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17.3.24

CÁ ESPERO PELAS NOVIDADES


Uma árvore mimosa em Malcata


 
   O povo, diz a canção, é quem mais ordena. Em Malcata o povo vive cada vez mais resignado, adormecido e desconfiado. Se cheirar a mudança, o povo deixa-se estar no mesmo lugar e não se importa por continuar como está. Cada um preocupa-se consigo mesmo e quem está ao leme da Freguesia é que tem a incumbência para mudar as coisas públicas e o senhor prior as coisas que dizem respeito à igreja, ao religioso.
   O povo já não quer saber dos baldios, nem sequer perguntar como vai a vida na comunidade. Basta ir à aldeia num dia de sessão da Assembleia de Compartes ou da Assembleia de Freguesia e sentar-me nos lugares destinados ao público. Posso escolher sentar mais longe ou mais perto da porta do edifício onde está a decorrer a reunião. As vezes que o fiz, o público era só eu e mais ninguém. Onde estão as outras pessoas que habitam e vivem na aldeia? Devia comparecer e preencher todos os lugares destinados ao público,  para  ouvir o que de mais importante anda a acontecer na aldeia e  ainda têm a oportunidade de intervir e interpelar a mesa da assembleia.
   O falar nas ruas e na mesa dos cafés não é o mesmo que levantar do assento e depois da autorização do senhor presidente da Assembleia  dar consentimento já pode falar claramente o que tem a dizer. Depois de falar, é esperar pelas respostas, mesmo que alguém tenha ficado incomodado com o assunto. E meus caros conterrâneos, ali não existem pessoas más e violentas, são gente adulta, civilizada, sabem que estão ao serviço do povo, não têm porque se sentir incomodados, ou maniatados por quem quer que seja. Querem ficar a saber quanto renderam os pinhos nos baldios? Ou querem saber o que se está a passar com as cabras que não se veem nos baldios? Precisam de saber se podem acender o lume em casa com lenha dos baldios? Vão à reunião e perguntem que vão responder. E o mesmo digo a respeito da situação em que está a freguesia, apareçam nas reuniões da Freguesia e ouçam, perguntem e digam  o que vos está a atrofiar a vista! 
   Penso que eu não serei o único refilão na nossa aldeia! Vivo longe, bem longe daí e ainda tenho interesse por andar minimamente informado acerca da vida comunitária
na nossa aldeia. E lembrem-se disto:
   “Eu até não sou mau rapaz
   Com maneiras até sou bem mandado
   Mas para que lado é que me viro, pra que lado.”
   Envio esta mensagem e espero que enviem novidades. Vou aí em Abril para a EDP mudar o contador
da luz lá da casa número seis.
    Já não tenho mais para escrever. Cumprimentos e abraços.

    José Nunes Martins

   
  
  
   Próxima Assembleia de Compartes da Freguesia de Malcata:



 

27.1.24

MALCATA: QUANTOS PROPRIETÁRIOS RURAIS TEM O CONDOMÍNIO DE ALDEIA?

 




   A freguesia de Malcata tem nas mãos um projecto chamado “Condomínio de Aldeia”, um programa em conjunto com a freguesia do Meimão, com um valor de 90 mil euros.
   No Jornal Cinco Quinas, João Vítor na entrevista que deu ao jornal e publicada no passado dia 22 de Janeiro, deu a sua opinião sobre esta ideia de “Condomínio de Aldeia “e as vantagens que as aldeias irão beneficiar.
   À pergunta do Cinco Quinas sobre que “vantagens traz para a freguesia? “referiu que “pretende contrariar o abandono dos terrenos, como resultado, essencialmente, do despovoamento que se verifica na aldeia e do envelhecimento da população, deixando assim os terrenos com características benéficas para a agricultura, ou para as actividades pastorícia, sem qualquer utilização, e que na actualidade se verificam a prevalência de matos.”
   O projecto será para ser concretizado nos terrenos que envolvem a freguesia. Pretende-se que se limpem os matos, algumas árvores e retornar a ocupá-los com outras árvores autóctones e mantendo os terrenos limpos.
   Quando o Jornal Cinco Quinas perguntou se era também uma maneira de proteger a floresta na ápoca do calor e dos incêndios, o presidente da Junta disse que “Sim. Salientam-se como vantagens para a freguesia, a concretização de um território mais resiliente, assumindo uma enorme importância para a defesa do aglomerado populacional, bem como para a Reserva Natural da Serra da Malcata”.

   O Condomínio de Aldeia que estamos a falar diz respeito a uma candidatura ao Programa de Apoio às Aldeias Localizadas em Territórios de Floresta. Essa candidatura foi aprovada em Novembro, 2023, segundo li aqui: https://rcb-radiocovadabeira.pt/condominio-da-aldeia-para-meimao-e-malcata/. O prazo máximo para conclusão da implementação no terreno das tipologias de intervenção aprovadas é de 18 meses, contado a partir da data de assinatura do Termo de Aceitação, não podendo, em caso algum, ultrapassar o dia 30 de Setembro de 2025.
   Quanto a prazos e designadamente a datas de início da implementação do projecto, à pergunta do Cinco Quinas,  o presidente de junta deu uma resposta vaga e sem qualquer data, limitando-se a dizer que “a freguesia tem todo o interesse que o projecto seja implementado o mais breve possível, e preferencialmente antes da próxima época crítica de incêndios florestais”.
   A entrevista a que me refiro pode ser consultada e lida aqui: https://www.jornalcincoquinas.pt/projeto-do-condominio-de-aldeia-a-espera-de-ser-implementado/.
    Noto que nestes últimos tempos muito se tem falado sobre as florestas e sobre a existência de programas de apoio do Estado aos proprietários rurais. E na nossa freguesia já temos vários projectos falados no povo. Lembram-se da AIGP-Terras do Lince Malcata? Bupi? E agora “Condomínio de Aldeia”?  Todos parecem iguais, mas são diferentes. Este projecto Condomínios de Aldeia, visa, dentro do que é a faixa de protecção da nossa aldeia e do Meimão, substituir o solo florestal por solo agrícola, para uma maior protecção. A ideia é que, em vez das pessoas terem os pinheiros e matos de giestas, poderem ter outro tipo de árvores e que também possam ter rendimento…” 
   O que é preciso fazer para que este condomínio avance? Apostar nas sessões de esclarecimentos, de informar com toda a paciência os proprietários dos terrenos abrangidos, trabalhar na empatia com as gentes de Malcata e explicar bem o programa, mostrar as vantagens de aderir e aceitar, mostrar que se o dono do terreno aderir, o resto é simples e basta depositar confiança, porque não é preciso qualquer despesa por parte do proprietário, pelo contrário, pode obter rendimento. Claro que os proprietários têm de assumir a manutenção dos terrenos garantindo a sua limpeza. Agora, é tempo de explicar e incentivar.

  

 

26.1.24

FREGUESIA DE MALCATA E MEIMÃO NO MESMO CONDOMÍNIO DE ALDEIA

   


   A freguesia de Malcata e a freguesia de Meimão, vão entrar num projecto a que chamaram “Condomínio de Aldeia” Trata-se de um programa apoiado pelo Fundo Ambiental e este ano, através da AIGP-Terras do Lince-Malcata, os proprietários das aldeias de Malcata e do Meimão, que se mostrem interessados na reconversão dos terrenos abandonados ou florestais, em terrenos agrícolas.        Está previsto um investimento de cerca de 90 mil euros, a dividir entre as duas freguesias.
  A Opaflor, entidade que está a gerir a AIGP Terras do Lince Malcata, é a associação responsável pela implementação deste projecto. O objectivo principal, é ocupar os terrenos que envolvem as duas aldeias e introduzir neles culturas, árvores, pastagens que permitam funcionar como barreira natural à propagação dos incêndios florestais. Para além de reconverter a ocupação das terras, há outras intervenções e infraestruturas que também são importantes levar a cabo para aumentar a resiliência e a valorização da própria paisagem:
 - Recuperação de galerias ribeirinhas
- Controlo de espécies invasoras;
 - Desenvolver métodos alternativos às queimadas de sobrantes;
- Construção e manutenção de caminhos;
- Instalação de bocas de incêndio que garantam o fornecimento de água por gravidade, em situação de incêndio rural;
- Formação das pessoas da comunidade para melhor gerir o fogo;
    Como podemos concluir trata-se de um projecto todo ele voltado para a segurança da freguesia, do património e das pessoas, animais, etc… Lembram-se de se ter falado na necessidade de limpar as ribeiras das Veigas (Forninhos, Porqueira, Bradará, Fraga…até à barragem)? A Associação Malcata Com Futuro propôs à Junta de Freguesia de Malcata uma intervenção nestas linhas de água, com a criação de pequenos açudes, limpeza dos leitos…etc., etc… O trabalho preliminar está feito e repousa em alguma gaveta da junta de freguesia. Agora que há dinheiro disponível, espero que peguem nos projectos com ganas de fazer e fazer bem. Como já referi, os 90 mil euros não são apenas para substituição das árvores, semear ou plantar novas espécies. Enunciei mais seis objectivos que devem ser alcançados e colocados em prática. Todos eles são importantes serem concretizados.
   A Junta de Freguesia de Malcata está na posse de mais informação e com certeza também conhecerão os planos da Opaflor para o Condomínio de Aldeia de Malcata e Meimão. Apelo aos malcatenhos que perguntem, procurem mais informação acerca deste projecto. 
   Eu prometo voltar a este assunto.

15.11.23

MALCATA: UM MAGUSTO TRADICIONAL PRECISA DE CARUMA SECA

 

Castanhas assadas sobre a mesa

    Como se preservam as tradições e ao mesmo tempo se defende e fortalece a identidade cultural de uma comunidade, de uma freguesia rural?
    E que importância têm as tradições  e costumes que essa mesma comunidade teima em realizar?
    O reconhecimento da importância das tradições e o continuar com elas, para salvaguardar as tradições do passado e com isso fortalecer a identidade cultural dos malcatenhos, já é um passo certo no sentido de preservar o património imaterial da nossa comunidade. E o património imaterial, vai para além do património material, como é o caso dos monumentos, concretamente, a torre do relógio, as fontes, a igreja matriz, as ruas... Esse é o que chamamos património material, porque são bem visíveis e  estão à vista de todos. Mas o modo de ser, sentir, celebrar os costumes, as tradições, as festas  pagãs e cristãs, a oralidade  e expressões que as pessoas recorrem no dia a dia e durante muitas gerações,  funcionam como bilhete de identidade da comunidade deste lugar de Malcata. É o conjunto destas expressões  e  rituais, transmitidas de geração em geração e que permanecem que valorizam importante todo o património material e imaterial.  Por isso, sempre que se realizam eventos na aldeia, é uma oportunidade para os malcatenhos conhecer  a relação que temos com a nossa história como povo, sendo por isso importante cimentar as relações entre as pessoas e o fortalecimento do sentimento de pertencer a este povo.
    A tarefa de preservar o nosso património deve ser assumida por todos e não apenas pelas associações ou pela Junta de Freguesia. Cada um de nós deve preocupar-se por olhar para o património como seu e que o  deve manter e preservar, divulgar a quem deseja conhecer. Contudo, cabe às instituições públicas o dever de fazer um esforço maior e preservar esses tesouros e contribuir para uma melhor compreensão e um maior interesse em preservar a história, a tradição e costumes, um legado que nos deixaram aqueles que nos antecederam. 
    O facto de se organizarem eventos como os magustos, que anualmente se organizam, não significa imediatamente que estamos a preservar uma tradição ou os costumes da nossa aldeia.
     Preservar uma tradição exige muito mais que um mero convívio durante uma tarde. A envolvência da comunidade, a utilização das ferramentas e dos métodos tradicionais e não trocar esses rituais por modas novas, ou outras ferramentas,  mais rápidas e práticas, como é a utilização do assador que veio substituir o monte de caruma e todos os passos necessários a promover um magusto tradicional, deve ser tido em conta. A verdadeira tradição e um magusto tradicional é ir aos pinhais buscar caruma seca, fazer o monte e nele deitar as castanhas e esperar que o fogo as asse, no ritmo próprio e não apressado. O assador tem vantagem em relação ao monte de caruma, sem dúvida, desde a maior quantidade de castanhas que se podem assar ao mesmo tempo, á rapidez em que é feito e com menos trabalho.
     E a tradição esquece-se? O magusto está a ser tomado pela modernice deste assador e que mais não é do que uma réplica do assador de outra aldeia vizinha. Com a introdução deste super assador de castanhas, a tradição de as assar  no monte da caruma, num largo ou numa rua, está a esfumar-se das memórias e vivências dos mais jovens e a tradição deixa de existir. Os cheiros e os fumos da caruma a arder e castanhas a assar, são rituais que não se podem substituir pelo uso de grandes assadores. Estes grandes e super assadores são mais indicados para assar carnes e até castanha, mas nunca para celebrar e preservar o magusto tradicional.
    O facto de conviver e comer castanha assada, não significa que se trata de um magusto tradicional, é apenas uma tentativa de recriar a tradição popular, tão banal como ligar um forno lá de casa.

    Quando as pessoas se reúnem para celebrar a tradição do magusto, respeitar a forma tradicional de assar castanhas é fundamental. Isto é, se o objectivo for reviver um magusto à antiga! E se a estes cuidados de respeitar as tradições, seja do magusto ou da matança, juntarmos a participação de pessoas vindas de fora, visitantes que buscam experiências genuínas e rurais, que procuram  sabores diferentes e só existentes no campo, estamos a criar valor acrescentado e a promover o desenvolvimento sustentável da nossa aldeia e das nossas gentes. Porque organizar convívios na nossa aldeia até  tem sido muito fácil e  há sempre quem apareça. Agora organizar eventos com o objectivo de preservar e mostrar o valor das tradições e vivências rurais, respeitando a história, as pessoas ainda vivas, as tradições, já é coisa bem diferente e necessita de mais cuidados na sua realização.
    Há ainda um trabalho por realizar no que toca ao nosso património imaterial que se quer preservar e através disso, ter em mente o desenvolvimento sustentável da nossa freguesia e do modo de vida dos que vivem todo o ano nela. Cativar as pessoas de fora para conhecer a aldeia, as pessoas, os monumentos, os recursos naturais únicos e raros, cuja qualidade e riqueza da experiência levam as pessoas a percorrer centenas de quilómetros para vivenciar dias diferentes. O hábito de organizar eventos que apenas se dirigem aos malcatenhos, é não acreditar no valor do que temos na freguesia. Organizar também estes convívios para as pessoas de fora pode funcionar como alavanca de desenvolvimento dos negócios locais. É uma das estratégias que devemos adoptar na nossa aldeia para a dinamizar. E com tantos dias que tem o ano, com tantas tradições que merecem ser promovidas, haverá sempre convívios voltados para aqueles que vivem sempre neste paraíso malcatenho.

                                                 José Nunes Martins



 

9.9.22

AS MINHAS HISTÓRIAS NA ALDEIA ONDE NASCI

    

A caminho do Ozival 

                                                        CONTA-ME  COMO  FOI ...

   Vou contar-vos uma cena que se passou na aldeia que todos guardamos no coração. Esta pequena história é ficção, embora pareça verdadeira, não é real. É um recordar e um reviver de situações reais, com pessoas e lugares que existiram nessa aldeia. É apenas uma história das muitas histórias que eu vivi em criança. E a história começa na cozinha lá de casa:
_ Vou à loja ordenhar a vaca, ver se consigo tirar leite para fazermos um queijo - disse a minha mãe enquanto apertava o avental arás das costas. Pegou no balde habitual e desceu as escadas até à loja. 
   Era o tempo do frio e da chuva, o Inverno na aldeia costuma ser assim e as manhãs eram mesmo frias.
   Eu fiquei ao lume, a olhar para a fatia de pão que estava a torrar em cima da grelha de ferro. As brasas estavam fortes e uma pequena distração transformaria o pão em carvão. Pão torrado na grelha e depois um fio de azeite a fazer de manteiga, torna aquela coisa numa deliciosa torrada. E assim me soube, acompanhada de uma chávena de cevada. Com a barriga composta, fui ter com a minha mãe à loja. Entrei devagar para não assustar a "Amarela", nome que os meus pais puseram ao animal. 
   A minha mãe falou:
_ Amanhã vou ao Ozival de manhã cedo. Levo o carro cheio de esterco e depois há que o espalhar pelo chão todo. Temos de aproveitar este tempo sem chuva e estrumar o chão para depois semear as batatas.
A Ti Céu já lá andou ontem com o tio a espalhar no chão deles e amanhã já acaba de espalhar tudo. Temos que fazer isto antes que a terra fique gelada e depois da terra ficar dura, não dá para lavrar.
_ De manhã cedinho?! Mas por que raio a mãe tem que ir cedo? Ainda está noite e não tem necessidade
 de se sacrificar tanto. - disse eu.
   A minha mãe, mulher mais trabalhadora eu não conheci, sorriu e respondeu assim:
_ Ó filho, vou cedo e a luz vai aparecendo e quando lá chegar já se vê bem a terra. Assim descarrego o carro e se o tempo estiver bom e com a terra enxuta, espalha-se logo. Tu não precisas de te levantar ao mesmo tempo do que eu. Prefiro que fiques a dormir e me leves o "almoço". Depois vimos os dois a jantar aqui a casa. Vá, ficamos assim combinados. Está bem? Mas não adormeças!
    E o diálogo ficou por aqui quando fomos interrompidos pelos dois chibos que tal como as crianças
pequenas, adoram dar saltos e pinotes. A vasilha com o leite estava praticamente cheia e a mínima distração podia uma das crias fazer derramar o líquido para a cama da vaca. E lá se ia o desejado queijo fresco que a minha mãe tanto quer fazer.

Explicação de algumas palavras:
Esterco = Estrume
"Almoço"= Pequeno Almoço
"Jantar" = Almoço
Chibos = Cabritos
                                    José Nunes Martins
   

   
   
 

21.8.22

MALCATA: NÃO BASTA TER BELEZA NATURAL PARA SE DESENVOLVER!

 


Nesta aldeia eu nasci e cresci

      Nasci no meio rural, numa casa humilde, construída em pedra de xisto, com umas escaleras também de pedra e por baixo do primeiro piso havia a loja, onde os meus pais guardavam o gado, isto é, uma vaca, um burro, duas cabras e às vezes criavam coelhos. Tudo isto para dizer-vos que sou uma pessoa do campo, como muitos que agora estão a ler o que este malcatenho está a pensar.
    É claro que os meus pais eram agricultores, ambos filhos também de agricultores e, já os meus avós eram filhos de agricultores ou lavradores se assim quiserem chamar.


                                               Topónimos de algumas ruas da aldeia
     Sendo de origem rural, o mais natural é sentir alguma ligação às coisas do campo e a tudo o que estiver relacionado com ruralidade. Lembro-me da era da minha infância, à minha volta eramos um bom grupo de garotos e garotas.
     As crianças davam vida à aldeia, por todas as ruas e na escola havia novos povoadores, que iam brincar e aprender a ser pessoas a saber ler e a escrever.
     As mães não se cansavam de mandar recadinhos e avisos. 


Rua onde nasci



Vista parcial da aldeia com a serra aos pés

       E quando a brincadeira nunca aborrecia, até nos esquecíamos da merenda e para ir jantar, só quando ouvíamos a nossa mãe que na varanda chamava por nós. 

   As pessoas adultas passavam os dias nos "chões" a trabalhar. Chegavam a casa ao fim do dia, vinham cansados, muito cheiro a suor, mas satisfeitos pelo trabalho que realizaram. Eram tão felizes assim que depois da janta ainda se juntavam para conversar, sentados à porta de casa, no pátio dos vizinhos. As mulheres gostavam de colocar a conversa em dia. As tabernas às noites enchiam-se de homens e alguns rapazes e entre um meio-traçado, meio-quartilho ou uma mini, jogavam uma "suecada" ou à bisca, também cheguei a assistir a umas partidas de "lerpa" , um jogo e não doença! Como no dia seguinte era dia de jorna, a taberna encerrava por volta da meia-noite. Todos regressavam às suas casas, melhor dizendo, a maioria entrava na casa certa e não se enganava na porta. Alguns, coitados, viviam sozinhos numa casa sem mais alma humana, como não havia electricidade, nem os calores do vinho os alumiava e algumas vezes custava a atinar com o buraco da fechadura. Mas ao fim de algumas tentativas lá entravam porta dentro. Outras vezes não entravam mesmo na casa,  porque a chave não foi feita para abrir a porta da casa do vizinho. Na manhã seguinte, tudo voltava ao lugar e tudo vivia na santa paz e o importante era viver o dia alegre e bem disposto. 
Caminho rural até Quadrazais

    O mundo mudou e as aldeias também. Na freguesia onde nasci é hoje uma terra de passagem para Quadrazais, Vale de Espinho, Fóios...Espanha; ou de ida até ao Meimão, Penamacor...Lisboa...França...Argentina e muitos outros lugares deste mundo. Hoje é uma aldeia que não tem tabernas, tem cafés e minimercados, tem um lar de idosos e um grande cemitério. Tem tudo aquilo que fazia falta quando eu era criança, menos a escola. Tem água ao domicílio e saneamento básico, electricidade e gaz raramente falta, tem uma albufeira grande que nesta altura do ano, esvazia de água e sobram lamas barrentas.
Não tem rio, nem moinhos de água, nem lameiros que tanto jeito davam para estender as toalhas e depois as mantas das merendas. 
   
   

Zona de lazer


   Mesmo com tanto, falta criar estruturas que fixem pessoas, negócios, respostas que precisamos para desenvolver a freguesia e a região.
   Está visto que a beleza natural e o que a natureza oferece, para além de ser bonito de ver e apreciar, não é suficiente para cativar as pessoas. Até podem vir com a conversa das obras já feitas para criar interesse na visita à nossa freguesia. É assim, se as pessoas vierem a Malcata para ir até à praia, comer uns petiscos e uma imperial, vão ficar satisfeitas e até podem repetir a visita.
   E eu pergunto: o que ganha a aldeia com esta visita de uma tarde? Quem tira felicidade e rendimento financeiro destas pessoas? Será que a freguesia só tem este destino para criar interesse em que visitem a aldeia? Quando a oferta é maior, quando se criarem estruturas âncora de restauração, alojamento, comércio de produtos locais e condições para ir a Malcata e passar na aldeia dois ou três dias, conhecer e experimentar tudo o que se oferece, então sim, o desenvolvimento e a riqueza será distribuída por todos os parceiros.

José Nunes Martins

   

Albufeira da barragem tem forte potencial
para bons projectos


Dois dos símbolos que identificam o espírito malcatenho:

Busto de Camões, em homenagem ao emigrante
                                                       
Nicho Senhora dos Caminhos, 
fé e esperança pelo caminho da vida


   




   

7.1.22

QUERO VOLTAR PARA MALCATA

      





           E num abrir e piscar de olhos estamos a terminar mais uma semana deste 2022. Leio e ouço todos os dias notícias sobre o que se vai passando no mundo e no meu país. Fazem-me falta notícias animadoras, a começar por aqueles acontecimentos que vivem os malcatenhos. 

       Mas quem sou eu para pedir notícias da aldeia? Bem, vão perdoar a minha curiosidade sobre a vida da comunidade malcatenha, espero que compreendam e não fiquem aí a cuscar pelos cantos e mesas dos cafés perguntando o que eu ando a tentar saber. Eu sei que a curiosidade por vezes traz maus resultados, que será por isso que se costuma dizer que "a curiosidade matou o gato"! E que notícias vindas da aldeia mais enrolada na sua conchinha eu estou curioso por saber? Têm todos o direito à sua privacidade e eu só devo respeitar a vida particular e familiar dos outros, malcatenhos, timorenses ou chineses. Estejam vossas senhorias descansados e tranquilos, pois não estou minimamente interessado em vos conhecer quando não há nenhum interesse recíproco. Contudo e sabendo todos as dificuldades que estamos a passar por causa da pandemia, tendo muitos de nós os meios e o conhecimento básico no uso das ferramentas mais avançadas de comunicação,  mesmo vivendo distanciados uns dos outros, aqueles que como eu, vivem longe da aldeia onde nasceram e que transportam nos corações, quando se gosta não desejamos esquecer e daí esta necessidade de saber o que se vai passando aí por Malcata. Mas são tão poucas e raras as notícias das gentes e sobre a nossa terra que me deixam tristonho e pensativo. Porque não gostam de falar sobre a aldeia, as suas riquezas, as suas gentes, os seus heróis, os projectos programados para mais adiante, as histórias do nosso passado...tanto que existe, sem termos que vasculhar a vida íntima de cada habitante, mas que sempre nos podem dar alegrias, matar algumas saudades e enterrar até algumas incompreensões. 
       Uma das minhas maluqueiras quando comecei esta página foi a possibilidade de entusiasmar, de chamar e alertar, de partilhar ideias e esperar que alguém as pudesse concretizar um dia. Ando com uma interrogação na cabeça há algum tempo e em certos momentos transporto-me num veículo imaginário e em segundos dou comigo nas ruas da nossa aldeia e a pensar e a conversar com os meus botões. que bom é ver crianças a brincar na rua, que alegria ouvir as "carvoeiras" vindas da concertina tão bem tocada pelo Carlos, pelo Fernando e mais acima, a caminho da serra, parar para ouvir o Rui e o Zé a ensaiar para o espectáculo logo à noitinha...e tantas coisas boas encontro por essas calçadas.
       Agora que há quase tudo, mesmo assim com quase tudo, ainda falta o essencial, o mais importante de cultivar, o amor.
       Vou continuar à espera do envio de notícias da minha aldeia.
        Continuação de um ano bom.
                                                                     José Nunes Martins


   

30.11.21

O DIABO QUE OS CARREGUE

 

 

Caiu e nunca o levantaram


 
 Hoje vou relatar-vos o que tenho visto pela nossa aldeia. Em Agosto e Setembro tive a oportunidade de percorrer todo o concelho do Sabugal, tendo visitado vários lugares e sítios, castelos e igrejas, restaurantes e cafés, artesãos e outras pessoas que diariamente trabalham neste nosso canto português.
   A aldeia onde eu nasci e que visito várias vezes durante o ano, está a caminhar para o precipício e cuja queda trará danos difíceis de reparar, isto se houver quem os repare. A cada ano que passa, as mudanças são cada vez mais preocupantes e em nada contribuem para a tomada de consciência do caminho que estamos a percorrer, pois mesmo com os avisos que nos são diariamente dados, existe uma total despreocupação e falta de planos para salvar a nossa aldeia da sua agonia e da sua morte.
   Andar pela aldeia e olhar à nossa volta, preocupa-me o enorme número de habitações de janelas e portas fechadas. Casas relativamente recentes e que aparentam ter boas condições de habitabilidade, onde se gastaram muitos milhares de euros, com boa garagem, dois pisos e muitas com três e águas-furtadas. Sinais mais que evidentes daquelas famílias um dia ocuparem toda a casa. Mas isso só acontece uma vez por ano e durante três ou quatro semanas, no mês das férias. Tantos sacrifícios e tanto querer construir uma casa para toda a família, para todos se sentirem agradecidos e poder mostrar o que os anos lá fora lhes permitiu ganhar, para agora responder à pergunta impensável: valeu a pena?
   Em Malcata, as ruas mantêm-se mais ou menos limpas, mas em algumas estou cansado de ver montes de areão e pedras à espera de transporte para um lugar mais útil. Aquele terreno no entroncamento da Rua da Moita com a Rua da Barreirinha, podia estar mais apresentável e não continuar ali um amontoado de pedras e terra dos restos da derrocada. Se a uns obrigaram a segurar as paredes, a outros ignora-se o estado de abandono. Não está certo e também quando limparem as ruas, preocupem-se na remoção do lixo, das areias e caso haja necessidade, façam uso da caixa aberta das viaturas da autarquia.
   Malcata é uma aldeia que me afeiçoei facilmente e quando eu nasci, vivia-se com menos dinheiro, com menos conforto, sem electricidade e sem água canalizada em casa. Tinha sim, pessoas e algumas delas trabalhavam bem quando se tratava de servir o povo e eram pessoas com objectivos e grandes sonhadores. Quando tinham uma dificuldade, um problema, uma necessidade, reuniam-se e decidiam o que fazer para continuar a vida sem esses contratempos. E que grandes obreiros, desde água para todos, uma torre com um relógio que dá horas a todos, uma escola primária, uma igreja e uma capela, uma estrada e posto de correio, moinhos de água e fornos de cozer pão. Viesse quem viesse, se a freguesia estava em causa, batiam o pé, exigiam e faziam.
   Hoje a aldeia está diferente, muito diferente da minha aldeia quando eu nasci. O dinheiro ajudou a fazer boas casas, mas também serviu para construir autênticas aberrações e a reconstruir sem regras. Não se aprendeu quase nada e o ter dinheiro não é sinal de ser cidadão respeitador da história, da tradição e da vizinhança comum.  
Continua... 

30.6.21

MALCATA: O QUE É PRECISO PARA SER MALCATENHO?

    




                                    


   Já gostei mais de ir à minha aldeia. As últimas vezes tenho vindo de lá com vontade de não voltar tão cedo. Era costume nas vésperas da ida andar entusiasmado e ansioso por chegar o dia da viagem. E depois de lá estar, não me apetecia pensar no dia do regresso à cidade. Agora, basta uns dias na terra e na casa onde nasci para ter vontade de meter tudo na carrinha vermelha e não voltar.

   É estranho este sentimento e tenho andado a reflectir nas causas que estão a influenciar este afastamento e distanciamento. É verdade que não gosto de muitas situações com que me deparo quando estou na aldeia. Entristeço-me quando caminho por algumas ruas e reparo no número de casas vazias, com telhados podres e telhas partidas, outras têm janelas de madeira sem vidros, portas de madeira entre-abertas e com um monte de pedras que não deixam sequer entrar na loja. O perigo maior vem dos beirais dos telhados mais antigos, onde as telhas e lascas podem deslocar-se e colocar em perigo a segurança de animais e pessoas que ali passam. E que tristeza me dá olhar para as borradas cinzentas para segurar as pedras de xisto ou substituir telha antiga por chapas vermelhas, que protegem a casa da chuva, mas de belo nada têm. Talvez por isso lhes chamam
“subtelha sandwich”, tipo comida rápida, chamada de “comida de plástico”, muitos gostam e outros dispensam, preferindo produto original, da região, feita de bom barro e não de chapa pintada.
   São estas coisas que me entristecem. E outras coisas parecidas a estas, que por serem antigas, quando é para mexer nelas, escolhem o modo mais fácil e mais rápido. É deles e os donos é que sabem, são eles que escolhem e decidem como querem fazer a reparação, a substituição do telhado, da porta ou segurar as paredes barrigudas. E se é para fazer, então quanto mais depressa e mais económico melhor.    E eu, nascido na aldeia e com mentalidade de cidade, digo a minha opinião, escrevo, publico fotografias, pergunto, critico e sugiro alternativas.
   Uns aplaudem, outros mandam bocas quando passo na rua e juntam-se aos que se acham donos de tudo e da aldeia. Mesmo que eu tenha liberdade de pensar e escrever, dizem que me devo calar, deixar andar, não me incomodar com o que os outros fazem, deixá-los andar já que não é da minha conta e responsabilidade.
   É por estas afirmações que já me começo a sentir estrangeiro na aldeia onde nasci e vivi, que também foi onde viveram os meus pais. Quando me dizem que eu “já não és de cá, és do Porto, vai mas é para a tua terra”, ou “só prejudicas a terra, não gostas disto”, “olha, tudo o que dizes a mim entra a 100 e sai a 1000”, ou esta assim “quando tu nasceste, eu já comia feijão! A ti já eu te conheço!”
   Serei o único a ser assim tratado ou existem por aí mais pessoas assim?
   É que se eu for o único, o indesejado e inimigo da aldeia, considerado assim por escrever o que penso, sinto e falo à cerca das ruas, das casas, da água, da luz, das calçadas, das fontes, das rampas, das praias e das piscinas, das multas e das obras, das festas e do passado, do presente e do futuro...se me demonstrarem que eu sou o único a pensar assim, só me resta uma escolha, mesmo que difícil. Primeiro que tudo quero que me digam claramente se vivem no paraíso e eu sou aquele “diabo” que gosta de inventar e fomentar divisões, mal-entendidos e guerras. Quando uma pessoa é hostilizada e marcada como inimiga e má pessoa e no seu íntimo ela se sentir bem consigo mesma e com Deus, o que fazer então?

                                                                     
José Nunes Martins


30.3.21

MALCATA: A PÁSCOA DAS MATRACAS E MARTÍRIOS

 

  




   Quando tenho saudades de um sítio é porque em algum momento da minha vida lá estive e vivi experiências boas e marcantes. Esta é uma das minhas crenças em acreditar que se deve voltar aos lugares onde já me senti bem.
   Malcata é para mim um desses lugares e portanto, sei que logo que possa, irei voltar. Para já e enquanto a pandemia nos condicionar as viagens e nos aprisionar em casa, resta-me apenas recordar alguns desses momentos bem vividos por terra beirã. Já que o confinamento não me deixa regressar à aldeia, faz todo o sentido partilhar aqui algumas memórias vividas noutras épocas pascais. Sabem que isto do Covid 19 está difícil de estar resolvido e nada como dar a volta por cima e aproveitar bem o tempo. Parar e reflectir sobre o Mundo, a Vida, a Morte, o Sabugal, a nossa terra, pode bem ajudar a passar o nosso tempo.
   Sei que muitos de nós estamos mortinhos para andar em total liberdade. A Páscoa este ano está a ser complicado para muitas pessoas. Entrámos na Semana Santa e tudo está parado, diferente, não se vão realizar procissões e este ano não vou com outro malcatenho percorrer as ruas da aldeia a tocar campainha.
   Mas mesmo assim, caminhamos para o domingo da Ressurreição. E o que importa é como que cada um de nós vamos viver a Páscoa. Como vamos viver hoje, este ano, a festa sem festa? A tradição já não está a ser como era e de ano para ano há sempre mudanças, mas a fé mantém-se.
   Vamos imaginar que este ano Cristo foi a Malcata celebrar a Páscoa. Que esperam que Ele diga e que Ele faça de diferente? Irá juntar-se ao coro das vozes femininas e cantar os martírios ou a encomendar as almas?
                                      
   

16.11.20

MALCATA: A ALDEIA DA MINHA INFÂNCIA

 

  

Malcata antes da barragem



 
Lembro-me de quando era criança, Malcata era o Mundo. Vivi até aos meus onze anos na aldeia onde havia uma escola, duas professoras que ensinavam a escrever, a ler e a fazer contas. Havia uma igreja com um campanário, três tabernas, dois comércios e duas fontes. As ruas eram estreitas, com o chão em pedras lisas e outras em terra barrenta que se transformavam em lama quando chovia no Inverno. Havia um rio (ribeira) onde cresciam trutas e barbos, moinhos que moíam o grão e moleiros que entregavam as talegas de farinha aos seus donos. Era nas suas águas que se aprendia a nadar e as mulheres lavavam as roupas sujas.
  Quando era criança, na minha aldeia havia um ferrador, um albardeiro, um sapateiro que também era moleiro, um carpinteiro e um barbeiro.  
  Quando eu era criança as casas da aldeia eram mais pequenas, mais frias e com as paredes muito grossas e em pedra de xisto, telhados com telha de barro de um cano. Eram simples, mas cheias de vida humana e animal. As vacas, os burros e as cabras ocupavam a loja, as capoeiras tinham galinhas e ovo e de noite entravam através dum buraco para a loja, onde já havia as coelheiras. O piso por cima da loja acomodava as pessoas da família. Era a cozinha, a sala e os quartos de dormir.
  Quando eu era criança a minha mãe levava-me ao médico sempre que estava a precisar. E a minha mãe, quando o médico receitava injecções, não ficava nada preocupada porque sabia que o Ti Varandas se prontificava a dá-las até acabar a caixa que o doutor receitava. A única maçada era ir à noite ao comércio e dizer à Ti Deolinda ao que ia e esperar a vez.
  Quando eu era criança...
 

 

 

 

 

 

 

9.9.19

MALCATA: UMA ALDEIA POR DESCOBRIR


  

   A freguesia de Malcata fica situada no sopé da Serra da Malcata, no concelho do Sabugal e integra a área da Reserva Natural da Serra da Malcata.
   Tal como as outras aldeias à sua volta, a aldeia é habitada maioritariamente por pessoas de idade avançada. Mesmo ou por causa dessa realidade, há 24 anos que abriu as suas portas o Lar da freguesia, sob a responsabilidade da Associação de Solidariedade Social de Malcata. Há também em plena actividade a Associação Cultural e Desportiva de Malcata, a Associação de Caça e Pesca, a Associação Malcata Com Futuro e também a Fábrica da Igreja.
   A Escola Primária que existia acabou por encerrar, por escassez de crianças em idade escolar, tendo acontecido o mesmo à Creche.
   Em Malcata não se passa fome e cada família possui ainda a sua pequena horta ou quintal e cultiva parte dos produtos com que se alimenta. Com a debandada para terras de França, Argentina e as grandes cidades de Portugal, restam aqueles que nunca quiseram sair e os mais velhos, muitos deles regressados doutras terras por onde passaram a vida a trabalhar e a fazer pela vida.
   O que é que Malcata tem para oferecer a quem aqui vier?
   Quais os pontos ou lugares que, pelo interesse e beleza natural, devem ser dados a conhecer?
   O ar, todos sabemos que é de qualidade superior e é um ar respirável, faz bem e é sem dúvida um recurso natural que nos deixa felizes e satisfeitos. Quem não gosta de encher os pulmões com o ar que se respira por aqui?
   Alojamento local existe um em pleno funcionamento. A Casa das Camélias, ali ao fundo na Rua de Baixo, na zona mais antiga do povoado actual, tem feito e bem as honras da aldeia e desde que D.Ximenes Belo ali se hospedou, já muitos outros ali pernoitaram e descansaram.
   O silêncio e a escuridão voltaram após o fim de Agosto. Tudo voltou à normalidade e ao seu lugar. Aquele mês é um tempo sem tempo para nada e todos querem tudo. Os emigrantes tomam conta da aldeia e a alegria, a festa, a música, as motos e carros põem em alerta os avós que não tiram os olhos dos queridos netos que brincam em todo o lado.
   Este ano o mês de Agosto já passou e Setembro vai quase a meio.
   Este ano, pelas notícias dos jornais e televisão ainda continua a sentir-se e a ouvir-se muito falar de Malcata, da água e da falta dela.
   Ouviram as vozes trazidas pelos ventos?
   Que mensagem nos trouxeram?
   Ainda há gente que é amiga, que avisa e nos diz que a decisão é nossa, é tua, é minha e todos juntos alcançaremos maior número de vitórias.
                                                                                                   José Nunes Martins

15.8.19

AFINAL PARA QUE SERVE A INTERNET EM MALCATA ?


Página oficial da J.F.Malcata em 15-08-2019


Página oficial da J.F.M. em 15-08-2019





   A Internet está a contribuir para aproximar as pessoas, dá-lhes a oportunidade de manifestar publicamente a sua opinião.
  Numa comunidade rural como a da nossa aldeia, somos em número reduzido os que não se conhecem e que ainda não aprendemos, na opinião de outros, o normal funcionamento das coisas. Uma coisa anormal para mim, é normal para quem sempre vivei na nossa terra e fim de conversa.
   Eu penso que um dos papéis importantes que cabe a uma junta de freguesia está relacionado com as relações humanas com os seus fregueses. Um bom relacionamento é, por exemplo, um esclarecimento de dúvidas de uma forma rápida e eficiente. E a internet serve esse propósito através da informação existente na página digital que a junta de freguesia possui. Esta página deverá evitar que o cidadão tenha que se deslocar fisicamente ao edifício da sede da junta e desde casa, esteja ele na aldeia ou em França, tenha forma de estabelecer uma comunicação digital rápida, segura e fidedigna.
   Ao consultar a página oficial da junta de freguesia verifico que existe muita informação desactualizada, janelas sem qualquer assunto para ler, funcionalidades sem qualquer utilidade porque nunca foram dotadas de qualquer conteúdo.
   Também a página oficial da nossa freguesia sofre da mesma doença e da mesma inércia. A falta de informação útil e importante para facilitar a vida dos cidadãos dá lugar e espaço a fotografias de eventos realizados ou a realizar no concelho, na freguesia e fazer o mesmo após a sua realização.
   Pergunto a mim mesmo se a vida da freguesia está resumida a estas actividades?   Se há mais actividades e mais obra, porque não aparece?   
   Há muito para fazer na nossa freguesia. Não sinto e não vejo vontade e ânimo nas pessoas para melhorar, mas sinto que cada vez mais desaparecem as vozes reivindicativas, chutando a bola para o lado da junta de freguesia.
   O povo costuma falar que “só os burros mão mudam de opinião”.
   Então, que seja eu o burro que exige melhor comida na manjedoura. 
                                                  
                                            José Nunes Martins


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