidos e estarem ao serviço da comunidade paroquial, sabendo que estão a desempenhar uma missão que lhes foi confiada.
   Está claro que o principal objectivo das festas religiosas de Malcata, sejam em honra de que santo ou santa for, é louvar a Deus, agradecer a Deus a vida, o bem, a sã alegria, a fraternidade, a união, a confraternização de todos quantos participam na festa.
   Quem pode ser mordomo?
   Com que critérios se escolhem os mordomos?
   Qualquer pessoa pode ser mordomo?
 
   Na nossa aldeia, há uns anos atrás, os mordomos durante muitos anos foram sempre as mesmas pessoas. Havia duas comissões de festas: os mordomos da Senhora do Rosário e os mordomos do Sagrado Coração de Jesus. Com a evolução dos tempos e como a idade destas pessoas nunca parou no tempo, vieram lentamente novos elementos. Ao mesmo tempo, a sociedade também sofreu mudanças importantes, a democracia instalou-se no nosso país e as mudanças também chegaram a Malcata e alteraram o modo de organizar as festas religiosas. No meu entender, a religiosidade foi absorvida pela profanidade e outras realizações e eventos festivos.
   E agora como são nomeados os mordomos? Pelo que sei, a comissão deste ano, por exemplo, nomeou a lista de pessoas para as festas de S.Domingos, seguindo a tradição dos últimos anos.
   Mas algo se passou na véspera da grande festa e ainda falta esclarecer muita coisa.
   A responsabilidade das mordomias tem abrangido todos os aspectos da festa: os religiosos e os profanos. Para evitar, a tempo, as confusões que aconteceram e os mal entendidos, será que se realizaram previamente reuniões preparatórias com o padre, com a Fábrica da Igreja e a comissão de mordomos? É que nessas reuniões acertariam toda a programação da festa e assim as actividades decorreriam normalmente. Eu acredito que se tenham reunido. Já não digo é que todos tenham apresentado claramente as suas ideias quanto às festas e ao seu futuro.
   Nos tempos que correm, disponibilizar-se para organizar uma festa, trabalhar um ou dois anos sem ganhar, ser mal compreendido, não é nada fácil. Aos mordomos o que lhes custa mais é a falta de reconhecimento por parte da comunidade e dos seus pastores, mesmo que tenham dado o seu melhor.
   E como vão ser as festas de Malcata no futuro próximo?
   Criar uma Comissão de Festas, fixa, com prémio indexado ao lucro obtido?
   Envolver a Junta de Freguesia na organização da festa ( parte não religiosa ) e a Fábrica da Igreja organizar a componente religiosa?
   Que outras sugestões?

Nota: Por motivos profissionais não estive nas festas deste ano.
          Um louvor e um agradecimento a todas as mulheres e homens que fizeram parte da Comissão
           das festas em honra do Sagrado Coração de Jesus.

2.9.14

AS FESTA DOS SANTOS

Procissão dos Santos(Foto de Júlio Cruz)
 
 Malcata é uma aldeia do enorme concelho que é o Sabugal. Freguesia com Junta e Assembleia, que para já, continuam a representar o poder político e administrativo do Estado.
A aldeia é também paróquia, integrada na Diocese da Guarda e sob o seu Bispo, é ao padre que cabe a responsabilidade de orientar esta comunidade de fiéis.
Tanto a Junta de Freguesia como a Paróquia são duas instituições que ao longo dos tempos servem de pilar da vida das pessoas que aqui nasceram e  vivem.
Ambas têm prestado um serviço ímpar e têm sido o elo de ligação deste povo.
   Os fregueses de Malcata são então membros de duas grandes instituições: a Junta de Freguesia e a Paróquia. A primeira faz parte do poder político e administrativo do nosso país e é a legítima representante do Estado. Os seus membros directivos são escolhidos pelo povo, através de eleições que se realizam de quatro em quatro anos. Já o mesmo não acontece com a escolha do pároco da comunidade religiosa de Malcata. É escolhido pelo Bispo Diocesano e sem haver consulta ao povo.
   Parece que somos um rebanho sem pastor…o novo padre é senhor de uma personalidade autoritária e está a ter dificuldade em manter o seu rebanho no seu curral uma vez que as ovelhas parecem renitentes em serem domesticadas, como por exemplo, quando vão nas procissões e o pastor lhes pede para formarem duas filas bem alinhadas e não caminharem todos juntos, atrás do andor do seu santo devoto, parecendo mais um rebanho de carneiros. Essa foi uma das dificuldades sentidas pelo padre , pois está a ser difícil manter o equilíbrio na balança de forças e sobretudo em conter os sentimentos reprimidos de alguns paroquianos.
   Para além da ordem na procissão vem ainda a ordem de durante a missa festiva levar os andores para o adro da igreja e dessa forma as pessoas poderem ocupar esses espaços até então ocupados pelos andores e participarem mais activamente nas cerimónias religiosas.
   Aparecer com esta ideia no sábado, véspera do dia da festa e sem que tenha existido um diálogo prévio, só poderia ter o desfecho que teve e as cerimónias ocorreram como nos outros anos. No dia da festa a igreja é realmente pequena e muitas pessoas ficam no exterior ocupando o adro, os degraus das escadas de acesso ao coro e ao campanário e até a sacristia fica superlotada.
   Tal como noutras aldeias, os habitantes de Malcata têm um forte apego e identificação cultural e religioso com a sua terra. Nas conversas de rua ou de café, sobressai o enorme apego, amor e identificação com Malcata, um certo sentimento de necessidade e até emocional de reviver o passado, o qual se torna mais visível nas festas do mês de Agosto. 
   Um acontecimento donde se pode concluir e medir as diferenças nas vivências e significados da religiosidade é a festa de Malcata. Enquanto no passado e até aos anos oitenta a festa, organizada rotativamente pelos mordomos do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora do Rosário, representava o momento auge da vivência religiosa da aldeia e as manifestações “profanas” eram muito poucas, pois para além da arrematação das oferendas ( Ramo ) e do baile animado pela banda filarmónica e tocador de acordeão, hoje estas são bem diversas e mais prolongadas no tempo. E hoje as colaborações que antigamente eram em bens alimentares agora são entregues em dinheiro. As festas de Malcata eram pagas com as contribuições de cada família e das quotas das Irmandades.  De  um dia de festa, que era o domingo, os gastos religiosos eram os dos padres que durante três dias vinham pregar à comunidade e no domingo da festa o pregador fazia o seu eloquente sermão, seguia-se o arranjo dos andores e da igreja, a banda da música filarmónica e os foguetes. Agora os gastos multiplicaram-se e a festa transformou-se numa competição e numa manifestação de prestígio, êxitos e poder que cada grupo de mordomos quer alcançar.      De um dia de festa, agora festejam-se  até 5 dias, com jogos populares, jantaradas, bandas musicais, discotecas móveis, festas da espuma e das pipocas, reconstituições medievais, acrobacias desportivas…levando o povo a embebedar-se de tanta festa. Ou seja, a festa religiosa continua cada vez mais engolida pela festa profana e nota-se uma certa sobre macia do laico sobre o religioso.
A aldeia de Malcata sofreu nestes últimos anos profundas mudanças e as repercussões reflectem-se na organização da freguesia e da paróquia, o que abrange a vida política, social e religiosa dos malcatanhos. A emigração, a Associação Cultural e Desportiva de Malcata, as próprias relações entre os residentes na terra e os que fora dela trabalham levou também a uma mudança e a uma maior influência da aldeia ao que se passa no mundo.
   Em Malcata, o poder está mudado e é disputado entre as várias forças existentes, estando o poder religioso a perder cada vez mais influência, surgindo sinais de discordância sobre quem deve ou não deter o poder sobre os espaços, os equipamentos, as festas e dinheiros que elas geram. E há muitos que querem o poder de poder sem pensarem que exercer  bem o poder é servir bem o povo.