Largo da Fonte, cidade do Sabugal
Era uma vez um homem...
que vivia na cidade do Sabugal e tinha no Largo da Fonte uma roulotte para
vender pizzas quentes , ali mesmo ao lado da fonte. Porque ouvia mal, não ouvia
a Rádio Altitude e nem as notícias da região onde vive e que o jornalista Joaquim
Martins divulga todos os dias na Star FM . E porque já via mal, deixou de ligar
o televisor quando está em casa, não lia o jornal Cinco Quinas, nem o Amigo da
Verdade e muito menos os jornais diários nacionais vendidos ali no quiosque ao
lado da sua roulotte transformada numa pizzaria, a melhor pizzaria da cidade.
Preocupava-se com o seu negócio,e por
isso, pendurava no tronco das árvores cartazes de propaganda, oferecia uma
fatia de pizza para o cliente provar, anunciava em voz alta as diversas pizzas
que fazia e o povo gostava e comprava. Então no mês de Agosto é que o negócio
rendia, pois todos os dias perto da hora do almoço, lanche e jantar não tinha
mãos a medir. A sua principal preocupação era a satisfação do cliente: comprava
a melhor farinha, os melhores azeites e óleos, os chouriços, cebolas, milho,
queijo, alho, louro, diversas carnes eram adquiridos nos fornecedores da
região, pois a qualidade desses produtos era o segredo para a fama das suas
pizzas.
Com o dinheiro que ganhou conseguiu
pagar o Colégio do Soito ao filho. O rapaz cresceu e foi para a Faculdade de
Economia de Coimbra tendo concluído os seus estudos com distinção. Acabados os
estudos, o filho Doutor regressa a casa
e ao ver que o seu pai continuava com a mesma vida de sempre e a vender as
mesmas pizzas, ele agora um doutor informado e educado virou-se para o pai e
perguntou-lhe:
- Pai, tu não ouves rádio?
Não vês televisão?
Não lês jornais?
Pai, o mundo está em crise. Portugal
está mergulhado numa grave crise, o desemprego está a aumentar cada dia que
passa, muitas pessoas não têm trabalho, estão sem dinheiro. Há que poupar, há
que economizar.
O pai escutou pacientemente o seu
filho doutor e disse:
- Filho, tens razão. Vou tomar medidas e mudar umas coisas no negócio das
pizzas.
Com medo da crise, o pai procurou um
fornecedor de farinha mais barato ( e é claro, pior ). Deixou de comprar aos
seus fornecedores habituais da região do Sabugal e passou a comprar chouriças,
queijos, cenouras, cebolas, pimentos, alhos, salsa, azeitonas, azeite e outros
ingredientes a quem lhe vendesse mais barato, mesmo de inferior qualidade.
Também decidiu retirar todos os cartazes de publicidade, deixou de oferecer a
prova aos clientes, tudo com a ideia de que assim ganharia mais dinheiro.
A verdade é que com o passar do tempo
e apesar destas medidas que tinha tomado, as vendas começaram a cair e chegaram
mesmo a níveis insuportáveis.
O negócio das pizzas que antes gerava
recursos, faliu.
O pai, triste, telefona para o filho e diz-lhe:
- Filho, tinhas razão. Estamos mesmo numa grande crise. Agora vou esperar que
passe e pode ser que volte a abrir a barraca das pizzas quentes. Bem dita a
hora em que te enviei para a faculdade estudar economia.
Nota: este texto é baseado num texto original publicado em Fevereiro de 1958 num anúncio da Quaker State Metals.co