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19.2.23

DOMINGO GORDO E GALOS

 

Quem tem lembranças desta tradição?
                                                                                 ( Morte do galo)

   

   Hoje é um domingo como muitos outros domingos do ano. Em tempos que já lá vão, o último domingo antes do início da Quaresma, era um domingo diferente, além de ser dia de descanso, era dia de comer bem. E o que era comer bem na aldeia? Se tivermos em conta a tradição da matança, as mulheres quando guardavam a carne do porco já o faziam a pensar nos dias mais importantes, como é este dia de Domingo Gordo.
   Há na minha memória umas imagens muito ténues sobre as coisas que aconteciam na nossa aldeia na tarde de Domingo Gordo. Dessa cerimónia, recordo-me que a rapaziada pendurava uma corda de um lado ao outro da largura da estrada e a meio penduravam um galo. O povo juntava-se na tarde de Domingo Gordo e assistia ao jogo que consistia em acertar no galo, com uma vara e de olhos vendados.  Não sei se também o faziam montados num cavalo ou num burro. O objectivo seria acertar no pobre galo e mais tarde, depois de cozinhado, era o rei do jantar do grupo vencedor.
   Ora este jogo se chegou à minha infância, foi uma tradição passada de geração em geração. E por alguma razão esse jogo ganhou popularidade na nossa aldeia. Alguma importância tinha na vida comunitária, pois os jogos populares traziam consigo a celebração e o convívio.
   E hoje tenho a certeza, que se isso voltasse a ser feito, no dia seguinte a nossa aldeia e os maus tratos aos animais abririam os telejornais. Nesses tempos era um festejo normal e não incomodava as autoridades. Imaginem a cena do jogo, para o povo um jogo inofensivo e para os defensores dos animais, um crime!
   Quem se lembra destas tradições?
                              José Martins

22.12.13

O CALOR DO NATAL TRADICIONAL


   As festas de Natal lembram as prendas do Menino Jesus, as filhós com e sem abóbora mas não podem faltar na mesa. A Missa do Galo e a Fogueira no adro da igreja é outra das tradições que ainda continuam vivas.
   "Noutros tempos competia aos mancebos que já tinham ido à inspecção militar arranjar os madeiros para a fogueira e garantir que a mesma ardia até ao nascer do sol. Habitualmente, os madeiros ( grandes troncos e raízes de castanheiro ) eram colocados no adro da igreja com antecedência, sendo a lenha de atear arranjada ao fim da tarde da noite da Consoada. Uma vez que a lenha escasseava, quando a hora de fazer a fogueira se aproximava, os donos das casas tratavam de acautelar os paus que tinham nos currais, deixando apenas à vista o molho de lenha, palha ou carqueja que queriam dar. Caso o dono da casa não deixasse contributo, podia haver retaliações gravosas. Casos se contam em que foram arrancados portões de madeira, roubadas e queimadas cancelas, charruas e arados, assim como abatidas cerejeiras e nogueiras, árvores estimadas. A rapaziada também não admitia que alguém se assomasse à janela e ou viesse à porta. Quando tal acontecia, retaliava à barrocada ( pedrada )." escreve José Rei, no seu livro Malcata e a Serra, defendendo que "esta forma estranha de louvar o Menino Jesus integrava uma espécie de ritual de passagem dos mancebos para o estado adulto. Mostravam eles a sua força e determinação substituindo vacas dos carros. Eles próprios puxavam o carro das vacas". revela-nos José Rei.
   
 Fazendo a fogueira de Natal

  " Carrada atrás carrada, o monte de lenha ia crescendo em cone. Essencial para uma boa combustão, era a incorporação de palha centeia e carqueja seca. Quando o monte de lenha parecesse superior ao do ano anterior, os rapazes iam cear. Alguns ceavam em casa, outros iam petiscar e bebericar para as tabernas, onde normalmente já estava activo um acordeonista, contratado para animar a festa depois da Missa do Galo. Por norma, quando chegava a hora de atear a fogueira, havia lugar a uma ronda à volta da aldeia, para anunciar que o evento ia ter lugar. A passagem da ronda sinalizava que o evento estava próximo.
   Ainda que o atear da fogueira fosse da competência dos rapazes, anos havia em que alguns atrevidos o faziam, provocando deste modo alguma confusão antes da Missa do Galo. Tudo acabava, contudo, em concórdia, tanto mais que a noite era de paz e de alegria".


Arder até ao nascer do sol
   A Missa do Galo era sempre uma celebração alegre e festiva. Continuando a ler a descrição escrita pelo José Rei, ficamos a saber que no fim da Missa do Galo "era a altura de festejar o Natal. Por isso toda a gente fazia tributo ao Deus Menino e  cantavam :
                                             Eu hei-de dar ao Menino
                                             Uma fitinha pro chapéu

                                             E Ele também me há-de dar
                                             Um lugarzinho no Céu.


   
Saída da Missa do Galo
   E a festa de Natal continuava com a malta jovem a cantar e a beber à volta da grande fogueira. A igreja era fria e as pessoas rodeavam a fogueira para se aquecerem. E a rapaziada continuava  a festejar porque a noite era de festa e "as casas estavam fartas . Uns levavam chouriças e morcelas, outros massas de cabrito ( pernas ), queijo mole (fresco), febras de porco. Ao som do acordeão, os rapazes, só os rapazes, porque as raparigas não estavam autorizadas pelos pais a participar, dançavam e cantavam. Também não faltava o vinho e as bebidas destiladas.Quando o sono e o cansaço apertavam , a festa esmorecia e, num último esforço, os mais resistentes, que os outros dormiam ao lado da fogueira, ainda faziam a habitual ronda pelas ruas da aldeia. Ao som do acordeão, lá iam cantando roucamente as cantigas de Natal" escreveu José Rei no seu livro " Malcata e a Serra".

Nota: Há por aí algum rapazote que tenha vivido estas tradições e que deseje partilhar connosco a sua história?